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A Entrevista – PAUS

Diana Casanova
11 min leitura

Através da banda PAUS e em linha com a nova rubrica do A Televisão – Fora da Caixa, alargamos o nosso espectro de informação, apostando também no mundo da música em mais uma edição de A Entrevista. Vamos revelar algumas conversas que tivemos com algumas das bandas mais conhecidas do nosso país, outras menos conhecidas, mas nem por isso menos relevantes no panorama musical nacional.

Hoje é a vez da banda PAUS, composta por Fábio Jevelim, Hélio Morais, Joaquim Albergaria e Makoto Yagyu. Além de terem já atuado nas principais salas e festivais nacionais, o quarteto não se cingiu ao nosso país, mas está também cada vez mais a dar cartas no estrangeiro. 

Conhece-os melhor em seguida, assim como o que podes esperar da tour deste ano da banda ou de qualquer concerto. O mote deles é fazer tudo «com vontade de que seja memorável». 


O Cinema São Jorge, em Lisboa, recebeu a primeira data do ano dos PAUS. Entre muitos ensaios, o concerto correspondeu às vossas expectativas?

Correspondeu. Tínhamos preparado um espectáculo em que acreditamos muito – alinhamento e desenho de luz – e queríamos muito partilhar isso. As reações foram muito boas e isso deixou-nos muito felizes.

Conseguiram o feito de esgotar o São Jorge que é uma das salas mais emblemáticas de Lisboa. Estavam à espera desta grande receção por parte do público?

Já tínhamos tido uma casa semelhante no CCB, em 2012 e mesmo esgotado o Lux no ano passado, mas o que nos deixou realmente felizes foi consegui-lo dois meses depois de termos tocado no CCB. Foi muito satisfatório ter conseguido esse feito.

A vossa tour começou em Lisboa, mas agora seguem para outras cidades de Portugal. Vocês, enquanto grupo, sentem a necessidade de surpreender o público a cada concerto que dão?

Sentimos a necessidade de nos satisfazermos a nós mesmos, em primeiro lugar. Porque se o conseguirmos fazer, a probabilidade de surpreendermos/satisfazermos o público aumenta.

E o que é que os vossos fãs podem esperar da tour 2016?

Muitos concertos. Já passamos por Lisboa, Coimbra, Ílhavo, Faro, Ovar, Paris, Lille e Ponta Delgada. E vamos ainda a Schijndel, Amsterdam, Bruxelas, Guimarães, São João da Madeira, Castelo Branco, Mêda e também ao NOS Alive.

Está feita a apresentação do vosso novo disco «Mitra». O que vos inspirou para criar este álbum?

O mesmo de sempre; uns aos outros. Somos as maiores fontes de inspiração, uns para os outros. Compomos cada instrumento a quatro. Há um executante, mas há sempre quatro compositores.

O resultado final é do vosso agrado?

É. Estamos muito contentes com o que conseguimos com este disco. Conseguimos exigir muito de nós, nomeadamente nas vozes, e chegamos ao fim com a sensação de dever cumprido e realização.

Já é o vosso terceiro disco. Em que difere este último dos anteriores?

Difere o ritmo – este está mais compassado e cambaleante – e difere a abordagem nas vozes. Está um disco mais chegado ao ritmo do coração.

Qual é a mensagem que «Mitra» pretende transmitir ao público?

Quando nos perguntavam o que éramos, ou em que gaveta nos colocamos, tínhamos imensas dificuldades em responder. Ainda hoje temos. Acabámos por fazer uma apropriação do mitra, que é aquele que está num determinado sítio e está bem, mas que tem qualquer coisa que o distingue e que faz com que não pertença totalmente ali. Não faria, em teoria, sentido os PAUS tocarem no mesmo palco que os Radiohead, mas tocaram. Não faria sentido, em teoria, uma banda com duas baterias e muito pouca voz passar numa rádio nacional, mas passou e continua a passar. É isto de poder ser muitas coisas ao mesmo tempo, ou só uma individualmente, mas ir sendo parte – mais, ou menos desalinhado.

Não vos vou perguntar o porquê de Paus como nome de banda até porque já o justificaram em várias entrevistas. Numa delas disseram que era um nome que poderia ser «dito em qualquer língua», entre outras razões. A internacionalização sempre foi um objetivo vosso?

Não foi sempre um objetivo, porque inicialmente até pensávamos que iríamos somente tocar num circuito que respeitávamos muito, como a ZDB, Maus Hábitos, Teatros, etc. Depois acabámos por conseguir extrapolar a banda para outros lados e a vontade foi começando a crescer. Aconteceu tudo de forma muito natural e surpreendente a cada passo.

Vocês já estiveram um pouco pela Europa. Nesta nova tour voltam a tocar no estrangeiro. Satisfeitos com este vosso percurso além-fronteiras?

Sim. Nos últimos dois anos tocámos mais fora de Portugal, do que cá. Temos tido a sorte de passar por alguns dos nossos festivais preferidos – portugueses e estrangeiros – e isso tem-nos permitido depois fazer tours de clubes um pouco por todo o lado. Este ano estamos a dar continuidade ao que temos vindo a construir.

É mais fácil estar perante uma plateia cá ou lá fora? O misto de sentimentos é o mesmo?

É diferente em todo o lado, de cidade para cidade, de país para país. Não há uma regra.

Já aconteceu darem mais concertos no estrangeiro do que cá. Isso deve-se a um objetivo vosso ou o mercado português é mais fechado?

Investimos muito no estrangeiro, com o CLARÃO, até porque estávamos na estrutura do Primavera Sound de Barcelona. Mas não damos mais importância a um mercado, ou a outro. Na verdade, é tudo um só mercado.

Contrariamente a outros projetos portugueses, vocês tocam apenas em português. É esse o registo que querem manter no futuro?

Sim. Nem nos passa pela cabeça fazer de outra forma.

Mesmo num registo em português, a vossa banda é um êxito no estrangeiro. O sentimento de conquista é maior?

Não sabemos, porque a nossa carreira só existe em português. Mas não somos patriotas, se a pergunta era nesse sentido. Cantamos na língua em que contamos os nossos dias às nossas famílias, quando chegamos a casa. Pareceu fazer-nos sentido.

Fomos à vossa página de facebook e fizemos uma seleção de opiniões. Sentem que estão no bom caminho quando leem este género de comentários:

– Bom saber que em Portugal há bandas assim. Esta (a música) vai para os meus amigos no Brasil que curtem um sonzinho bom e bem alternativo;

– Ainda hoje os ouvi. Melhora a cada vez que se ouve. Bom trabalho rapazes;

– Vocês tão grande show. Grande música. Tudo de bom.

Fazemos música, em primeiro lugar, para nos realizarmos a nós mesmos. Depois de estar feita, o que mais desejamos é que haja pessoas que a recebam com o coração. Portanto, quando lemos comentários desse género, sentimo-nos muito felizes e recompensados.

É necessário um grande esforço para se conseguir vingar neste mundo (o dá música)?

É. Pessoal e das famílias. Mas somos felizes a fazê-lo. Quantas pessoas podem dizer que fazem o que gostam?

A internet veio democratizar um pouco a música?

A internet é mais uma ferramenta. Se por um lado pode ser mais fácil chegar ao outro lado do Mundo, por outro há muito mais ruído e informação para triar. É tentar usá-la de forma inteligente.

Mas há quem considere que a internet veio matar um pouco o mercado no sentido de que as vendas de álbuns já não são as mesmas. Enquanto cantores, a música deve adaptar-se aos novos tempos?

A internet veio baralhar. E as editoras têm sido, aparentemente, os maiores prejudicados. Mas não nos esqueçamos que cada vez se torna mais difícil uma banda nova gravar um disco, porque há cada vez menos editoras a pagarem estúdios. Só para perspetivar. Sem qualquer tipo de moralismo.
Quanto à música, nunca se deve adaptar aos novos tempos; as formas de comunicação e divulgação, sim.

No vosso calendário para este ano destaca-se uma data: 9 de julho. Vão voltar a atuar no NOS Alive, um dos principais festivais de verão em Portugal. Não vão haver nervos por já não se tratar de uma estreia?

Na verdade será a quarta vez que ali actuaremos – 2010, 2012, 2014 e 2016. Os nervos são sempre imprevisíveis. Aparecem quando menos esperamos e não estão quando mais os esperamos.

É diferente tocar para uma plateia com milhares de pessoas ou a vossa forma de fazer espetáculo mantém-se inalterada independentemente do número de espectadores?

É sempre pensado da mesma forma; com vontade de que seja memorável.


Redatora e cronista