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A Entrevista – Artur Ribeiro – «Jogo Duplo»

Diana Casanova
11 min leitura

Chega hoje ao pequeno ecrã a nova novela da TVI – Jogo Duplo. Artur Ribeiro é o autor que volta a assinar uma novela para a estação de Queluz de Baixo, depois de Belmonte e Santa Bárbara. O autor mostra-se entusiasmado com esta história e fala das suas semelhanças com um filme de ação. É isso que faz com que mesmo as pessoas que não acompanham novelas possam vir a gostar de Jogo Duplo. «Vejam pelo menos o primeiro episódio», recomenda Artur Ribeiro.

Leia, em seguida, A Entrevista a Artur Ribeiro, o autor de Jogo Duplo, a novela da TVI que estreia esta noite.


O que podemos esperar desta novela?

Podem esperar uma mistura entre um filme de ação e uma novela. De facto, tem todos os elementos de uma novela clássica, mas ao mesmo tempo tem uma abordagem em alguns aspetos diferentes. Tem também elementos que não são tão habituais ver-se numa novela. Esse lado, de facto, da ação de algum género mais próximo das séries ou dos thrillers existe, mas sem descurar o lado que é uma grande história de amor. Só que temos uma grande história de amor que tem que lidar com dificuldades, neste caso, acrescidas porque não é só a separação das famílias que existe, mas depois, neste caso, um problema que é o nosso protagonista tem um passado negro, do qual ele não se consegue livrar. E aí vai ser muito difícil o regresso dele a Portugal, [é] que ele foi para o Oriente, [onde] é o braço direito de um dos chefes de uma das máfias japonesas.

Porquê Macau?

Macau tem a ver um bocadinho com a nossa presença no Oriente, que pode estar um bocadinho mais dissipada, mas continua a surgir. Mas também tem a ver com a história – como houve na adolescência destas personagens uma separação grande, e há até um diálogo onde eles falam disso. O nosso João Guerra, personagem que o [João] Catarré faz, quer ir para o lado mais oposto do mundo, então vai para o Oriente. Metaforicamente, esta distância é mesmo para ser o mais longe possível, não foi para França, não foi para a Alemanha, não. Teve de se afastar de tal forma para esquecer a tristeza da separação que tem, … que não foi uma separação, obviamente, voluntária, foi um engano, foi uma obrigação, então, de facto, ele quis afastar-se… foi afastar-se, então, praticamente para os antípodas de Portugal.

Existe conflito de culturas?

De facto, vamos ter aqui um conflito de culturas, da própria adaptação entre o Oriente e o Ocidente, porque vamos ter personagens do Oriente que voltam para Portugal passados 20 anos. Vão encontrar cá também um Portugal diferente, onde há diferenças entre o litoral e o interior, … temos cenários muito diversificados. Macau vai estar presente não só nos primeiros episódios, mas também ao longo de uma primeira fase grande da história, como depois temos Tróia, Comporta, Setúbal, Alcácer, como temos o lado urbano, para o lado rural, para o lado litoral,… E tudo isto com uns núcleos muito interessantes e que se vão entrelaçar às vezes de uma forma inesperada.

Como se distingue esta novela das novelas que fez até aqui, Belmonte e Santa Bárbara?

Todos os autores têm elementos que, se calhar, são um bocadinho recorrentes. Mas neste caso, os elementos que diferenciam… por um lado, acho que é capaz de ser aquele em que se calhar tem um conflito de culturas mais presente, onde tem também um bocadinho mais de exotismo, o facto do Oriente, o facto de falarmos de máfia chinesa, ou de jogo, são elementos que não são tão habituais; por outro lado, temos se calhar aqui uma diferença em relação, por exemplo a Santa Bárbara, que estas personagens são… os bons também fazem coisas más e os maus também fazem coisas boas. Há aqui uma linha ténue, às vezes, entre o bem e o mal, o certo e errado, e isso, no fundo é uma ideia minha de retratar um pouco a nossa condição humana, que é: nós somos capazes do melhor e do pior, de amar e de odiar, e isso às vezes confunde-se tudo e está presente na vida de toda a gente.

Realmente, o nome provisório da novela era Condição Humana… Porquê a mudança?

Esta mudança tem uma razão por trás. Jogo Duplo é o título do primeiro filme que eu fiz quando tinha 16 anos. Em Loulé, com os meus amigos, que eram de uma associação da casa da cultura, e então é engraçado porque andávamos à procura de um título que tivesse a ver com jogo, ou com o Oriente, e de repente lembrei-me do título do meu primeiro filme, e pareceu, de facto, adequado, e toda a gente concordou.

És especial esta escolha por Jogo Duplo?

Para mim tem um lado pessoal engraçado. [Foi] A primeira coisa que eu sempre quis fazer… cinema, televisão, e a primeira vez que juntei uns amigos, com uma câmara de VHS, nem tínhamos meios nenhuns, fiz um filme que é terrível… péssimo! [risos] Noutro dia estive a ver, que ainda tenho lá em DVD, é assustadoramente mau, eu até estava a dizer a um amigo meu na brincadeira: «como é que eu depois de ter feito isto… ainda estar a trabalhar… é um milagre!» [risos]. Que aquilo era mesmo muito mau. Mas de facto, o título do meu primeiro filme e agora tem uma certa piada… adequar-se muito bem a esta história e ser o que acaba por ficar.

Sabe que a SIC teria uma novela com este mesmo nome – Jogo Duplo?

Eu sei que há para aí uma polémica porque a SIC tinha uma novela com esse nome… Eu soube pela própria Gabriela Sobral que me veio dizer. Encontramo-nos numa estreia no teatro e veio perguntar e eu disse que sim, tínhamos acabado de decidir o título, tinha acabado de ser anunciado. E foi quando ela me disse que estavam a preparar uma novela. Juro que não fazia a mínima ideia! Aliás, o título é porque é o meu primeiro filme, qualquer pessoa pode ver, que eu fiz isto, sei lá, eu tinha 16 anos.

Como autor, como encara esta estratégia de apostar em novelas por temporadas?

Esta não…

Em geral…

Se calhar tem a ver com o percurso narrativo da história, com estratégia do canal… temos de saber é o que muda, se há temporadas, qual é a ideia estrutural para a história. Eu, neste caso, tenho um ponto no meio de viragem, aliás, costumo fazer isso, como foi com Belmonte… a certa altura a história muda. Em Santa Bárbara também. Eu acho que as novelas, até por ser um percurso longo, é bom terem um ponto de viragem a meio, como nos filmes, num percurso mais pequeno, têm um middle point, em que há ali uma altura em que a história dá uma volta e relança o final. E no fundo, nós numa novela estamos a olhar para uma estrutura ao longo do tempo, muito maior. Mas existem o primeiro, o segundo e o terceiro ato, para mim, na cabeça, estão lá, então acaba por haver sempre um ponto de viragem a meio.

E está atento às audiências?

Sim. Obviamente não vivo pelas audiências, mas acho piada. Acaba por ser um jogo… olha vê lá quanto é que fez ontem… mas não mudo nada por causa das audiências, agora, o que eu acredito é que esta novela tem a possibilidade de captar audiências que normalmente não vêm novelas. E convido toda a gente a ver, pelo menos o primeiro episódio… Aquelas pessoas que dizem: «ah novelas! É um produto menor…». Vejam o primeiro episódio desta, deem o benefício da dúvida, assim como eu escrevo sem preconceito. Sem preconceitos experimentem ver o primeiro episódio. Depois, pronto, se quiserem ir à sua vida…

Porque acha isso, por causa dessa componente mais de «filme de ação»?

Muitas vezes as pessoas acham que as novelas repetem muito os mesmos temas e por aí fora. Eu acho que todas as pessoas que escrevem novelas, todos os meus colegas, querem sempre trazer qualquer coisa de novo. Nem sempre, se calhar, digo para mim também, as circunstâncias batem todas certo, a forma como é realizado, o tema, onde é filmado e eu acredito que este primeiro episódio tem de facto [isso]… Até porque eu não tenho nenhuma cultura de novela… Não sei escrever novelas, no fundo. Eu gosto é de contar histórias. E acho que as histórias bem contadas são para toda a gente ver, quero dizer, podes gostar ou não da história, pode-se ter ou não o hábito de ver novelas, porque é um hábito diário e há quem não o tenha. Pelo contrário, outras pessoas, só gostam, de facto, de ver ficção diária e não são capazes de ver séries. Seja como for, quando conto uma história, conto para seja quem for que a for ver, se interesse e que seja conquistado por ela.

Redatora e cronista