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A Entrevista – Catarina Gouveia

A Televisão
13 min leitura

A Entrevista - Catarina Gouveia

É atriz, tem 26 anos e estreou-se no mundo da representação em Morangos com Açúcar. A psicologia era a sua ambição profissional, mas a paixão pela representação acabou por falar mais alto. Apesar de já ter integrado o elenco de outras produções, foi em Destinos Cruzados que teve o seu papel de maior destaque, como Beatriz. Hoje, a «menina mulher» que continua a sonhar e que não acreditava que continuaria a ser atriz, revela que foi, para si, uma honra ter como colegas de trabalho grandes nomes da representação  e que a sua maior ambição é ser feliz.

Quem é a Catarina?

É uma menina mulher. Lutadora, sonhadora e acima de tudo, concentrada nos aspectos positivos da sua vida, de forma a não se distrair da sua maior ambição: a felicidade.

O querer ser atriz foi algo que sempre quis ou surgiu com o tempo?

De facto, a arte de interpretar e de representar, fazem, desde muito cedo, parte das minhas grandes paixões. Na escola, fazia do palco, principalmente nas épocas festivas, a minha sala de aula. Depois, na minha adolescência, tive a oportunidade de integrar um grupo de teatro amador, que animava os eventos regionais da minha cidade. Apesar de não dedicar ao «Arte em Cena» (nome do grupo que carinhosamente, recordo), o tempo de que gostaria, uma vez que a escola era a minha grande prioridade, tive, com as experiências que lá vivi, a certeza da minha grande paixão.

Como é que surgiu a oportunidade de integrar o elenco dos Morangos com Açúcar?

Estava a estudar Psicologia na Universidade de Coimbra e paralelamente, trabalhava na área da moda e publicidade. Na altura, os casting´s faziam parte da rotina. Lembro-me perfeitamente, do dia frio que fazia, em Janeiro de 2009, quando a agência me ligou a informar-me da possibilidade de fazer um casting para a série de Verão, dos Morangos com Açúcar.

1 A Entrevista - Catarina Gouveia

Como é que recebeu a notícia de que tinha sido selecionada?

Fiquei muito ansiosa, estudei afincadamente o texto e fiz o casting. Entretanto, seguiu-se um workshop intensivo, que teve a duração de três meses e só depois é que tive a confirmação que iria integrar o projecto, com a personagem Fátima Besugo. Foi um dia de muitas emoções e é certo que o recordarei para sempre.

Como foi esse primeiro contacto com o mundo da TV?

Apesar de ter gravado apenas três meses, não fujo à regra, considero os Morangos uma grande experiência, jamais esquecerei. Foram meses de intensa aprendizagem profissional e acima de tudo, de aperfeiçoamento pessoal.

Foi uma boa escola?

Sem dúvida! Os meus primeiros passos foram dados, orgulhosamente, na escola Morangos com Açúcar.

Que recordações tem da Fátima Besugo?

Foi a primeira personagem que interpretei o que, por si só, a torna bastante especial. Uma vez que não coincidíamos caracteristicamente, tornou-se bastante desafiante. Todavia, com o suporte da direção de atores, dos realizadores e de toda a equipa técnica, conseguimos construir o que na altura, era pretendido.

2 A Entrevista - Catarina Gouveia

Logo depois, integrou o elenco de uma das mini séries da TVI, cujo o registo se aproximava muito do cinema. Como foi integrar a equipa de Destino Imortal?

Honestamente foi uma agradável surpresa. Na recta final das gravações (MCA), todo o elenco foi informado que nenhuma das personagens teria continuidade para a série seguinte. Mentalizei-me que, mais cedo ou mais tarde, teria que retomar os estudos na Universidade. A burocracia das inscrições já estava avançada, quando surgiu o irrecusável convite para a mini série Destino Imortal. Gravámos num espaço de tempo mais limitado, penso que foi gravada num mês. Para além de me ter permitido conhecer atores, cujo trabalho admiro, nomeadamente da Maria João Luís e Catarina Wallenstein, entre outros; gravámos noutro registo e «fugimos» ao tradicional método de realização.

Para uma atriz recém chegada ao mudo da representação, penso que tinha sido muito bom poder dar continuidade a algo que a faz feliz…

Faz-me muito feliz. De facto, nunca pensei que fosse possível a minha continuidade. A oferta que existe no mercado foi sempre um dos fatores que tive em conta.

Em 2010, participa na sua primeira novela. Foi fácil ambientar-se ao registo novela?

Quando nos cruzamos com profissionais altruístas e disponíveis, as dificuldades perdem forma. Foi um projeto enriquecedor, a todos os níveis.

Quais foram as principais diferenças que notou entre uma novela juvenil, como os Morangos, e uma novela de prime time?

Para mim, enquanto atriz, sem sombra de dúvida, os tempos de cena. Nos Morangos, habituamo-nos a um registo mais acelerado, não há pausas, não há tempo. Tenho consciência que, quando transitei, foi a minha grande dificuldade. Para além disso, é notória a qualidade das cenas. Há uma maior disponibilidade para discutirmos as emoções da cena, os tempos, as marcas, o texto, que é também, naturalmente, mais adulto.

O que achou da decisão de terminar com os Morangos?

Tudo tem um fim e compreendo que, com a diminuição das audiências, o fim da série tenha sido uma solução. Contudo, acredito que a série Morangos precisava mesmo era de se reinventar e não necessariamente, acabar.

Não acha que faz falta ao nosso país uma série como esta, que abria a porta a muitos talentos?

Acho que faz falta por várias razões. Não só pela grande escola de atores que se tornou, mas também, pelo desgosto que é para os miúdos que vibravam e continuariam a vibrar, com uma série juvenil.

A Catarina tem sido aposta da TVI. Que relação mantém com a estação?

Uma relação respeitosa e de muito carinho. É a estação à qual devo tudo, sem dúvida.

Em Destinos Cruzados, teve a oportunidade de contracenar com alguns dos nomes mais importantes da representação em Portugal. Como foi essa experiência?

Chegar ao projeto, com a minha curta experiência e perceber que teria ali meses de trabalho partilhados com os maiores nomes da ficção portuguesa, foi, como era de esperar, uma grande honra. Desde os ensaios de mesa até ao último dia de Destinos Cruzados, nunca deixei de ter consciência que, poder partilhar o plateau com Alexandra Lencastre, Virgílio Castelo, Sofia Alves, Pedro Lima, entre outros, era uma valiosa oportunidade de aprendizagem e, ao mesmo tempo, uma enorme responsabilidade.

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Quais foram as principais dificuldades que encontrou ao interpretar a Beatriz?

Neste projeto, e infelizmente ainda é muito pouco habitual em Portugal, houve uma construção de personagem que se processou durante três meses. Quando arrancámos oficialmente com o projecto, com os testes de imagem e ensaios de mesa, já levava uma personagem «com formas». Todavia, é de salientar que esta preparação não abafou, de todo, nem as dúvidas, nem as inseguranças que, naturalmente vão surgindo, à medida que vamos recebendo os episódios.

No entanto, senti alguma dificuldade nas cenas de discussão com o Eduardo, personagem do Pedro Lima. Numa segunda fase, ou seja, depois do casamento, as cenas eram muito fortes, com a raiva da Beatriz a predominar. Eu, Catarina, sempre que sentia raiva, tinha também, um sentimento de tristeza muito forte e acabava por sentir que essa tristeza estava a passar na expressão, sentia as lágrimas nos olhos. Ali, só queria/podia sentir e passar a raiva. Foi uma descoberta que envolveu, posteriormente, um trabalho emocional desafiante.

Até agora, esta foi a personagem com a carga dramática mais intensa que já representou. Como é que um ator gere estas emoções?

Tenho muita facilidade em desligar-me das emoções da personagem, não quero dizer com isto, que me desligo da personagem. Aliás, quando acabei de gravar, senti uma grande dificuldade em libertar-me dos gestos e da postura corporal que tinha criado para a Beatriz. Foi um processo consciente e que levou o seu tempo.

A meu ver, há uma ferramenta fundamental para que o nosso trabalho não se reflicta de forma negativa na nossa vida pessoal: o autoconhecimento. Através do autoconhecimento, conseguimos ter consciência das nossas emoções e, consequentemente, acabamos por adotar estratégias que impedem que as emoções negativas da personagem se revelem no nosso quotidiano. Ainda pouco se aborda sobre este tema mas, sem dúvida, que o desenvolvimento da nossa inteligência emocional é das ferramentas mais valiosas para nos salvaguardarmos.

Nesta profissão, o que mais a atrai?

O desafio e a diversidade. A construção da personagem e o desafio que implica. Quanto mais desafiante, maior é a exigência comigo mesma.

Como é que lida com o mediatismo que a sua profissão lhe proporciona?

De uma forma muito natural e sobretudo, saudável. Faço a minha vida normalmente.

7 A Entrevista - Catarina Gouveia

A fama tem um lado positivo e um negativo. Como é que se reage a notícias menos verdadeiras veiculadas pela dita «imprensa rosa»?

O foco é importante em qualquer circunstância mas é fundamental neste meio profissional. Considero-me uma pessoa verdadeiramente focada no seu trabalho, a minha preocupação é fazê-lo da melhor forma possível. Essas situações relativizam-se: «As coisas apenas valem pela importância que lhes damos».

5 A Entrevista - Catarina Gouveia

Que importância têm os fãs e o seu apoio na vinda de um artista?

Os fãs acabam por ser também, o reflexo do meu trabalho. Tenho um grande carinho e sobretudo, respeito, pelas pessoas que dedicam alguns minutos do seu tempo, a acompanhar o meu trabalho. A importância de um fã é tão grande como o talento de um artista: sem eles, não há história.

Que conselho deixa aos jovens que ambicionam fazer carreira na representação?

Trabalhem o vosso talento, lutem pelos vossos sonhos e invistam em vocês. As dificuldades vão aparecer, os obstáculos vão surgir… aprendam a fazer da paciência uma virtude. Posso estar enganada mas acredito que, quando damos o nosso melhor, nos esforçamos ao máximo, as oportunidades aparecem. Se não aparecerem, não se deixem desviar do vosso objetivo e mantenham-se focados.

Gostava de poder trabalhar no estrangeiro?

Gostava, principalmente pela oportunidade de crescimento que essas experiências proporcionam.

Acha que o nosso mercado é pequeno de mais para o número de atores que temos?

Para os projetos televisivos, considero que sim, que há muito atores e poucos projetos. Nesse sentido, o mercado é pequeno.

6 A Entrevista - Catarina Gouveia

Gosta do registo de televisão?

Sinto-me sempre muito entusiasmada quando gravo uma novela. Crio muitas expectativas em relação às cenas que se adivinham e é muito desafiante trabalhar todos os dias com a grande diversidade de cenas que uma novela proporciona.  Gosto de passar os fins de semana a resolver as cenas, de estudá-las em termos emocionais, de adequar as emoções certas à cena. Em televisão é este entusiasmo que me motiva.

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