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A Entrevista – D8

A Televisão
17 min leitura

Destaque2 D8 A Entrevista - D8

Ele é a prova que a vitória não vem sempre associada ao número 1. Entrou como Diogo Valente e quase não passava da fase de audições do Factor X, agora o D8 já tem um álbum em seu nome e muito a agradecer àqueles que acreditaram no seu sonho. Prefácio é o primeiro trabalho discográfico e contém o lado mais sincero, mais verídico do Diogo, mas também as suas opiniões, os seus pensamentos e o seu lado mais ingénuo. O A Televisão sentou-se à conversa com o «puto» que nos últimos anos cresceu para além dos anos que ainda não tem. Junta-te a nós e descobre as filosofias de sucesso do novo nome do hip hop português.

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17 anos e já com essa profundidade na escrita, essa maturidade, esse discurso, essa fluência. O que é que faz de ti um «puto» tão adulto?

Eu acho que sou um adolescente normal e penso como qualquer adolescente normal. Só que se calhar as influências que eu tive (quer da minha vida, quer das coisas que vi e das coisas que ouvi) deram-me essa sensibilidade. Em vez de desabafar com pessoas, eu desabafo no papel. Se calhar por isso é que é tão profundo, ou tão sincero ou tão genuíno. Não existe um talento em especial ou uma maturidade especial. Eu abro-me completamente ao papel e digo aquilo que acho. E mesmo um puto de 12 anos, quando se abre completamente para o psicólogo, ele é extremamente sincero e profundo naquilo que diz, nas suas convicções.

Tudo começou com uma batalha de rimas na escola. Foi a partir daí que sentiste que o RAP seria o teu caminho?

Foi a partir daí que eu despertei para esse estilo de música. Comecei a ouvir RAP, comecei a decorar algumas letras de alguns cantores de RAP e a cena foi crescendo. Até que houve uma altura em que eu disse «quero fazer isto para o resto da minha vida».

Achas que o estigma de que o RAP é música ligada à delinquência está a acabar?

Eu acho que sim. Nós no RAP costumamos dizer que a nova escola está a trazer coisas bastantes diferentes do que eram antigamente, e bastante mais abrangentes. Hoje em dia é muito fácil encontrar um rapper que não tem nada a ver com deliquência, é muito fácil encontrar um advogado a ouvir RAP. O estigma de que o RAP é só para delinquentes ou é só para marginais já está a passar. Aliás, também as rádios deram um grande apoio a isso. A televisão também começou a divulgar mais rappers. Claro que existe o RAP mais underground, mais delinquente, mas é apenas um tipo de RAP.

Tu sofreste com esse estigma?

Não, porque é assim: não sei se te recordas do meu trajeto, mas a primeira música que eu cantei original minha foi uma música dedicada à minha avó [no Factor X]. Acho que a partir daí, mesmo sendo rapper, as pessoas não me viram como um marginal; viram-me como um miúdo que estava a exprimir aquilo que sentia, pela mulher da vida dele. Portanto, eu não posso dizer que sofri muito com esse estigma. Graças a Deus, ainda tenho pessoas com 8 anos e pessoas com 80 anos, que são meus fãs e apoiam imenso o meu trabalho. Deve haver outros artistas de RAP que sofrem com isso, mas eu falo por mim. Não sofro muito com isso.

Sempre tiveste muito orgulho em falar na tua família. Nem todos os jovens são assim…

Eu acho que cada jovem deve dizer aquilo que entende sobre a sua família, ou ocultar aquilo que entende sobre a sua família. Sempre demonstrei muito carinho e muito respeito pela minha família, porque acho que o deveria fazer. E acho que as pessoas que tomaram conta de mim o merecem. Agora, se há outros adolescentes que não o fazem, isso já tem a ver com a vida deles e com as escolhas deles, e de certeza que devem ter um motivo (mais forte ou mais fraco) para o fazer. São escolhas.

Foi a tua avó que te levou a gostar de poemas e rimas?

Eu era mesmo muito miúdo, ainda nem sabia ler nem escrever, e a minha avó fazia poemas (porque a minha avó gosta muito de poesia). E então, a sonoridade encantava-me imenso na altura e eu não sabia bem porquê. Achava imensa piada, gostava bastante e pedia para me recitar poemas.

Porque é que decidiste concorrer ao Factor X?

Eu apostei que iria conseguir levar o RAP a um programa de televisão. Ou seja, um amigo meu abordou-me com a possibilidade. «Então, vai com o RAP a um programa» e eu «RAP não passa!». E ele «Anda lá, anda lá…», naquela de gozo, e eu «Ai é? Então vou fazer passar o RAP». E apostámos isso. Depois ganhei a aposta [risos].

E ganhaste com muita teimosia e persistência.

Eu sou muito persistente e teimoso. Quando tenho a minha opinião, vou com a minha opinião até ao fim, mas sempre a ouvir a opinião das outras pessoas. E a menos que me dêem uma prova muito concreta em contrário, eu vou sempre com ela até ao fim.

Passaste um mau bocado para te impores?

Isso depende muito das perspetivas. Há pessoas que não gostam de RAP… E na altura eu estava num programa de televisão, para um milhão e tal de pessoas, claro que havia de haver alturas que as pessoas já não queriam RAP. Mas eu nunca vi isso como um problema, nem nunca fiz disso um motivo para ficar chateado. Eu sempre fiz a minha cena, sempre fiz as minhas músicas e as minhas letras. Há pessoas que gostam e há outras que não gostam, e eu respeito imenso isso.

E se o Factor X tivesse sido um falhanço?

Eu não gosto de falar em «se». Se o Factor X tivesse sido um falhanço… não sei. Não foi! Como isso não aconteceu, não gosto de pensar nessa hipótese, porque não aconteceu. O que aconteceu é que consegui construir ainda mais a minha carreira. Estou aos poucos e poucos a construí-la ainda mais, e a chegar aonde eu quero mesmo chegar. E eu abordo é o que está a acontecer agora.

As audiências da segunda edição estão aquém das expetativas. Tens acompanhado o programa?

Eu tenho acompanhado pouco, sou sincero. De vez em quando vejo os episódios, mas trabalho muito durante a noite (tenho tido alguns compromissos em estúdio e estou a trabalhar para os concertos). Aquilo que eu acho que está a acontecer é que houve tantos programas de televisão durante um ano, que se calhar as pessoas perderam o interesse…

Justifica essa perda de interesse.

A opinião das pessoas, para mim é muito díficil de manejar, digamos assim. É sempre um tiro no escuro, a gente nunca sabe se as pessoas vão gostar ou não. Eu não consigo ter uma opinião bem formada para explicar o porquê de ter falhado ou o porquê de estar a falhar, ou o porquê de estar a acertar. Deve haver uma consequência, se calhar o exagero de talent shows. Não tenho argumentos para isso, não é o meu meio.

Prefácio, o teu álbum de estreia, naturalmente indica que teremos mais obra a seguir. O que é que podemos esperar deste teu novo trabalho?

O que podem esperar é um álbum que na minha opinião está bastante diversificado, ou seja, temos aqueles temas de amor, temos temas a falar de bullying, temos um tema a falar de como os filhos tratam os pais hoje em dia, temos temas a dizer que tu podes ser o que tu quiseres… Portanto, é um álbum que tem bastantes temas que o Diogo concorda e que o Diogo defende. Acima de tudo, é um álbum muito meu – muito genuíno, muito inocente. As pessoas vão ver um verdadeiro Diogo, ou D8, no disco.

A mensagem final que tu passas neste CD é: «Não vou dizer “Bem-vindos ao meu álbum”, mas sim dizer… “Bem-vindos à minha alma”». É a tua alma que está neste disco?

Sim, eu costumo dizer que a minha alma está naquela bolacha (não sei se conheces o termo). E dentro daquela bolacha está tudo aquilo que o D8 defende, tudo aquilo que o D8 luta e tudo aquilo que o D8 respira. Portanto, acho que essa frase reflete muito o que é que eu acho sobre o disco.

Qual é a canção com que te identificas mais?

Identifico-me com todas. Fui eu que escrevi todas. Todas relatam um bocado da minha vida, todas relatam a minha forma de ver a vida em determinados assuntos. Há uma ou outra que me tocam mais, claro, mas em geral identifico-me com todas.

O feedback tem sido positivo?

Sim, por acaso tenho recebido muito bom feedback, de pessoas que gostam de faixas que eu não pensava que iam gostar tanto; faixas que já tocaram numa ou noutra rádio que eu não pensei que tocassem. E está a ser uma coisa muito positiva. Na primeira semana entrámos para quarto [lugar]. Agora vamos ver nos concertos, como é que as pessoas reagem ao vivo (se cantam as letras ou não). Estou um bocado ansioso.

Tens a noção que hoje estás em ascensão, mas também podes ser uma estrela cadente?

Eu estou preparado para lutar sempre pela minha música até ao fim e lutar por aquilo que quero fazer. Eu sei que neste momento lançei o meu primeiro álbum, e até está a correr bem. Claro que as coisas não vão estar sempre no auge e eu não vou estar sempre onde estou, mas também não vou estar sempre mal. Tu, Eduardo, conheces mais artistas e sabes que há aquelas alturas em que há altos e baixos, mas a gente está aqui para lutar e para fazer com que o sol volte outra vez ao alto. E a verdade é que quando nós estamos mal, é quando nós aprendemos. Aprendemos com os erros!

Os teus amigos costumam dizer-te «Olha, vê lá, não te estragues…»?

Essas dicas do «Vê lá, não te estragues» por acaso até têm sido mais os meus fãs. Muitas vezes eu vejo pessoas na rua, quer mais velhas ou até mais novas, a dizerem: «Nunca percas a tua humildade! Adoro o facto de tu seres tão genuíno e tão sincero». E até as pessoas que trabalham comigo (o Junqueiro e o Emerson, meu manager) e a minha avó e a minha mãe vincam-me bastante isso do «Tu chegaste até aqui também pela tua humildade e pela tua forma de ser e ver as coisas. Não mudes isso, porque vais perder tudo aquilo que tu és». Portanto, não é só dos meus amigos, também sim de todas as pessoas que andam à minha volta, todas as pessoas que andam no meu mundo, basicamente.

O apoio do Paulo Junqueiro tem sido muito importante nesta jornada?

Sim, o apoio do Paulo e do Emerson tem sido bastante importante. São duas pessoas que não são da minha família, mas é como se fossem, que me apoiam bastante e que me fazem ter força para continuar, e me fazem ter garra para que as coisas aconteçam. Defendem-me até ao fim para que a música seja verdadeira e seja sentida.

Que conselhos darias a jovens como tu que estejam a dar os primeiros passos na música?

Os conselhos que eu daria é que sejam sempre eles próprios e que mantenham sempre a sua personalidade, quer seja mais humilde, quer seja mais artística. Se eles chegam a algum lado é pela personalidade deles, não é só pela música. Claro que o talento também é importante, claro que a música é importante, mas a tua forma de ser e as pessoas com que tu te rodeias é que fazem a tua carreira. Luta sempre pela tua cena, mas escolhe duas ou três pessoas em quem confies plenamente a tua carreira, porque essas pessoas vão dar o máximo por ti. E se essas pessoas gostarem de ti e da tua carreira, vão defendê-la ao máximo e vão querer que tu estejas no auge. É esse o conselho que eu dou: rodeia-te das pessoas certas e aprende a ouvir.

Fazendo agora referência ao teu single de estreia, é mesmo verdade: podemos ser o que nós quisermos?

Eu acho que a música responde a isso. O que eu defendo com o disco, e com a música, é que não interessa se és aluno e artista ao mesmo tempo, não interessa se trabalhas num bar e à noite vais para o clube de futebol (porque o teu sonho é ser futebolista), não interessa se tu trabalhas nos transportes públicos mas o teu sonho é ser ator ou atriz. Tu podes ser o que tu quiseres, desde que lutes, desde que acredites, desde que tu tenhas esse feeling e essa vibe, porque a lei da atração eu acho que existe. E se tiveres um bom feeling e acreditares mesmo, isso um dia acaba por acontecer.

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