Apresentado por Santiago LagoĆ”, o Net DiĆ”rio Ć© um dos programas mais conhecidos do Porto Canal. Um programa que faz rir com os vĆdeos mais divertidos da internet, que permite interaĆ§Ć£o em direto com o pĆŗblico e que, por vezes, reĆŗne pessoas de todos os lugares de Portugal (incluindo as Ilhas dos AƧores e Madeira) e fora do paĆs. Com a estreia da nova temporada (uma ediĆ§Ć£o de verĆ£o), o anfitriĆ£o deste formato nĆ£o faltou Ć chamada e esteve Ć conversa com o A TelevisĆ£o. Fique a conhecer melhor Santiago LagoĆ”, assim como o seu percurso no mundo da televisĆ£o…
A TelevisĆ£o – Ć licenciado em Teatro, mas decidiu apostar no mundo da apresentaĆ§Ć£o. PorquĆŖ?
Santiago LagoĆ” – Quando dei por mim, jĆ” estava a trabalhar todos os dias com uma cĆ¢mara Ć frente. Foi mais tropeĆ§Ć£o, que opĆ§Ć£o. Sempre imaginei que o meu percurso seria diferente. Era feliz no Teatro e, durante muito tempo, mesmo depois de estar no Porto Canal, ainda me via mais como ator do que propriamente apresentador.
A sua primeira incursĆ£o na apresentaĆ§Ć£o televisiva aconteceu no canal temĆ”tico MVM. Foi uma experiĆŖncia positiva?
Tive a sorte de trabalhar com uma mini-geraĆ§Ć£o talentosa, todos com percursos e capacidades distintas. Desse grupo fizeram parte pessoas que hoje sĆ£o reconhecidas do grande pĆŗblico. Lembro-me que estĆ”vamos a dar os primeiros passos, ainda a aprender a fazer televisĆ£o.
E que recordaƧƵes guarda desses tempos?
Era tudo muito instintivo, muito cru. As ligaƧƵes entre nĆ³s eram as de um grupo prĆ³ximo. NĆ£o tĆnhamos aquele peso de fazer tudo bem. E isso foi bom na altura, pois permitiu errar, avanƧar e crescer sem grande ansiedade.
Mais tarde, comeƧou a sua Ā«aventuraĀ» no Net DiĆ”rioĀ (Porto Canal) – ano de 2010. Conte-nos como surgiu o convite.
Surgiu em seguimento de um trabalho prĆ©vio no Porto Canal e, pelo meio, ainda se meteu uma longa-metragem. A histĆ³ria comeƧa no inĆcio de 2009 por um mero acaso, quando recebi um convite para o casting e estive perto de nĆ£o ir. Estava no Teatro Experimental do Porto, a uma semana de estrear uma nova peƧa e, portanto, a minha cabeƧa estava lĆ”.
Antes da proposta para apresentador, jĆ” tinha participado em outros castings?
Sim, jĆ” tinha feito imensos castings em Lisboa e no Porto. Muitas viagens, muito quilĆ³metros, muitos Ā«nĆ£osĀ» como tantas outras pessoas que querem seguir essa vida estranha de ator.
Estava, portanto, cansado de tentar a sua sorte.
Sim, sinceramente estava mesmo cansado. Acho que tinha desistido da televisĆ£o, o palco era na altura a minha casa. Fui ao casting para me divertir e nĆ£o para ficar com o lugar, que nem sabia o que era. AtĆ© hoje estou convencido que foi esse o segredo.
ApĆ³s uma pausa de cerca de um ano, o seu programa no Porto Canal estĆ”Ā agora de regresso (e com remodelaƧƵes). A nova temporada do Net DiĆ”rio estreou no passado dia 2 de julho. EstĆ” satisfeito com as mudanƧas?
Apesar de a Ćŗltima temporada do Net DiĆ”rio ter terminado hĆ” um ano com boas audiĆŖncias, nĆ£o estava Ć espera que a direĆ§Ć£o do canal recuperasse o programa. Foram trĆŖs anos de sucesso e isso confirmou-se com o nosso formato a servir de inspiraĆ§Ć£o para muitos outros que surgiram depois (primeiro na generalista, depois um pouco por toda a cabo).Ā Ć um orgulho para nĆ³s termos sido pioneiros.
Quer dizer que estĆ” feliz com o regresso do formato…
Para mim, em particular, este Net DiĆ”rio 2.0 Ć© um regresso feliz. Feliz pelas condiƧƵes que nos foram dadas por parte da direĆ§Ć£o, feliz pelas mudanƧas que a produĆ§Ć£o fez e feliz por estar novamente tĆ£o prĆ³ximo do pĆŗblico.
EntĆ£o e que novidades podem esperar os telespectadores da ediĆ§Ć£o de verĆ£o?
O programa quer der um passo em frente. Para alĆ©m dos vĆdeos com mais sucesso da internet, o que nos distingue Ć© a participaĆ§Ć£o do pĆŗblico em direto. E Ć© nesse aspecto que queremos apostar. Muito brevemente, e aproveito para o dizer aqui em primeira mĆ£o, vamos tornar o Net DiĆ”rio 2.0 ainda mais interativo. VĆ£o surgir jogos com prĆ©mios Ć mistura, adicionando assim outra dimensĆ£o ao programa.
Isso significa que o pĆŗblico vai ter a oportunidade de interagir consigo e ainda ganhar prĆ©mios?
Exato. Quem estĆ” em casa, vai poder jogar e ganhar.
O Santiago tem algumas pĆ”ginas de fĆ£s no Facebook e vĆŖ-se que o pĆŗblico gosta de si. Sente este carinho por parte de quem o vĆŖ e segue o seu trabalho?
Esse carinho, essa proximidade, o afeto do pĆŗblico Ć© fundamental. Eu trabalho para eles, sem pĆŗblico Ć©s nada. Ć vazio o que fazes se nĆ£o estiver ninguĆ©m lĆ” para ver. O engraƧado Ć© a sensaĆ§Ć£o de humildade e de responsabilidade que fica quando alguĆ©m passa por ti e diz: Ā«VĆ” miĆŗdo, forƧa! Tens futuro, nĆ£o desistas!Ā».
Essas mensagens tĆŖm que resultado?
Fazem-me ganhar uma vontade adicional, superando todas as dificuldades pessoais e profissionais para dar mais de mim, para criar mais, porque sei que aquela pessoa e todas as outras que um dia perderam um pouco do seu tempo para falar comigo estĆ£o a apoiar-me.
Este formato do Porto Canal vive muito do improviso (do improviso do Santiago, sobretudo). Ć fĆ”cil para si Ā«arranjarĀ» conversa durante o direto?
O Net DiĆ”rio Ć© um avanƧo significativo de um outro programa que fiz, o Chat, que tinha como base Ćŗnica e exclusiva a Ā«conversa em diretoĀ» com o pĆŗblico. Confesso que quando vi o formato original pela primeira vez, e isso foi quatro dias antes de o estrear, o meu primeiro pensamento foi: Ā«No que Ć© que me fui meter…Ā». Era algo muito experimental que passava de madrugada a uma hora tardia. Tive esse receio de ficar sem conversa, de nĆ£o ter pĆŗblico.
Como venceu o receio?
Percebi rapidamente que o melhor era nĆ£o planear nada. Esse Ć© o segredo: podes montar um cenĆ”rio na tua mente, mas depois tens de lhe dar vida, tens de o encher com as tuas vivĆŖncias, com as tuas ideias. E, de vez em quando, embora seja perigoso, com as tuas opiniƵes. E isso cativa as pessoas, porque do outro lado – dentro daquela televisĆ£o – estĆ” uma pessoa igual a elas.
O Santiago tem uma mensagem para os leitores d’A TelevisĆ£o:
[youtube id=”KR7RukRV77Q”]
Mas jĆ” Ā«bloqueouĀ» alguma vez (como por exemplo: nĆ£o saber o que dizer em determinado momento)?
Bloquear nunca bloqueei, mas lembro-me de algumas emissƵes mais emotivas, mais difĆceis, onde as palavras saem com maior dificuldade. De todas, tenho uma na memĆ³ria que vai ficar para sempre. Foi talvez o programa mais difĆcil que alguma vez fiz. A pedido dos fĆ£s, preparei um programa inteiramente dedicado ao AngĆ©lico Vieira no dia a seguir ao seu desaparecimento.
Em que consistiu essa emissĆ£o?
Foi uma hora e meia sĆ³ com vĆdeos e mĆŗsicas dele, onde os seus fĆ£s, e todas as pessoas que sentiram a sua perda como uma perda pessoal, puderam expressar os seus sentimentos e a sua revolta com aquele roubo tĆ£o injusto que nos tinha acontecido.
Nesse programa as palavras tiveram um peso diferente?
Sim, definitivamente. Naquela noite, as palavras tiveram um peso diferente…
Agora, conte-nos: qual a situaĆ§Ć£o mais caricata que jĆ” lhe aconteceu num direto?
Estava nos antigos estĆŗdios, a meio de um direto, quando do nada as luzes comeƧam a dar faĆsca e simplesmente deixam de funcionar. Imaginem um armazĆ©m completamente Ć s escuras e o programa ainda no ar.
Como deu a volta Ć situaĆ§Ć£o?
Inspirei-me na Diana Ross e Show Must Go On! Felizmente, daĆ para cĆ”, o investimento no canal foi significativo e hoje uma situaĆ§Ć£o dessas seria impensĆ”vel.
E qual a mensagem mais estranha que jĆ” enviaram para oĀ Net DiĆ”rio?
Adoro mensagens estranhas! SĆ£o essas que tornam o programa interessante. Quanto mais original, melhor, porque vai suscitar a curiosidade de quem estĆ” a ver, assim como me vai obrigar a um esforƧo adicional. E, muitas vezes, a criar algo engraƧado a partir daquilo que foi enviado. Alguns dos melhores momentos, assim como algumas frases que ficaram, surgiram a partir dessas mesmas mensagens estranhas.
DĆŖ-nos um exemplo.
Lembro-me do eterno Poeta sem nome, de Lisboa, com as suas Ā«pombinhas perdidasĀ»; do Ā«Poder do TigreĀ»; de um grupo de Penafiel; e de um miĆŗdo chamado Sosse, que tinha um problema com os paralelos de GueifĆ£es. Nunca me cansarei de repetir isto: Ā«diferente Ć© bomĀ»!
Sente-se realizado com a profissĆ£o que tem? Ć feliz como apresentador?
Sinto falta do Teatro. Ainda nĆ£o percebi bem o que faƧo: se sou ator, apresentador ou uma espĆ©cie de Ā«jornalistaĀ» –Ā como me chamaram todos os dias do Ćŗltimo ano em que andei em reportagens diĆ”rias para o programa das manhĆ£s do Porto Canal.Ā Sei que me sinto bem quando estou no ar, seja no estĆŗdio ou no exterior. A luzinha vermelha da cĆ¢mara liga e a partir daĆ tudo flui naturalmente.
Falemos agora de sonhos e ambiƧƵes. A pergunta da praxe: gostava de apresentar um programa nos canais generalistas?
O Porto Canal tem uma grande vantagem pessoal para mim que Ć© poder fazer algo que amo a partir da minha cidade. Ć normal que as condiƧƵes da cabo nĆ£o sejam as mesmas que as da generalista, mas esta Ć© a minha cidade, a minha casa. Posso nĆ£o chegar a um pĆŗblico tĆ£o extenso, mas estas sĆ£o as minhas pessoas e valem por milhƵes.
Ā«Esta Ć© a minha cidade, a minha casaĀ». NĆ£o estĆ” nos seus planos mudar de cidade?
NĆ£o me interpretem mal, conheƧo bem o paĆs e conheƧo bem Lisboa, uma cidade onde jĆ” vivi algumas histĆ³rias bem bonitas e onde jĆ” me apaixonei por alguns dos seus recantos, mas neste momento o meu pensamento estĆ” no Porto e no Porto Canal.
Certo. Mas imaginemos que o convidam para apresentar um Feitos ao Bife, um Vale Tudo, um Gosto Disto! ou qualquer outro grande formato de entretenimento.
Creio que a questĆ£o nĆ£o seja o formato, tanto que um dos programas referidos [Gosto Disto!] teve a sua inspiraĆ§Ć£o no Net DiĆ”rio, na altura dito, inclusive, pela comunicaĆ§Ć£o social (nĆ£o por mim). Obviamente que os meios da generalista sĆ£o outros, o investimento Ć© muito maior e isso reflete-se, e bem, no produto final. Para mim, o verdadeiro desafio Ć© o Net DiĆ”rio. Se os meios sĆ£o menos, a dificuldade Ć© acrescida.
Qual a sua opiniĆ£o sobre o atual panorama da televisĆ£o portuguesa? O que mudava?
Falta descentralizar. Falta o investimento nas regiƵes. Falta a criaĆ§Ć£o de mais canais fora de Lisboa. Quero ver os talentos do Alentejo, do Algarve, do Minho. Quero ver o que de bom se faz por lĆ”. E com a cabo isso Ć© possĆvel. NĆ£o me parece coerente afunilar o investimento, tanto em infra-estruturas como em publicidade, numa sĆ³ regiĆ£o seja ela qual for. Somos um paĆs e precisamos de ver esse mesmo paĆs na sua totalidade e nĆ£o tomar uma parte pelo todo.
Comunicar, falar, apresentar… Ć© o que pretende continuar a fazer?
Para jĆ”, tenho oĀ Net DiĆ”rio 2.0 previsto para o verĆ£o. Depois, nĆ£o sei e sinceramente ainda nĆ£o pensei nisso. Sempre que fiz planos e grandes projetos, saiu tudo ao contrĆ”rio. EntĆ£o prefiro ir saboreando o fruto que tenho, nĆ£o pensando sempre que amanhĆ£ a Ć”rvore pode nĆ£o dar mais.Ā O Ćŗltimo pedaƧo Ć© sempre o melhor!
Para terminar: no futuro, que gƩnero de programas gostava de conduzir?
Mais do que um formato em particular, o importante Ć© o contacto com as pessoas. NĆ£o vivo obcecado em ser a cara de um programa. Fazer televisĆ£o Ć© acima de tudo um trabalho de equipa. Quem pensa que faz tudo sem a ajuda dos outros, dura pouco neste meio. Ć igual seres o apresentador principal ou seres colaborador de um programa. Fazes parte da equipa e tens de sentir orgulho nisso. Tento pensar pouco no futuro porque hoje tudo pode acontecer.