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A Entrevista – Diogo Morgado

David Soldado
13 min leitura

Diogo Morgado está de regresso, três anos depois, à televisão portuguesa. Agora como protagonista da novela Ouro Verde, o ator interpreta Jorge Monforte, uma personagem dúbia que nem é «bom nem mau». As circunstâncias da vida levaram-no a ser «negro», razão que colocará em causa a sua sede de vingança contra o banqueiro Miguel Ferreira da Fonseca [Luís Esparteiro], responsável pela morte dos seus pais. «A dada altura é possível que os telespectadores torçam pelo vilão da novela», esclarece Diogo Morgado ao A Televisão

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Estás de volta à televisão portuguesa com a novela Ouro Verde. Este novo projeto é uma «espécie» de Vingança 2 ou nada tem a ver com a novela que fizeste para a SIC, em 2006?

Tudo o que se possa fazer com o tema de vingança poderá soar a semelhante.

As duas novelas, aliás, contam com o mesmo protagonista. 

É a Vingança 2 [risos]. Ouro Verde não tem rigorosamente nada a ver com a novela Vingança. De facto ambas têm a temática de vingança que é bastante forte mas aqui há uma desgraça que nada tem a ver com o que aconteceu na Vingança. Essa desgraça que falo transforma a personagem ao ponto dele ficar obsessivo em se vingar. O que me atrai bastante nesta questão da vingança é que levanta sempre a questão dúbia “O que é que tu farias se estivesses no lugar dele?”. Nós dizemos “Nunca faríamos isto e aquilo” e isso não é verdade porque se estivéssemos em algumas circunstâncias dele se calhar faríamos até pior. A desgraça traz à tona a nossa verdadeira natureza que não é a mais elegante de todas. E isso para mim entusiasma-me muito enquanto contador de histórias.

Já vi que defendes a tua personagem com unhas e dentes. Como defines o Jorge Monforte

É sempre difícil falar do meu próprio trabalho mas, acho, que consigo distanciar e perceber que há ali um homem que lhe acontece uma tragédia e o transforma num outro tipo com uma outra atitude. O Jorge Monforte é uma pessoa pesada e negra. Durante muito tempo ninguém vai saber que ele é na verdade o Zé Maria e que, por isso, está sob falsa identidade.

A personagem «negra» como tu dizes ainda está a ser construída ou o Jorge Monforte já tem a sua personalidade vincada na tua cabeça? 

Desde o início que a coisa tem estado muito clara na minha cabeça. Eu queria que o Zé Maria fosse um bocadinho beto no sentido de ser miúdo com posses mas descompromissado da vida. Ele tem uma família muito estável, a vida corre-lhe bem mas de repente as coisas viram-se ao contrário. Ele torna-se num tipo negro com modos e formas de agir muito questionáveis.

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Os portugueses vão questionar essa dúbia forma de agir? 

Vão! A ideia é exatamente essa. As pessoas vão torcer muito pelo Zé Maria mas na altura em que ele se apresenta como Jorge Monforte vão questionar-se até onde vai a sua sede de vingança e aquilo que é capaz de fazer para concretizar o que quer.

Os fins justificam os meios? 

Isso é sempre muito questionável. Em Ouro Verde, o meu trabalho é tentar fugir do óbvio. A personagem inicial tem de ser muito direta, ou seja, é o que é. Já o Jorge Monforte é mais complexo e é aí que vem o meu trabalho.  É a manipulação e a mentira sob mentira. Quando tu fazes a mentira à séria, tu não fazes ideia do que vai na cabeça dele. O gajo diz que ama mas depois saí com um “Podes despachar, podes matar”. É isso que vai meter as pessoas, espero eu, de bicos de pé.

Ainda vamos ver um Jorge Monforte «mais odiado» que o próprio vilão da história? 

[risos] Eu posso dizer que a uma dada altura é possível que isso aconteça. As coisas vão subverter-se, completamente. Vais encontrar um Luís Esparteiro a fazer um crápula que tem situações em que tu dizes depois “Não é mau de todo”. O Jorge Monforte vem com a força toda mas chega a uma altura que vais dizer “Calma, também não é assim”.

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Ouro Verde é o projeto ideal para regressares à ficção portuguesa? 

É! Eu confesso que queria fazer uma novela em Portugal há já algum tempo mas ainda não tinha encontrado o projeto certo. Ouro Verde entusiasmou-me muito desde a primeira leitura e abordagem.

Foi difícil o namoro entre ti e a TVI?

Não foi nada difícil porque para mim não houve namoro nenhum. Se o Ouro Verde tivesse na RTP 2 eu faria. A guerra das estações de televisão é completamente indiferente para mim. Eu gosto de surpreender as pessoas que ficam aborrecidas quando saltas de novela para novela. É sempre a mesma coisa. São sempre os mesmos tipos a fazer o mesmo género. Seja de que forma for, eu gosto que as pessoas sintam e digam “Não estava nada à espera que tu fizesses isso”.

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O que é que esta novela difere de todas as outras já feitas em Portugal? 

Eu sinto que a autora pega nos elementos que mais funcionam em novela e levam-os ao máximo. Uma novela que não tenha um instinto primário, um sentimento de raiva ou um amor louco não funciona. A Maria João Costa tem feito um trabalho fenomenal, arrisca bastante e é audaz nesse aspecto. O elenco é muito forte e está dedicado a 100% a esta novela.

Vamos ver um Diogo Morgado diferente daquilo que já vimos no passado? 

Esta minha personagem tem muito por onde explorar e, ainda, um aspecto técnico que não posso revelar qual é mas que nunca foi feito em Portugal nas novelas. É arriscado fazer e só isso me deixa muito entusiasmado.

Como é que foi regressar ao ritmo intenso de gravações?

Eu estou preparado. É um exagero o exemplo que vou dar mas é como um atleta de alta competição que faz uma prova fisicamente difícil e que até faz razoavelmente bem e depois pára e deixa de fazer. Faz outro tipo de coisas mas fica sempre naquela de “Será que consigo voltar aquele ritmo?”. Tu, enquanto ator, tens de gravar muitas cenas, de as fazer muito bem e em muito pouco tempo. Isso não é pêra doce.

Quando surgiu a notícia do teu regresso à TVI as pessoas ficaram expectantes porque já tinham saudades de ver-te na televisão portuguesa. Sentiste isso?  

Nas redes sociais, claro, mas é um bocado suspeito porque quem me segue são pessoas que gostam daquilo que eu partilho e faço [Risos].

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O que é que te levou a escrever aquele «post» no Facebook a propósito da tua saída da SIC para a concorrência? [Carrega aqui]

Senti-me mal com um comentário vindo da parte de uma estação da qual tenho muito orgulho de ter servido durante muitos anos e que publicamente orgulho-me na história que tive com ela. Eu estava preparado para qualquer outro comentário vindo de outro lado, dali senti-me um bocadinho mal e, talvez, por isso senti necessidade de falar com as pessoas.

Foi esclarecido também que não encheste os bolsos à custa da SIC durante o período em que estiveste nos EUA.

Eu requisitei à SIC para me deixarem de pagar e isso aconteceu mesmo. Por isso é que me senti mal e tive necessidade de o dizer. É estranho que o dito comentário fosse nesse sentido quando a pessoa seguramente sabia que a realidade era completamente outra e como vês ninguém da SIC veio desmentir.

Gabriela Sobral demonstrou uma certa mágoa à imprensa porque surgiu a oportunidade de integrares o elenco de uma «próxima novela da SIC» mas preferiste, ainda assim, ir para a TVI. O que tens a dizer? 

Ela pode ficar com a mágoa que quiser, até porque está no direito dela. O meu objetivo enquanto ator não é integrar elencos, mas sim fazer o melhor projeto que eu sinto que possa fazer. O que estava a acontecer na SIC é que eu não me sentia desafiado com os projetos apresentados. Foi por isso que requisitei à SIC que me suspendessem [o pagamento], mesmo com contrato. Não posso ser mais claro do que isto mas se Ouro Verde tivesse vindo da SIC eu teria ficado na SIC.

Sentes que as pessoas perceberam a tua decisão? 

Acho que sim. Independentemente dos canais, as pessoas vêem os projetos. Se a história for boa, se interessar e se for visualmente apelativa, as pessoas vão ver seja na 2, na 3 ou na 4.

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Este regresso à TVI não se traduz num contrato de exclusividade? 

Não

Estás, por isso, recetivo ao mercado? 

Aos projetos! Vou fazer 36 anos em janeiro e a minha obrigação é fazer bons projetos e não integrar elencos. Acho que isto diz tudo. Eu sinto tanto carinho por parte do público português que me senti em dívida de fazer alguma coisa no meu país, até porque estive praticamente três anos a fazer coisas lá fora. Eu não queria fazer algo em Portugal só por dizer que fazia. Queria sim algo que dissesse “Lá está o gajo com sangue na guelra”. As pessoas nunca vão poder olhar para o Ouro Verde e dizer que eu não dei tudo de mim. Pode não resultar mas com isso eu durmo descansado.

Muitos gostavam de ter essa liberdade de escolha.

Eu criei essa liberdade. É o resultado de anos. Tenho a sorte de fazer o que amo. Costuma-se dizer que para ter sorte tem de se estar à espera quando batem à porta. Uns estão distraídos a fazer outras coisas e depois quando se bate à porta não estão lá para abrir. A sorte dá muito trabalho.

Um contrato de exclusividade faz sentido na tua vida?

Cada vez menos. Dou o exemplo do Malapata que foi o filme que eu realizei agora. Acho que o meu futuro passa cada vez mais por isso, ou seja, ser um contador de histórias. Se elas não me vierem parar à mesa vou ter de as fazer ou ir buscar alguém que as escrevam para produzi-las. Posso até nem entrar mas o meu prazer sairá daí.

Hoje em dia, o que é que te desafia mais? 

O que me entusiasma é contar histórias, é de repente pôr personagens em situações inusitadas, é ter o gozo de ver as pessoas em casa a pensar “Aquele gajo é bom, aquele é mau, mas o gajo é bom ou mau?”. Eu acabei de realizar uma longa-metragem com o Rui Unas e o Marco Horácio [Malapata] onde não entrei no ecrã mas vibrei tanto como se estivesse.

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Redactor.