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A Entrevista – Rita Camarneiro: «Gosto de defeitos. Aborrece-me a linguagem séria e cuidada»

A Televisão
12 min leitura

Rita Camarneiro, nascida a 15 de janeiro de 1988, já conhece bem os corredores da SIC Radical. Considera-se uma pessoa «tímida», embora só se tenha apercebido disso há pouco tempo, mas quando ganha à-vontade diz que vira um «animal social». Com o programa CC All Stars, a carreira desta apresentadora (que já foi guionista e atriz) começa agora a ganhar visibilidade.

Estudaste Psicologia, mas acabaste na televisão. O que é que correu mal?

Correu tudo bem, na verdade. Eu gostava e gosto de psicologia, mas durante o meu curso, no quarto ano, comecei a experimentar stand up comedy, o que me levou à televisão (5 Para a Meia-Noite) e consequentemente a trabalhar como guionista enquanto ainda estudava. Quando acabei o curso coincidiu também com o final da temporada do 5PMN e nessa altura, embora tenha enviado alguns currículos para exercer Psicologia, foi na Academia RTP que consegui estagiar.

Também fizeste um curso de stand up comedy. Tinhas a ambição de ser humorista?

Tinha e tenho. Tenho 28 anos, espero conseguir. Tenho é de trabalhar para isso e agora ando mais focada no CC, que exige também a nossa capacidade de criação e humor.

A tua personalidade extrovertida, regada com uma boa dose de ironia e humor, serve para camuflar uma discreta timidez?

Sou uma pessoa tímida, sim, embora só me tenha apercebido disso há relativamente pouco tempo, mas sou bem-disposta e quando ganho à-vontade, sou um animal social!

Achas que ainda existe muito preconceito com uma mulher que faz comédia?

Não sei. O caso da Amy Schumer, acusada despropositadamente de plágio, deixou-me a pensar que talvez haja algum preconceito. Acho que basicamente há bestas em todo o lado, basta olhar para um vídeo de uma mulher a fazer stand up comedy, por exemplo, quase sempre podemos ler comentários machistas ou sexuais. Mas gosto de acreditar que isso não nos representa enquanto sociedade. Não me vejo diferente de um homem, nem acho que seja tratada de forma diferente por ser mulher.

Quais são os teus limites no humor?

Claro que nem sempre digo aquilo que penso, há coisas que guardo para mim. Faço muitas piadas quando estou em casa com o meu namorado ou com os meus colegas e amigos que não diria num programa juvenil. Não acho que deva haver limites, uma pessoa pode achar graça ou não; se não achar, «siga para bingo», não vale a pena ficar a remoer ou sentir-se ofendido. Nenhuma piada é para ser levada a sério, senão isto não tem graça nenhuma.

A tua primeira participação em televisão foi no 5 Para a Meia-Noite. Como correu a experiência?

Gostei muito. Aprendi muito. Era tudo novo para mim: Lisboa, a televisão, as pessoas. Foi bom, essa ter sido a minha primeira experiência profissional, foi um belo aquecimento para o que aí vinha.

Começaste a escrever para a Filomena Cautela, depois para o Boinas e por fim foste para a equipa da Luísa Barbosa. Nunca pensaste: «Bolas! Porque é que eu não estou no lugar deles?»

Sinceramente, não. Nunca pensei isso. Gostava (e gosto) de escrever e de representar. Nunca me passou pela cabeça fazer o que eles faziam.

Entretanto, embarcaste na Academia RTP, mas depois disso seguiram-se vários meses sem emprego. O quão difícil é passar pela «travessia do deserto»?

Nos tempos em que estive mais parada, ou sem um emprego que me desse estabilidade financeira, sentimo-nos inúteis, questionamos as opções que tomámos e pomos em dúvida as nossas capacidades. É preciso quebrar esse ciclo vicioso e autodestrutivo. No meu caso, tentei continuar a escrever e fui-me entretendo a ler, com séries, filmes, enquanto enviava currículos e ideias para todas as direções.

Valeu a pena a espera! Foste selecionada, em 2013, para apresentar o talk show Anti-Social com o Rui Unas. Sei que choraste de emoção…

Fiz o casting e embora me tenha corrido bem, havia alguma concorrência. Por isso, quando fiquei, senti-me muito feliz, claro. O chorar de emoção é precisamente por ser uma pessoa sensível. Quando me dedico e trabalho para conseguir alguma coisa e consigo, fico sempre extasiada.

Que pontos positivos guardas deste projeto?

O ponto mais positivo e gratificante foi sem dúvida as pessoas, desde a produção aos conteúdos, a equipa técnica, o Rui Unas… Basicamente conheci os colegas com quem hoje trabalho. O Anti-Social permitiu-me também mais tarde ser convidada para integrar a equipa do CC.

E o lado menos positivo?

O lado menos positivo foi a forma como tinha de parecer muito mais mulher ou senhora, e eu sentia-me noutro corpo… que não era o meu. Ou seja, acho que me exigiam uma persona que não correspondia àquilo que eu sou na realidade, podendo até às vezes ser confundida.

Esperavas que o Anti-Social durasse mais tempo?

Não. Os fins motivam mudanças, e eu gosto de mudanças.

Já em 2015 deste o salto para um novo programa, o CC All Stars. Os teus «superiores» estão satisfeitos com a tua prestação?

Gosto genuinamente de trabalhar no CC e acho que esse entusiasmo nota-se. É um programa que nos possibilita criar coisas novas, experimentar, falhar, ter sucesso. Superou as minhas expetativas e sei que os meus «superiores» estão satisfeitos comigo, principalmente com a minha evolução.

O CC é um programa icónico da SIC Radical. Sentes que ainda tem o mesmo impacto de outros tempos?

Penso que sim, embora hoje haja mais opções. Agora enquanto vemos televisão estamos com o computador ou o telemóvel à frente a fazer outras coisas. A nossa atenção é mais dispersa, mas o CC tem uma base de fãs muito fiel e continua a captar novos públicos. Isso também se deve ao facto de ter conseguido adaptar-se a essas mudanças. Se por alguma razão sentimos que o CC já não diz muito a algumas pessoas é porque elas também cresceram, e o CC sempre foi um programa mais virado para os jovens.

Gostavas de ficar mais quantos anos no CC?

Não sei. Gostava de ficar mais uns anitos, uns dois ou três. Seria irrealista se dissesse que queria ficar dez. Eu sei que é um programa que se renova, algum dia será o meu dia de ir embora. Encaro isso com naturalidade.

Fala-me sobre os teus colegas do programa. O que é que gostas mais e menos neles?

Sei lá… São todos diferentes, bons colegas. São amigos, acima de tudo. É isso que mais gosto neles, a amizade! Somos um grupo unido, rimo-nos muito, dançamos, cantamos e choramos também se for preciso. O que gosto menos: os arrotos. Todos eles arrotam, menos eu.

Quase todos os apresentadores que passam pelo CC têm aquele desejo de passar para um canal generalista. Também tens esse «bichinho»?

Sou-vos sincera, ainda não tenho esse bichinho.

Mas há algum género de programa que ambicionas apresentar?

Gostava de um programa que estivesse ligado à comédia de alguma forma (uma sitcom, por exemplo). Mas imagino-me a fazer outras coisas, como uma série, representar… E tenho um bichinho ou fantasia, se quiserem: gostava de ser detective. Eu sei que pode parecer estranho mas gostava ainda de um dia tentar ir para a polícia judiciária ou quiçá ser detetive privado, caso a profissão fosse legal em Portugal.

Acreditas que a SIC Radical é uma porta aberta para a tua evolução?

Eu gostava, mas não quero agoirar. A SIC Radical tem-me permitido crescer e pôr-me à prova ao longo destes anos. Sinto-me muito bem neste canal e verdade seja dita, acho que é a minha cara! Por isso sim, espero manter-me aqui mais anos e evoluir para outros projetos quando a minha participação no CC acabar.

Enquanto apresentadora, que aspetos ainda podes melhorar?

Podemos sempre melhorar mais, mas não tenciono ser perfeita como apresentadora porque isso é impossível. E eu gosto de defeitos. Aborrece-me a linguagem séria e extremamente cuidada, bloqueia-me a criatividade e torna-nos máquinas. Gosto de naturalidade, gosto de me rir, e tenciono melhorar aí, fazer cada vez melhores conteúdos para o programa e criar mais momentos divertidos.

Qual é a parte chata de trabalhar em televisão? Qual é o lado negro disto tudo?

Não gosto da parte das fotografias, as poses, a superficialidade, isso aborrece-me. Esse é o lado que não gosto tanto e que não está diretamente relacionado com a televisão, mas a ideia que muitas vezes passa quando se entra no chamado «mundo da televisão» é que se queres ser reconhecida e ter trabalho tens de ir aos eventos de forma apresentável, aparecer numa série de revistas onde pedem às mulheres para serem sensuais, etc. Há toda uma parte nisto que não me interessa minimamente e que embora se diga «que faz parte», cabe a ti saber se queres fazer parte disso ou não.

Três segredos sobre ti.

Gostava de saber cantar. Não consigo tocar em esfregões de arame. Um dia conheci um ídolo meu da comédia e enquanto falava lancei um perdigoto em forma de bola de sabão que andou a pairar a nossa rápida conversa. Para além disso, era o dia mais quente do ano e suava em barda.

Quase a terminar, um clássico: que pergunta faltou fazer?

Nenhuma. Isto foi aqui uma longa entrevista, obrigada pelo convite!

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