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A Entrevista – Bruna Quintas

A Televisão
22 min leitura
Imagem: Facebook Bruna Quintas
Imagem: Facebook Bruna Quintas
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Começou a representar com 9 anos apenas e hoje, passados 7, dá vida a Rosário Milheiro numa novela de Horário Nobre. A Rosa de Morangos com Açúcar foi o seu primeiro grande trabalho, que fez as delícias dos mais jovens. Consciente do longo caminho que tem pela frente, Bruna Quintas diz-se uma «menina» realizada e muito feliz com as suas conquistas.

Se tiveres que te definir nalgumas palavras, quais escolherias?

Sou positiva e bem disposta.

Sempre quiseste ser atriz?

Eu sempre quis ser atriz, desde pequenina, mas como esta é uma profissão muito instável sempre pensei noutras hipóteses como médica legista, psicóloga ou ciência política. No fundo, tudo o que tivesse acesso às pessoas, porque eu gosto de chegar às pessoas e falar com elas.

12 A Entrevista - Bruna Quintas

Com apenas 16 anos já integraste o elenco de vários projetos de ficção. Sentes-te feliz com o teu percurso?

Sinto-me. Sinto-me feliz e sei que tenho ainda uma grande estrada pela frente, mas até agora tenho conseguido cumprir os meus objetivos e sinto-me bastante realizada.

Apesar de iniciares esta atividade noutros projetos, foi nos Morangos Com Açúcar que tiveste um papel de mais destaque. O que é que guardas desses tempos?

Os Morangos apanharam-me com 11/12 anos, que é naquela idade em que tu estás a dar aquela passo para a pré-adolescência e foi muito bom poder dá-lo rodeada de pessoas mais velhas porque fez com que eu ganhasse uma maturidade diferente. Guardo muito boas memórias. Foi um ano puxado, cansativo mas conheci pessoas extraordinárias, com quem ainda mantenho contacto… Foi muito bom!

Os Morangos foram uma boa escola?

Foi uma ótima escola!

13 A Entrevista - Bruna Quintas

O que achaste da decisão de terminar com a série? Achas que ficou um espaço vazio na nossa televisão?

Não. Eu lembro-me dos Morangos quando tinha 6 anos, por aí, e acho que agora está na altura de criarem novos projetos, porque as pessoas mudaram, a juventude está diferente, tem interesses diferentes e porque acho que a televisão tem de se adaptar às pessoas.

De facto os Morangos foi um projeto muito bom da TVI e se continuasse iria ter sucesso, com certeza, mas agora que acabou podem criar outro tipo de coisas.

Quais as diferenças entre a Bruna dos Morangos e a de hoje?

Uma Bruna mais crescida, mais madura, mais terra a terra. Este tempo que passou fez com que eu percebesse melhor as pessoas e que estivesse mais contida.

Para além da ficção, tens dado a cara por alguns anúncios publicitários. Gostas de trabalhar nesse registo?

Gosto. É muito engraçado, principalmente o da Moche, porque acho que é aquela publicidade de quem toda a gente fala e foi muito divertido de fazer.

11 A Entrevista - Bruna Quintas

Também participaste em curtas-metragens. Achas que é importante para um ator passar por vários registos de representação?

Claro que sim, é importante que as pessoas saibam que um ator não faz só televisão. O teatro e o cinema também fazem parte da nossa profissão e é bom aprendermos todos os registos. Acho que não pudemos pensar que já sabemos tudo, se não nunca mais vamos evoluir, vamos estagnar. Quando se ama realmente aquilo que se faz, gosta-se de aprender e fazer coisas novas e o teatro, para mim, foi uma experiência única.

14 A Entrevista - Bruna Quintas

Como é que concilias a vida académica com a representação? É fácil?

De facto é difícil, mas eu gosto. Gosto desse cansaço, de sentir que acabei de gravar 12 horas e depois pensar «agora bora lá para casa estudar». Isso para mim é bom. Eu sou uma pessoa que tem de estar sempre ocupada, ou a estudar ou a trabalhar e desde que comecei, felizmente, sempre tive trabalho, portanto já me habituei a essa rotina de estudar e trabalhar… Tem sido fácil. Agora estamos a chegar àquela altura em que já não se tem tanto tempo, as personagens que faço agora já não são as mesmas que fazia há algum tempo, já exigem muito mais de mim e portanto temos que conseguir arranjar um esquema para conciliar tudo.

É fácil ser-se atriz?

Não, eu acho que não.

10 A Entrevista - Bruna Quintas

O que é mais complicado?

A mim o que me custa mais são as pessoas. Por vezes as pessoas olham para nós de uma forma… sem nos conhecer já nos criticam e o termos que aguentar isso, que é algo que faz parte (eu não me queixo), é muito complicado. Aprendi muito rapidamente a lidar com isso, mas às vezes é chato.

O que mais te cativa nesta profissão? É o facto de poderes viver outras vidas, é o estar em estúdio…?

O facto de poder fazer coisas que, eu Bruna, não faria. Essa loucura.

O processo de decorar os textos, como é que fazes para o conseguir, uma vez que estamos a falar de várias páginas por dia?

Sou uma pessoa péssima para falar disso, porque eu tenho muita facilidade em fazê-lo e não tenho aquele método de ir para casa e ficar horas e horas a ler os episódios. Leio-os, estudo a minha personagem, mas tenho a facilidade de decorar o texto muito rapidamente.

15 A Entrevista - Bruna Quintas

Quando inicias um novo projeto, qual é o teu processo de preparação de personagem?

Primeiramente tivemos os ensaios e a minha preparação passou muito por aí, porque nessas semanas tudo o que me disseram eu assimilei e guardei. É mais um processo interior e de concentração do que propriamente estudar as pessoas, como muitos atores fazem.

Eu estou a falar da Rosário porque acho que foi, até agora, a personagem mais difícil. A ajuda dos diretores de atores é ótima, principalmente para mim, que sou muito nova. Tudo isto faz parte do processo.

Tem sido desafiante dar vida à Rosário?

Tem sido muito desafiante.

9 A Entrevista - Bruna Quintas

O que é que tens gostado mais?

Eu acho que é a loucura dela. Tu nunca sabes o que aquela miúda quer fazer, porque numa cena ela está bem e na outra a seguir já está a pensar nalguma coisa má. Esses momentos inconstantes dela são ótimos porque eu não sou assim.

Que feedback é que tens tido do público?

Tenho recebido um feedback positivo. Claro que as pessoas têm vontade de matar a Rosário, mas isso também é bom, porque é sinal que eu estou a fazer bem a personagem e estou a conseguir passar o pretendido às pessoas.

Lisbon Artists
Lisbon Artists

Alguma vez sentiste que o público confundiu a realidade com a ficção?

Eu já tive uma má experiência quando fiz Dancin’ Days. Não foi comigo diretamente, foi com a minha irmã, que levou uma bofetada de uma senhora porque não gostava da minha personagem e disse que eu era mal educada.

1 A Entrevista - Bruna Quintas

Como é que lidas com a fama?

Há coisas boas… Isso é uma pergunta difícil!

Eu acho que a fama é ótima se a souberes aproveitar e tirar bom partido disso, mas rapidamente se torna péssima. O facto de tu viveres sobre o olhar das pessoas, ou seja, tudo o que tu fazes… Eu costumo dizer que eu não faço nada sem os meus pais saberem. Esquece, isso é impossível porque vai haver sempre alguém que vai ver, sempre alguém que vai falar. Às vezes inventam coisas que tu fazes e essa é a parte má.

Já tiveste experiências más por seres conhecida?

Já.

2 A Entrevista - Bruna Quintas

Conta-nos uma.

Já tive que ouvir coisas e calar. Se calhar foi nisso que eu mudei mais dos Morangos até agora. Antigamente eu ficava muito magoada, ficava com raiva e pensava «porque é que têm de me tratar de maneira diferente?». Eu costumo dizer que se houver uma rapariga a fazer o mesmo que eu, essa rapariga nunca vai ouvir nada, vai ser sempre a mim que me vão atingir, porque «ah, és a miúda da televisão». Isso às vezes é um bocado frustrante, porque eu só tenho 16 anos, sou uma jovem como outra qualquer e faço asneiras como todos os jovens.

Mas lá está, foi um caminho que eu escolhi e como sou muito positiva, nunca penso muito nas coisas más. Rapidamente sigo em frente.

8 A Entrevista - Bruna Quintas

Que conselho deixas aos jovens talentos que sonham com o mundo da representação?

Estudem. Estudar é importante, mas se é isso que querem, então lutem. Às vezes parece clichet mas todos os sonhos são possíveis. Eu não conhecia ninguém neste mundo e se cheguei onde cheguei foi porque lutei e porque acreditei em mim, portanto acreditem em vós.

Como é que avalias o atual panorama da ficção em Portugal?

Eu acho que existem muitos projetos com muita qualidade. Há certas coisas que, eu pessoalmente, não gosto tanto mas isso é uma opinião minha. Acho que já evoluímos bastante e temos atores muito bons.

Acho que o sistema está a mudar e vê-se pela minha novela (estou um bocado babada) porque foi um elenco muito bem escolhido e não estou a falar por mim, de todo, com grandes atores. Foi muito bom poder perceber que não foi aquela coisa das caras bonitas e que estão ali atores de verdade. Acho que o público conseguiu ver isso.

3 A Entrevista - Bruna Quintas

Como é que tem sido trabalhar com esses grandes nomes da representação?

Tem sido um grande prazer e aprendi imenso. É ótimo para mim, quando chego aos estúdios, e eles me dizem «Bruna, já evoluíste tanto». É bom sentir que esses atores para quem eu antes olhava e pensava «que fixe, quem me dera ser como eles um dia», estão ao meu lado e me dizem «parabéns, gostei da tua cena». Isso é fantástico porque eu só tenho 16 anos e já vivi coisas ótimas.

Quais são as tuas metas na ficção?

Quero estudar representação, porque nunca tive essa oportunidade, nunca tive tempo. Quero continuar a trabalhar por muitos e muitos anos e ir para Hollywood, para a Globo… (Risos)

A representação é mesmo o que tu queres?

É mesmo isto que eu quero!

Como é que tem sido gravar no Alentejo?

Ótimo! As pessoas são super simpáticas, a comida é muito boa e é bom fugir ao stress de Lisboa, portanto a conselho a todas as pessoas uma visita ao Alentejo. Às vezes não temos tempo para passear porque estamos a trabalhar, principalmente no verão quando gravámos imenso, porque tínhamos pouco tempo até à estreia da novela, mas das poucas coisas que lá vivi, guardo umas muito giras.

4 A Entrevista - Bruna Quintas

Quando terminas um dia de gravações e voltas a casa consegues desligar-te facilmente da personagem ou dás por ti com alguns tiques da Rosário?

Não, eu acho que a minha mãe não me ia deixar falar em «modo Rosário». Acho que saia logo disparada pela janela. Ao fazer algumas cenas da Rosário testei alguns limites da Bruna, limites esses emocionais. Em cenas as como da morte da Helena Laureano dei por mim triste e a sentir a dor da perda. Aquele cansaço depois de ter chorado horas e horas é complicado, mas rapidamente tive grande colegas que me puxaram para cima e me disseram «respira fundo, dá um berro e volta».

Consigo facilmente desligar-me da Rosário e nunca fico com os tiques dela porque somos muito diferentes.

Onde é que vais buscar a carga emocional necessária para fazer cenas como essa que referiste?

Eu confesso que tinha um problema com o ter que chorar em cena. Para mim aquilo era… eu ficava logo nervosa quando via nos guiões que tinha de chorar, mas depois a Teresa, que é minha diretora de atores, momentos antes de fazer essas cenas sentou-se comigo e disse «o importante aqui não é tu chorares, é sentires. Pensa o que é a tua mãe morrer e tu nunca mais a poderes ver». Quando começas a imaginar isso, dá-te um peso tão grande, que só de falar me dá vontade de chorar. (emocionada)

Quando vês televisão costumas ser crítica contigo mesma?

Sim. Eu digo «tá fixe, mas há ali qualquer coisa que não está bem». Eu acho que isso é importante, porque é isso que nos faz evoluir.

6 A Entrevista - Bruna Quintas

Recentemente foram emitidas algumas cenas que envolvem uma maior entrega e exposição física dos atores. Como é fazê-las pela primeira vez?

(Risos) É engraçado. Fica-se com aqueles nervos do «ai, o que é que eu vou fazer? Ele é mais velho». São nervos porque se vai fazer uma coisa nova, mas eu fico nervosa em todas as cenas. Como eu digo, se choro «oh, meu Deus vou ter que chorar», se rio «oh meu Deus vou ter que rir» mas isso é porque eu depois exijo muito de mim.

Foi muito tranquilo, eu e o Tomás continuámos a ter cenas de beijos e é na boa.

Como é que se separa essa relação ficcionada da vida real?

Ambos sabemos que é trabalho. Eu tenho namorado, ele tem namorada e portanto é algo muito simples para nós. Às vezes, para as pessoas que estão fora deste mundo é confuso mas para nós, como não sou eu Bruna que estou a li, não há qualquer tipo de sentimento, não desperta nada em mim.

5 A Entrevista - Bruna Quintas

O público que te segue com maior atenção é jovem. Costumas ser aborda na rua? O que é que te costumam dizer?

Costumo. O que eu acho mais engraçado é que meninas de 7/8 anos vibram com a Rosário e eu fico do tipo «ai meu Deus, eu não dou muito bons exemplos na televisão, vocês não gostem daquilo», mas elas adoram e dizem que vão prender a camisola para mostrar a barriga como a Rosário faz e que já têm namorado e isso assusta-me um bocado.

Eu estou muito grata por todo o carinho e apoio que recebo. É ótimo para uma menina que começou com 9 anos e nunca tinha feito nada na vida, passados 7 sentir que há pessoas querem ser como eu. É estranho e penso «eu sou igual a ti, porque é que tu queres ser como eu?». É muito bom sentir que as pessoas têm orgulho em nós e querem seguir-nos.

É bom sentir-se gostada e saber que com essa idade já és o ídolo de muitas crianças?

É muito gratificante mas ao mesmo tempo tem uma grande responsabilidade porque não queres falhar. Às vezes, quando eu não vou à minha página de facebook, penso «as pessoas vão pensar mal de mim», mas não é por mal, é porque é cansativo chegar a casa, estudar… Não é que não queiramos saber, mas estamos mesmo tão cansados que acabamos por adormecer. Eu tento ao máximo falar com as pessoas que gostam do meu trabalho.

Lisbon Artists
Lisbon Artists

Belmonte é uma adaptação chilena. Achas que é importante termos novelas originais em Portugal para desenvolvermos a nossa indústria criativa?

Eu acho que é importante, mas o Artur Ribeiro em Belmonte fez um trabalho fantástico, porque a novela é completamente diferente do que se tem feito ultimamente.  Normalmente as protagonistas são mulheres e aqui foram cinco homens, a história foi passada no Alentejo e não foi aquele clichet da história de amor, em que existe a má e a boa… Fugiu a tudo isso. A maneira como o Artur adaptou a novela foi de uma forma incrível, porque a novela agora está muito distante e se alguém for ver o original percebe isso.

Não deixamos de ter muito bons escritores, aos quais devemos, sem dúvida nenhuma, dar os parabéns.

A instabilidade do mercado da representação foi importante na tua decisão de ingressar pela carreira de atriz?

Sim. Hoje em dia tudo é instável, porque Portugal está a passar por um momento difícil e nenhuma profissão é certa, mas esta é mesmo incerta. Há as incertas e esta é do tipo top de incertas. Isso assusta-me e às vezes faz-me ter um pouco de receio de avançar, mas ao mesmo tempo também é bom porque faz com que eu tenha ainda mais vontade de estudar. Eu gosto de aventuras!

Temos assistido a carreiras de sucesso no Brasil de alguns atores Portugueses. Gostavas de participar numa novela brasileira?

Claro que sim! É uma experiência diferente e eu gosto de experiências novas.

Os teus projetos têm sido maioritariamente em televisão. Gostas de trabalhar em TV?

Gosto. Eu quero fazer teatro também, mas gosto de fazer televisão. Foi aí que eu comecei, foi aí que aprendi, por isso sinto um à vontade diferente, mas é muito bom sairmos da nossa zona de conforto e fazer teatro e cinema.

Quando mudas de registo, que diferenças notas?

O ritmo de trabalho é diferente e isso é o que me custa mais.

O que é que sentiste ao saber que foste nomeada na categoria revelação em ficção nos III Prémios A Televisão?

Fiquei muito contente porque, como eu disse, sou muito nova e é ótimo perceber que eu tão nova vejo o meu trabalho e esforço reconhecidos. Isso é super gratificante e deixou-me muito feliz. São essas pequenas coisas que me fazem sentir realizada. Eu sei que tenho um longo caminho pela frente e que estou só a começar, mas é bom sentir que estamos a começar bem.

Dá-te algum gosto especial em saber que estás a conseguir construir uma carreira sem ter qualquer tipo de contactos neste mundo e apenas com a qualidade do teu trabalho?

Dá. É aquela sensação de «consegui». Pelo meu trabalho.

É super importante teres uma boa família e amigos. Se assim for, é ótimo.

A Bruna deixou-vos uma mensagem:

https://www.youtube.com/watch?v=Bx7ujvulCgg&feature=youtu.be

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