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A Entrevista – Benedita Pereira

A Televisão
16 min leitura

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Benedita Pereira saltou para a ribalta em 2003, quando foi protagonista da primeira temporada de Morangos com Açúcar, ajudando a série a tornar-se um fenómeno de audiências. Com um vasto currículo nas artes da representação, desde televisão, teatro e cinema, Benedita reside atualmente em Nova Iorque, onde procura ganhar ainda mais experiência. Apesar de ainda não ter encontrado a sua janela de oportunidade nos EUA, a atriz garante que o segredo é a persistência. «Em Portugal era um dado adquirido, não tive que lutar muito por isso. Aqui tenho que lutar todos os dias. E pelos vistos, esta luta é o que me faz feliz…», diz.

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6 A Entrevista - Benedita Pereira

– Vive em Nova Iorque há seis anos. Como está a correr a sua vida na cidade?

– Está a correr bem, se não já não estaria a viver aqui. É uma cidade viciante, virada para o mundo, mas com um ritmo e uma vida muito particulares. É difícil imaginar a minha vida sem Nova Iorque neste momento.

– Mudou-se em busca de novas oportunidades. Está a ser fácil ou difícil conquistar um «lugar ao sol»?

– Mudei-me por várias razões. Primeiro para estudar, depois para trabalhar com pessoas diferentes – de outras culturas, escolas, estéticas –, porque em Portugal tinha sensação que de trabalho para trabalho acabava por trabalhar sempre com as mesmas pessoas (muitas delas fantásticas e com quem aprendi imenso), mas sempre quis ir ver o mundo e ter novas experiências… Foi uma mudança inevitável. Conquistar um «lugar ao sol» nunca é fácil em nenhuma área aqui em Nova Iorque, porque é das cidades mais competitivas a nível profissional, e a representação é provavelmente a carreira mais difícil para se obter estabilidade. De qualquer forma, sinto-me privilegiada por fazer aquilo que gosto e sinto que há lugar para mim aqui, sim.

– Já se arrependeu de ter deixado para trás uma carreira segura?

– Já me passou pela cabeça, mas cada vez menos. Muita gente acha que sou muito corajosa por ter feito esta escolha, eu acho que não tinha outra hipótese. Tinha que sair de Portugal, tinha que vir trabalhar com outras pessoas, tinha também de sofrer para chegar à conclusão que não há nada mais que queira fazer nesta vida do que ser atriz. E isso é uma benção. Ter a certeza absoluta que não há mais nada que eu queira fazer e que só sou feliz a trabalhar como atriz. Em Portugal era um dado adquirido, não tive que lutar muito por isso. Aqui tenho que lutar todos os dias. E pelos vistos, esta luta é o que me faz feliz… Estou sempre a aprender coisas novas sobre mim.

– E já pensou em «mandar» tudo às urtigas e trabalhar, aí em Nova Iorque, em outra área?

– Há pouco mais de um ano pensei nisso mas não durou mais do que 24 horas. Só de pensar em fazer outra coisa, ficava ainda mais deprimida e foi nessa altura que cheguei à conclusão que nada me faz mais feliz do que ser atriz. Com todos os altos e baixos, conquistas e rejeições, ser atriz é quem eu sou e, portanto, nunca vou perder mais tempo a pensar em «alternativas».

– Como é que os seus familiares, amigos e fãs têm acompanhado o seu percurso na área da representação?

– As pessoas que gostam de mim e me conhecem sabem que este percurso está a ser essencial para o meu crescimento enquanto atriz e mulher. Os fãs perguntam-me sempre quando vou voltar às novelas e eu vejo isso com carinho, porque é sinal que gostam de me ver representar, mas eu não posso largar a vida que construí aqui para ir dez meses para Portugal. Para já, isso não faz sentido. Um dia quem sabe, mas por agora talvez só umas participações ou assim. De qualquer forma, os trabalhos que fiz em Portugal estão a ser repetidos na TVI, TVI Ficção e Panda Biggs, por isso há muita gente que continua a ver-me na TV e tenho imensa sorte de ainda ter imensos fãs que gostam do meu trabalho.

– Que sonhos quer cumprir aí enquanto atriz?

– Quero trabalhar o mais que conseguir e nas mais diversas áreas. Agora estou focada no teatro, mas gostava de fazer cinema e televisão. As séries aqui têm uma qualidade tremenda e o mundo da TV já está cheio de estrelas de cinema porque toda a gente quer estar envolvida nestas produções excecionais. Torna a vida mais difícil para nós, comuns mortais, porque não podemos competir com estrelas, mas também se torna mais apetecível. Quero uma carreira variada e trabalhar com realizadores/encenadores e atores que admiro (e há tantos aqui!). Mas o mais importante é fazer parte de projetos artísticos que me dizem alguma coisa – seja pela sua verdade, mensagem, inovação ou estética. Não me quero esquecer que para além de atriz, sou artista e quero dar o meu contributo como tal ao mundo.

– Ir para fora do país tornou-a mais independente? Sente que amadureceu mais rapidamente nos últimos anos?

РSinto que vivi o triplo do que teria vivido se tivesse ficado em Portugal, sem d̼vida. Tenho uma perspetiva da vida e do trabalho muito diferente e isso faz-me uma mulher com mais experi̻ncia, sim. Mas tenho sempre uma adolescente dentro de mim, por isso ṇo sei se sou assim ṭo madura!

– A todos aqueles que pretendem vingar na área da representação, aconselharia uma aposta na formação fora de Portugal?

– Não necessariamente. Formação é essencial, agora onde depende dos objetivos, gostos e «bolsa» de cada um. Para mim era importante o contacto com novas culturas e pessoas de outras «escolas», mas cada um tem objetivos e gostos diferentes.

– É fácil manter o mesmo nível de vida que teria em Portugal, sobretudo em termos financeiros?

– Não dá para comparar. Obviamente que Nova Iorque é uma cidade muito mais cara, mas também se recebe em proporção. Vivo num apartamento muito mais pequeno do que viveria em Lisboa, mas tenho acesso a uma vida cultural incomparável e isso para mim também conta como nível de vida.

3 A Entrevista - Benedita Pereira

РSer bonita ̩ um trunfo para vencer em Nova Iorque no mercado de trabalho?

– Eu por acaso acho que não é assim tão linear. As mulheres bonitas têm que provar muito mais que são boas atrizes porque ainda há a ideia de que só lá estão porque são bonitas. Claro que ter boa imagem é importante para abrir portas, mas depois «fechá-las» atrás de nós é que já é mais difícil. Demora tempo até acreditarem que uma mulher bonita pode mesmo ser boa atriz.

– Sente nostalgia dos tempos da série Morangos com Açúcar? A Joana ainda permanece viva na sua memória?

– Sinto nostalgia dos tempos maravilhosos que passei com os meus amigos que fiz na série. Divertimo-nos e aprendemos muito juntos. A Joana é uma recordação muito doce, mas já passaram tantos anos… Já não vive em mim, com certeza.

РOs f̣s portugueses pedem muito o seu regresso?

– Tenho tido convites, mas como disse anteriormente, neste momento não faz sentido largar a vida que tenho aqui para ir para Portugal dez meses fazer uma novela. Os fãs perguntam bastante pelo meu regresso mas eu espero dar-lhes uma satisfação maior quando a minha carreira estiver a ir de vento em popa aqui. Entretanto, pode ser que apareça nos ecrãs portugueses por uns dias ou semanas, quem sabe? Os projetos de longa duração é que não são possíveis, mas pequenas participações podem ser bem-vindas. Também tenho saudades de trabalhar com os atores e equipas portuguesas.

– Como ocupa, por esta altura, os seus dias?

– Estou a ensaiar dois espetáculos. Um que vai estar em cena durante um mês a partir de 15 de maio e outro que vai ser só um dia (dia 30 de abril). São os dois muito diferentes e exigem muita concentração e tempo de ensaios, por isso não tenho tempo para mais nada a não ser para uma audição aqui e ali. Portanto, estou a trabalhar na peça Halfway Through the Story of Our Life e noutra que é baseada em cenas do Ibsen e Bergman, chamada Persona. Tenho também outro texto escrito pelo Artur Ribeiro para fazer aqui em Nova Iorque mais para o final do ano.

РFale-me enṭo sobre a pe̤a de teatro Halfway Through the Story of Our Life.

– É uma peça que consiste em três monólogos baseados na vida real das atrizes que os representam, para os quais três compositores diferentes escreveram música original, e conta também com a presença de três músicos em palco. É um projeto onde as diferentes artes colaboram para explorar o percurso destas três mulheres tão diferentes, mas que têm em comum o facto de viverem entre as personagens que representam e de tentarem encontrar a sua identidade e o seu lugar neste mundo e, mais especificamente, na cidade de Nova Iorque. Nunca participei nem nunca vi nenhum espectáculo com estas características e estou muito orgulhosa de fazer parte desta peça. Como atriz é também um grande desafio, porque tenho um monólogo de 20 minutos em que abro o coração, me ridicularizo a mim própria e falo de temas que são muito pessoais. A personagem sou eu mas também não sou eu. E quem sou eu afinal, alguém sabe?

– A Benedita recorreu ao crowd funding para poder angariar o dinheiro necessário para fazer a peça, o que originou algumas críticas. Como reage aos comentários menos positivos?

– Em primeiro lugar, 99% dos meus seguidores não me criticaram e até me deram força para o projeto. As críticas vieram do jornal Correio da Manhã porque não se informam como dever ser e escrevem muitas asneiradas. O conceito de crowd funding vai muito mais além do que «pedir dinheiro». É uma forma de se financiar projetos de várias áreas culturais e não só, com pequenas contribuições de muitas pessoas que estejam interessadas em que o projeto se concretize. Em vez de ficarmos eternamente à espera de uma ou duas pessoas com uma fortuna para investir e nunca concretizarmos os projetos, faz-se uma campanha, onde se explica o projeto e dá-se a oportunidade às pessoas de fazerem parte do projeto, contribuindo com o que podem. Para além de ficarem a fazer parte do projeto, as pessoas recebem recompensas como (no nosso caso) bilhetes para o espetáculo, posters assinados, links privados para o vídeo do espectáculo que vai ser filmado profissionalmente e até aguarelas de uma artista de renome. Nós queremos que as pessoas tenham acesso ao nosso trabalho, e temos planos para levar o espectaculo a outros países, se este em Nova Iorque correr bem.

РO crowd funding ̩ comum nos Estados Unidos?

– Sim, muita gente recorre ao crowd funding para financiar filmes, séries, peças, projetos ligados às ciências ou literatura e as pessoas estão habituadas a contribuir para estas coisas, mesmo que seja com $1 ou $10. Se gostam do projeto e acham que deve ir para a frente, contribuem. Ninguém é obrigado a contribuir e isto nunca pode ser visto como «caridade». Ou se acredita no projeto ou não. E, claro, também há muita gente que não pode contribuir e eu estou bem consciente da situação em Portugal, mas acho perfeitamente natural querer partilhar esta campanha com os meus seguidores e até achava injusto não lhes mostrar o que ando a fazer e dar-lhes a oportunidade de contribuirem se quiserem e puderem. É também importante salientar que este dinheiro não é para mim e não sou eu que estou a produzir o projeto. Eu faço parte do espectáculo como atriz e co-escritora e ajudo no que posso na produção, mas a companhia de teatro não é minha e este dinheiro não vai para os bolsos de ninguém… É simplesmente para pagar os custos de produção da peça (aluguer do teatro, cachets dos músicos, compositores, material para o cenário, luzes, etc).

– Mas ficou aborrecida com as críticas?

– Só levo a mal por virem de um jornal que não aposta na seriedade, mas sim no sensacionalismo. Eu tenho a consciência tranquila e sei que estou a fazer um bom trabalho, que é o que me interessa. Para além disso, sinto que estou a levar o nome de Portugal a bom porto, estou a divulgar um pouco do nosso país e sinto-me lisonjeada por isso.

– Para terminar: considera-se uma mulher feliz?

– Sim, acho que sou feliz, mas quero sempre mais!

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