Como estão a correr as gravações de As Poderosas?
Estão a correr muito bem. Temos um excelente ambiente de trabalho, uma ótima camaradagem. É mais um projeto forte da SP Televisão e da SIC, que tentam pela primeira vez conquistar um segundo horário noturno com ficção nacional. Dá-nos uma motivação extra por isso, apesar de eu considerar que a minha função é dar o meu melhor, todos os dias, sem pensar em audiências. Claro que acabo por dar importância às audiências porque quero que seja um projeto bem sucedido, e espero estar a contribuir da melhor forma para que assim seja.
Sentes-te «poderoso» por participares nesta novela da SIC?
Sinto-me lisonjeado. Sinto-me um sortudo. [risos] É um projecto que fica na história da televisão nacional, é a primeira vez que a SIC aposta neste segundo horário com uma produção nacional. E ficar associado a essa aposta é fantástico! Mas é também uma grande responsabilidade. Só que é daquelas responsabilidades que dão a tal motivação extra. É um privilégio.
É a primeira vez que trabalhas com alguns amigos como a Maria João LuÃs, o Rogério Samora e o Pedro Sousa. É bom trabalhar com amigos?
Bom, antes de mais admiro muito os três. O Pedro é meu amigo há bastante tempo, por causa do surf, temos vários amigos em comum. É um bom amigo, e é sempre bom trabalhar com bons amigos. E bons profissionais. Com o Rogério tenho uma excelente relação, já tÃnhamos comentado que nunca tÃnhamos trabalhado juntos. É desta [risos] É muito bom trabalhar com pessoas que admiro. Isso vale para os três. A João é das melhores atrizes portuguesas, é o desejo de qualquer ator poder trabalhar com ela, e felizmente estou a ter essa oportunidade. Além de três excelentes profissionais, são três pessoas que me têm tratado muito bem, e a quem tento retribuir da mesma forma.
Como caracterizas o teu personagem, VÃtor?
O Vitor é bom rapaz, trabalhador, defensor de ideais de igualdade, liberdade, equidade, justiça. Choca com o patrão (o Julião, interpretado pelo Adriano Luz) em termos ideológicos, mas acaba por construir uma relação de afeto e respeito pelo mesmo, logo não o confronta «à bruta», porque não quer levantar ondas e porque também não quer ser despedido. [risos] É mais perspicaz do que parece.
O que é que este VÃtor tem de ti?
O gosto pelo desporto. Acabei por querer que ele fosse mais entroncado, o que o torna um pequeno «matraquilho». [risos] Além disso, não gosta de levantar ondas.
Acreditas que todas as personagens, mesmo os mais loucos ou vilões, têm um pouco da personalidade do ator?
É difÃcil de responder. Personalidade, talvez não. Algumas pinceladas de personalidade, de alguns trejeitos, algumas posturas, e claro a voz. Acho que há personagens que acabam por ter mais que ver connosco, por coincidência, à s quais emprestamos inconscientemente (ou conscientemente) mais caracterÃsticas nossas. Mas os mais desafiantes são os que nos distanciam mais daquilo que somos e como somos. Porque tal como dizem os franceses – joue -, o meu ofÃcio torna-se mais interessante quando somos mais desafiados pelo jogo, e assumimos um papel de jogador diferente daquilo que somos na vida real.
No teu caso, como é que te inspiras para construir um personagem?
Vou aos pormenores. Tento criar uma história para além do que está escrito. Isso serve fundamentalmente para mim, como construção, e não passa tanto para o espetador. Mas no processo de construção é fundamental. Um exemplo: para a novela Perfeito Coração, para a SIC, eu fazia de mecânico de automóveis, e fui estagiar para uma oficina como aprendiz de mecânico durante um mês. Fiz de tudo, desde lavar alguns 40 carros num dia, a mudar pastilhas e discos dos travões, etc… E criei amizades. Entre os mecânicos que me ajudaram. Eles não sabiam bem o que é que eu estava ali a fazer, eu não tinha feito trabalhos com grande visibilidade até à data, fazia fundamentalmente teatro. É fundamental para mim e foi muito útil.
O público tem reagido bem à tua prestação na novela?
Tem sim! Isto apesar de eu ter um personagem que está longe de ser protagonista, mas também não tenho essa ambição. É um personagem que me está a dar muito gozo, e o feedback que tenho permite-me ter a noção que a novela é acompanhada por muita gente.
O que é que te está a entusiasmar mais neste projeto?
O desafio diário, com toda a equipa, que já conhecia na sua grande maioria. É um prazer. E o de corresponder da melhor forma à aposta neste segundo horário.
O teu percurso na televisão começou em 2001 com a participação na série juvenil Uma Aventura. Muita coisa mudou em ti ao longo destes 14 anos?
Muita coisa! Como é normal em relação a toda a gente, amadureci. Profissionalmente mas também pessoalmente. Já sou pai, que é a melhor coisa do mundo, e isso dá-me uma bagagem maior até para o trabalho. A experiência de vida acaba por ser importante, ao fornecer-nos ferramentas. Mas se eu fizer de serial killer não vou experimentar nada para lado nenhum, nestes casos a imaginação é fundamental, o processo criativo, a partir do nada. Como as crianças fazem. Do nada fazem um brinquedo ou uma brincadeira. Espero nunca perder esse espÃrito.
Uma das novelas que te projetaram foi Perfeito Coração. O que significou para ti esta produção?
Guardo com todo o carinho, no meu coração. É um projeto que tem um lugar especial. O Constantino (o meu personagem) dura até hoje, ainda me falam nele. [risos] Foi um projeto perto da perfeição, pela equipa, pela história, por tudo. Mas não fico preso ao passado, quero mais, e quero dar muito mais. Mas é um projeto muito especial para mim. Até porque foi o meu primeiro papel de destaque numa novela, e logo numa casa tão especial para mim como a SP Televisão, a quem devo muito e tento retribuir da mesma forma.
Muitos dos papéis pelos quais és conhecido estão ligados à comédia. É um registo onde te sentes mais à vontade?
Sinto-me bem, mas não tenho preferência pela comédia. Gosto muito de me rir, daà se calhar puxar mais para esse lado. Mas em teatro e algum cinema sempre fiz papéis mais dramáticos. E correram bem. Desde que os projetos sejam bons, para mim tanto faz ser comédia ou tragédia.
Um ator vive de papéis… É importante para um ator ter a oportunidade de experimentar vários registos?
Essa experiência é muito importante, mas mais que a variedade e quantidade, a qualidade é fundamental. Bons projetos, bons textos, bons papéis (que não dependem do protagonismo ou número de cenas) são fundamentais.
Houve alguma personagem que te tivesse marcado de forma especial e que sentes que ficará contigo para sempre?
O Constantino fica para sempre. Mas recordo-me de todos. De alguma forma ficam todos, mas tal como disse, prefiro olhar para a frente. Mas recordo com alegria e felicidade muitos deles, e isso é bom.
Tens um plano B, caso a representação falhe?
Não penso nessa falha, mas como pai que sou, estou preparado para tudo, até para recolher o lixo da rua se for preciso, com todo o respeito pelos profissionais que o fazem. Desde que não falte nada às minhas filhas e à minha mulher, isso é o mais importante para mim. Mas não penso nessa falha.
Quando começaste a trabalhar como ator, tinhas consciência de que não é uma vida fácil. Isso não te fez mudar de ideias?
Nunca me fez mudar de ideias. Claro que tive as minhas dúvidas e inseguranças, como toda a gente em todas as áreas. Mas eu amo o meu ofÃcio, e saio com muito mais motivação de casa para batalhar por algo que amo do que por algo que faço por frete.
Ficas preocupado com o futuro das tuas filhas tendo a vida que tens, que é gerida pela inconstância?
Hoje em dia a insegurança existe para qualquer profissão, na minha não é novidade. É duro? É. Mas amo o meu ofÃcio, e acho que tenho muito para dar, sem pretensiosismos. Sou batalhador, vou à luta. Claro que há dias em que custa mais, mas vou à luta, e não gosto de estar à espera que façam as coisas por mim. Se é para fazer, bora lá! Claro que não fiz tudo o que queria ter feito até agora, tenho muitos projecos pendentes…
Como pessoa, mudaste quando foste pai?
Mudei. Durmo menos. [risos] Agora a sério, as minhas filhas exigem o melhor de mim, e isso tornou-me indiretamente uma pessoa melhor, acho eu. Se quero ser o melhor para as minhas filhas, e para a minha mulher, isso eleva os meus padrões de exigência para comigo próprio. Eu quero ser o super-homem para elas, quero nunca lhes falhar em nada. Quero que sintam que podem contar sempre comigo. Quero fazê-las felizes, ao máximo. Isso exige mais de mim. As prioridades mudam. Mas para mim muda tudo para muito melhor.
Paralelamente à representação, descobriste uma nova faceta enquanto humorista. Desde o inÃcio do ano, tens feito várias participações em espetáculos de stand up comedy. Está a ser uma experiência positiva?
Se está a ser positiva, é melhor perguntar a quem vai ver, mas tem-me dado um gozo brutal. Eu já sou fã há muito tempo de stand up, nacional e internacional. Já tinha sido desafiado e já tinha pensado nisso mas nunca tinha dado o passo em frente, só uma pessoa que admiro muito como o Eduardo Madeira é que me conseguiria convencer. O Eduardo e a Joana Machado Madeira é que me conseguiram convencer. Aceitei, e dá-me um gozo brutal. Tanto a fazer stand up como o próprio processo de escrita. Exercito a escrita, e tenho a ajuda de dois grandes amigos e talentosos guionistas que me têm dado muito material de qualidade. Eu depois misturo com o que escrevi, e tem resultado bem. E é algo que tenciono continuar a fazer. Porque de facto dá-me muito gozo. Há pouco mais de uma semana tive a oportunidade de participar num espectáculo no Villaret com a sala completamente esgotada! Foi inesquecÃvel!
Gostavas de ir para o estrangeiro fazer uma novela (ou um filme, quem sabe)?
Gostava. Seja teatro, cinema ou televisão, gostava muito. Acho que é um desejo de qualquer actor.
Tens um ar muito alegre e bem-disposto. Quando estás maldisposto não te levam a mal? As pessoas não cobram isso?
Tenho os meus dias e os meus momentos, não sou uma máquina. Muitas vezes não durmo o que queria e precisava e isso vê-se, mas tento levar a vida da forma mais positiva possÃvel. E como tenho um bocado a mania que sou um «palhacinho» prefiro criar boa disposição à minha volta. Nem sempre sou bem-sucedido, e nem sempre estou com disposição para isso. Mas normalmente estou bem-disposto.
A pergunta cliché: onde é que te vês daqui a dez anos?
Não faço ideia. Presumo que mais preocupado com a entrada na adolescência e pré-adolescência das minhas filhas, e com um núcleo familiar forte e feliz. Com trabalho, saúde e feliz… Ah, e com muitas vitórias do meu Sporting nestes 10 anos! [risos]