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A Entrevista – Vítor Moura: «Não estamos sozinhos, mas somos o formato veterano»

A Televisão
14 min leitura

No atual panorama da televisão portuguesa, o Cinebox é, neste momento, o magazine de cinema que está no ar há mais tempo. Vítor Moura, o editor e apresentador, acredita que o segredo da longevidade reside essencialmente no trabalho e na dedicação de toda a equipa. «Embora partilhemos a mesma matéria-prima com os outros programas do género, marcamos a diferença na linguagem, na dinâmica e também na cobertura». Eis a entrevista que celebra sete anos de emissões de Cinebox na TVI24.

É um dos rostos da TVI24 desde o lançamento do canal, em fevereiro de 2009. Sente que o canal está a evoluir no bom caminho?

É um orgulho fazer parte deste projeto desde o primeiro momento. Já trabalhei com diferentes direções de Informação mas sempre com muito empenho, muita criatividade e um foco permanente no melhor serviço possível. Se hoje estamos onde estamos, é porque temos trabalhado muito e bem e em equipa. Os resultados são evidentes e encorajadores. A TVI24 é hoje um canal de referência na informação em Portugal. E vai ser ainda mais.

O Cinebox celebra sete anos de emissões. Qual o segredo do sucesso e da longevidade?

Todos os programas têm um ciclo de vida. O facto do Cinebox já ter sete anos é extraordinário, mas também o resultado direto do trabalho e dedicação que o colocam no ar, todas as semanas. O reconhecimento dos espetadores é claro, não só nas audiências mas também nas redes sociais. Como mostrámos na edição do sétimo aniversário, o reconhecimento da direção e dos outros profissionais da TVI e TVI24 também existe, o que muito nos orgulha. É caso para dizer: parabéns a nós, obrigado a todos.

Mais do que um mero programa de entretenimento, este magazine também tem uma clara dimensão cultural e pedagógica.

Todos os programas têm essa dimensão. No caso do Cinebox, ela assenta no que se passa no mundo do cinema e, desse ponto de vista, reflete a atualidade e é trabalhada de forma jornalística. Ao mesmo tempo que informamos, abrimos portas a histórias e contadores de histórias que eventualmente são menos conhecidos e, nesse sentido, também somos pedagógicos, claro.

Se pudesse, mudava alguma coisa no formato?

Tem havido mudanças ao longo do tempo. Umas são mais evidentes do que outras mas todas surgem dessa vontade, e até necessidade, de fazer sempre melhor e diferente. É um processo contínuo mas também muito tranquilo.

O que é que difere o Cinebox de todos os outros magazines de cinema?

No panorama da televisão portuguesa, o Cinebox é, neste momento, o magazine de cinema que está no ar há mais tempo. Quando arrancou, já tinha alguns concorrentes que entretanto desapareceram. Hoje, não estamos sozinhos mas somos o formato veterano. Embora partilhemos a mesma matéria-prima com os outros programas do género, marcamos a diferença na linguagem, na dinâmica e também na cobertura. Tentamos ser panorâmicos, pertinentes mas também descontraídos.

Como é trabalhar em dupla, com Maria João Rosa?

É ótimo! Não nos conhecíamos quando começámos a trabalhar juntos, em 2009. Hoje, somos muito próximos e muito eficientes na gestão das várias dinâmicas do programa. Fazendo contas a todos os projetos e meios de comunicação em que já estive envolvido quer na televisão quer na rádio e na imprensa, a Maria João é a pessoa com quem trabalho há mais tempo.

Desde quando é que o cinema faz parte da sua vida?

Os filmes fazem parte da minha vida desde criança. Primeiro, na televisão. Mais tarde, nas salas de cinema e sobretudo desde que vim estudar para Lisboa; embora tenha nascido cá, cresci em Portalegre. Assim que se apagam as luzes, gosto de me deixar conduzir pelos personagens e de embrenhar nos acontecimentos.

O que é que admira mais na sétima arte?

O género pouco importa. Acima de tudo, gosto de histórias bem contadas e com atores à altura desse desafio que é sempre o maior de todos.

Fale-nos um pouco do que considera ser o panorama atual do cinema português.

Embora nem sempre haja filmes portugueses no cartaz das estreias, tentamos dar voz a quem os faz tanto quanto possível. Estamos atentos às rodagens, às participações em festivais, às homenagens que vão surgindo e até às dobragens de animações estrangeiras. Já vai em muitas dezenas o número de protagonistas do cinema nacional que passaram pelo Cinebox com pequenos testemunhos ou entrevistas de fundo.

Que razões aponta para a dificuldade de Portugal em obter o reconhecimento que outros países europeus já vão tendo?

Discordo dessa ideia de que Portugal não tem tanto reconhecimento como outros países no que ao cinema diz respeito. Apesar das dificuldades mais ou menos crónicas, a produção nacional está viva e recomenda-se. Ainda há dias, Leonor Teles ganhou o Urso de Ouro para a Melhor Curta Metragem a concurso no Festival de Berlim. E logo na edição que teve a maior participação portuguesa de sempre! Se assim acontece, não é por acaso. Mas antes por causa do esforço, do mérito e do talento dos nossos atores, produtores, realizadores e restante equipa técnica.

Considera que o cinema em Portugal deve desenvolver-se independentemente dos apoios estatais ou o papel do Estado no financiamento é absolutamente indispensável?

O Estado pode ser mas não deve a única fonte de financiamento do cinema. Não sou contra a existência de subsídios, nomeadamente para jovens autores, mas discordo da total dependência deles. Há outras formas de conseguir financiamento, como as coproduções internacionais ou apoios privados.

Gradualmente, fomos perdendo algumas das principais revistas de cinema. São sinais dos tempos?

A grande expansão da internet mudou os hábitos do consumo da informação e a queda das vendas da imprensa em geral, e não só das publicações de cinema, é um dos sinais dessa nova realidade. Hoje em dia, todos os jornais em papel também estão online, temos muitos sites mais ou menos especializados à disposição, contamos com as redes sociais… Não sinto falta da informação em papel. Sinto é falta de qualidade em alguma da informação que se produz para o online. Mas, como em tudo o resto, a seleção natural fará o seu caminho. Só vingará quem for realmente competente e criativo no que faz.

Uma tendência da imprensa online neste momento é tentar colocar críticas dos filmes instantaneamente após o primeiro visionamento. É possível fazer uma boa avaliação num tão curto espaço de tempo?

Se o crítico está preparado para fazer a crítica logo a seguir ao visionamento para a imprensa, porque não partilhá-la de imediato com o público? Estamos num mundo em que a comunicação é cada vez mais rápida até porque a procura de informação é constante. Durante os oito anos em que fiz crítica na edição portuguesa da revista Premiere, não tinha essa pressão porque se tratava de uma publicação mensal. Mas também porque a internet ainda não tinha a omnipresença que tem hoje.

Goste-se mais ou menos, os Óscares são os prémios mais aguardados e mediatizados do mundo do cinema.

Durante 15 anos comentou a transmissão dos Óscares, mas em 2015 a TVI perdeu os direitos de transmissão para a SIC. Como reagiu a esta mudança?

Com toda a naturalidade. Foi uma experiência muito especial e claramente uma das mais gratificantes que já tive na minha carreira na área do cinema. Hoje, assisto à transmissão da concorrência como espetador. Mas, como jornalista, continuo a trabalhar os Óscares como sempre trabalhei até aqui.

Acompanha os Óscares desde os seus tempos de infância?

Sim, acompanho a festa desde muito novo. Goste-se mais ou menos, concorde-se ou não com a lista de vencedores e vencidos, os Óscares são os prémios mais aguardados e mediatizados do mundo do cinema. Estão longe de ser os únicos, e ainda bem, mas são incontornáveis para quem trabalha no cinema e para quem se especializou no jornalismo de cinema, como é o meu caso.

Estarão os Óscares a passar por uma crise existencial, fruto da multiplicidade oferta do cabo e da internet?

As audiências deste ano nos Estados Unidos foram as mais baixas dos últimos oito anos, acentuando uma tendência e também a preocupação da Academia de Hollywood com o que pode estar a correr menos bem no embrulho do espetáculo. Independentemente das audiências, os Óscares continuam a ser o expoente da notoriedade no cinema e, nesse sentido, não identifico nenhuma crise existencial. Claro que a oferta de ficção no cabo e na internet é hoje muito maior e melhor do que alguma vez foi. Mas os Óscares são prémios de cinema e apenas de cinema. Mesmo com a queda das audiências, continuam a ser os mais vistos e desejados à escala global.

Já entrevistou grandes nomes do cinema. Qual o mais marcante?

Faz agora 20 anos que comecei a trabalhar o cinema, como jornalista. Primeiro na rádio, depois na imprensa e entretanto na televisão. Já entrevistei inúmeras de dezenas de atores, produtores e realizadores em vários pontos do mundo e, por isso, é difícil escolher as entrevistas mais marcantes. Mas há algumas que ficam para sempre não só pela oportunidade mas também pela personalidade e pelo estatuto dos entrevistados. Assim de repente, lembro-me do Steven Spielberg, Peter Jackson, George Clooney, Angelina Jolie, Hugh Jackman, Julianne Moore, Jodie Foster, Matt Damon, Julia Roberts, Dustin Hoffman, Woody Allen, Nicole Kidman, Daniel Craig, Bradley Cooper, Jessica Chastain, Judy Dench, Morgan Freeman, Judi Dench, Ridley Scott… Todos eles impressionantes e memoráveis.

Certamente já passou por momentos embaraçosos nessas entrevistas…

Já fiz algumas entrevistas em situações estranhas. Por exemplo, à Cameron Diaz na cama de um hotel em Barcelona a propósito do Sex Tape. Ou ao Sacha Baron Cohen, também numa cama de hotel em Londres, a propósito de Grismby, o novo filme.

E a entrevista mais hilariante?

A entrevista mais hilariante que fiz foi ao Robin Williams. A partir do momento em que ele percebeu que sou português, começou a contar histórias de uma babysitter portuguesa que teve em tempos e quase nem falámos do Happy Feet, a animação que estava a lançar na altura.

Num país em que diariamente dois dos cinco programas mais vistos são novelas, não deixa de ser curioso que o canal de filmes Hollywood tenha destronado o canal infantil Disney Channel e seja agora o mais visto no conjunto dos canais de cabo?

É um sinal de que a procura de cinema é grande, também na televisão. E, já agora, cada vez mais também nas salas. Em 2015, a afluência em Portugal aumentou 20%, o que é uma boa notícia. O cabo em Portugal tem uma oferta cada vez mais interessante e continua a crescer em qualidade e diversidade, o que também é uma boa notícia. Não só para os espetadores mas também para todo o panorama audiovisual.

Qual é o filme da sua vida?

Não consigo escolher «o» filme da minha vida. Gosto muito de muitos filmes, dos clássicos aos contemporâneos. E de vários géneros. Mas destaco o Casablanca e o Citizen Kane, por exemplo. E também o A.I. – Inteligência Artificial do Spielberg.

E a frase de um filme que o tenha marcado para sempre?

Voltando ao Casablanca, «Here’s looking at you, kid».

Obrigado pela entrevista, Vítor.

Bons filmes, sempre!

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