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A Entrevista – Miguel Costa

A Televisão
14 min leitura

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Como estão a correr as gravações de As Poderosas?

Estão a correr muito bem. Temos um excelente ambiente de trabalho, uma ótima camaradagem. É mais um projeto forte da SP Televisão e da SIC, que tentam pela primeira vez conquistar um segundo horário noturno com ficção nacional. Dá-nos uma motivação extra por isso, apesar de eu considerar que a minha função é dar o meu melhor, todos os dias, sem pensar em audiências. Claro que acabo por dar importância às audiências porque quero que seja um projeto bem sucedido, e espero estar a contribuir da melhor forma para que assim seja.

Sentes-te «poderoso» por participares nesta novela da SIC?

Sinto-me lisonjeado. Sinto-me um sortudo. [risos] É um projecto que fica na história da televisão nacional, é a primeira vez que a SIC aposta neste segundo horário com uma produção nacional. E ficar associado a essa aposta é fantástico! Mas é também uma grande responsabilidade. Só que é daquelas responsabilidades que dão a tal motivação extra. É um privilégio.

É a primeira vez que trabalhas com alguns amigos como a Maria João Luís, o Rogério Samora e o Pedro Sousa. É bom trabalhar com amigos?

Bom, antes de mais admiro muito os três. O Pedro é meu amigo há bastante tempo, por causa do surf, temos vários amigos em comum. É um bom amigo, e é sempre bom trabalhar com bons amigos. E bons profissionais. Com o Rogério tenho uma excelente relação, já tínhamos comentado que nunca tínhamos trabalhado juntos. É desta [risos] É muito bom trabalhar com pessoas que admiro. Isso vale para os três. A João é das melhores atrizes portuguesas, é o desejo de qualquer ator poder trabalhar com ela, e felizmente estou a ter essa oportunidade. Além de três excelentes profissionais, são três pessoas que me têm tratado muito bem, e a quem tento retribuir da mesma forma.

Como caracterizas o teu personagem, Vítor?

O Vitor é bom rapaz, trabalhador, defensor de ideais de igualdade, liberdade, equidade, justiça. Choca com o patrão (o Julião, interpretado pelo Adriano Luz) em termos ideológicos, mas acaba por construir uma relação de afeto e respeito pelo mesmo, logo não o confronta «à bruta», porque não quer levantar ondas e porque também não quer ser despedido. [risos] É mais perspicaz do que parece.

O que é que este Vítor tem de ti?

O gosto pelo desporto. Acabei por querer que ele fosse mais entroncado, o que o torna um pequeno «matraquilho». [risos] Além disso, não gosta de levantar ondas.

Acreditas que todas as personagens, mesmo os mais loucos ou vilões, têm um pouco da personalidade do ator?

É difícil de responder. Personalidade, talvez não. Algumas pinceladas de personalidade, de alguns trejeitos, algumas posturas, e claro a voz. Acho que há personagens que acabam por ter mais que ver connosco, por coincidência, às quais emprestamos inconscientemente (ou conscientemente) mais características nossas. Mas os mais desafiantes são os que nos distanciam mais daquilo que somos e como somos. Porque tal como dizem os franceses – joue -, o meu ofício torna-se mais interessante quando somos mais desafiados pelo jogo, e assumimos um papel de jogador diferente daquilo que somos na vida real.

No teu caso, como é que te inspiras para construir um personagem?

Vou aos pormenores. Tento criar uma história para além do que está escrito. Isso serve fundamentalmente para mim, como construção, e não passa tanto para o espetador. Mas no processo de construção é fundamental. Um exemplo: para a novela Perfeito Coração, para a SIC, eu fazia de mecânico de automóveis, e fui estagiar para uma oficina como aprendiz de mecânico durante um mês. Fiz de tudo, desde lavar alguns 40 carros num dia, a mudar pastilhas e discos dos travões, etc… E criei amizades. Entre os mecânicos que me ajudaram. Eles não sabiam bem o que é que eu estava ali a fazer, eu não tinha feito trabalhos com grande visibilidade até à data, fazia fundamentalmente teatro. É fundamental para mim e foi muito útil.

O público tem reagido bem à tua prestação na novela?

Tem sim! Isto apesar de eu ter um personagem que está longe de ser protagonista, mas também não tenho essa ambição. É um personagem que me está a dar muito gozo, e o feedback que tenho permite-me ter a noção que a novela é acompanhada por muita gente.

O que é que te está a entusiasmar mais neste projeto?

O desafio diário, com toda a equipa, que já conhecia na sua grande maioria. É um prazer. E o de corresponder da melhor forma à aposta neste segundo horário.

O teu percurso na televisão começou em 2001 com a participação na série juvenil Uma Aventura. Muita coisa mudou em ti ao longo destes 14 anos?

Muita coisa! Como é normal em relação a toda a gente, amadureci. Profissionalmente mas também pessoalmente. Já sou pai, que é a melhor coisa do mundo, e isso dá-me uma bagagem maior até para o trabalho. A experiência de vida acaba por ser importante, ao fornecer-nos ferramentas. Mas se eu fizer de serial killer não vou experimentar nada para lado nenhum, nestes casos a imaginação é fundamental, o processo criativo, a partir do nada. Como as crianças fazem. Do nada fazem um brinquedo ou uma brincadeira. Espero nunca perder esse espírito.

Uma das novelas que te projetaram foi Perfeito Coração. O que significou para ti esta produção?

Guardo com todo o carinho, no meu coração. É um projeto que tem um lugar especial. O Constantino (o meu personagem) dura até hoje, ainda me falam nele. [risos] Foi um projeto perto da perfeição, pela equipa, pela história, por tudo. Mas não fico preso ao passado, quero mais, e quero dar muito mais. Mas é um projeto muito especial para mim. Até porque foi o meu primeiro papel de destaque numa novela, e logo numa casa tão especial para mim como a SP Televisão, a quem devo muito e tento retribuir da mesma forma.

Muitos dos papéis pelos quais és conhecido estão ligados à comédia. É um registo onde te sentes mais à vontade?

Sinto-me bem, mas não tenho preferência pela comédia. Gosto muito de me rir, daí se calhar puxar mais para esse lado. Mas em teatro e algum cinema sempre fiz papéis mais dramáticos. E correram bem. Desde que os projetos sejam bons, para mim tanto faz ser comédia ou tragédia.

Um ator vive de papéis… É importante para um ator ter a oportunidade de experimentar vários registos?

Essa experiência é muito importante, mas mais que a variedade e quantidade, a qualidade é fundamental. Bons projetos, bons textos, bons papéis (que não dependem do protagonismo ou número de cenas) são fundamentais.

Houve alguma personagem que te tivesse marcado de forma especial e que sentes que ficará contigo para sempre?

O Constantino fica para sempre. Mas recordo-me de todos. De alguma forma ficam todos, mas tal como disse, prefiro olhar para a frente. Mas recordo com alegria e felicidade muitos deles, e isso é bom.

Tens um plano B, caso a representação falhe?

Não penso nessa falha, mas como pai que sou, estou preparado para tudo, até para recolher o lixo da rua se for preciso, com todo o respeito pelos profissionais que o fazem. Desde que não falte nada às minhas filhas e à minha mulher, isso é o mais importante para mim. Mas não penso nessa falha.

Quando começaste a trabalhar como ator, tinhas consciência de que não é uma vida fácil. Isso não te fez mudar de ideias?

Nunca me fez mudar de ideias. Claro que tive as minhas dúvidas e inseguranças, como toda a gente em todas as áreas. Mas eu amo o meu ofício, e saio com muito mais motivação de casa para batalhar por algo que amo do que por algo que faço por frete.

Ficas preocupado com o futuro das tuas filhas tendo a vida que tens, que é gerida pela inconstância?

Hoje em dia a insegurança existe para qualquer profissão, na minha não é novidade. É duro? É. Mas amo o meu ofício, e acho que tenho muito para dar, sem pretensiosismos. Sou batalhador, vou à luta. Claro que há dias em que custa mais, mas vou à luta, e não gosto de estar à espera que façam as coisas por mim. Se é para fazer, bora lá! Claro que não fiz tudo o que queria ter feito até agora, tenho muitos projecos pendentes…

Como pessoa, mudaste quando foste pai?

Mudei. Durmo menos. [risos] Agora a sério, as minhas filhas exigem o melhor de mim, e isso tornou-me indiretamente uma pessoa melhor, acho eu. Se quero ser o melhor para as minhas filhas, e para a minha mulher, isso eleva os meus padrões de exigência para comigo próprio. Eu quero ser o super-homem para elas, quero nunca lhes falhar em nada. Quero que sintam que podem contar sempre comigo. Quero fazê-las felizes, ao máximo. Isso exige mais de mim. As prioridades mudam. Mas para mim muda tudo para muito melhor.

Paralelamente à representação, descobriste uma nova faceta enquanto humorista. Desde o início do ano, tens feito várias participações em espetáculos de stand up comedy. Está a ser uma experiência positiva?

Se está a ser positiva, é melhor perguntar a quem vai ver, mas tem-me dado um gozo brutal. Eu já sou fã há muito tempo de stand up, nacional e internacional. Já tinha sido desafiado e já tinha pensado nisso mas nunca tinha dado o passo em frente, só uma pessoa que admiro muito como o Eduardo Madeira é que me conseguiria convencer. O Eduardo e a Joana Machado Madeira é que me conseguiram convencer. Aceitei, e dá-me um gozo brutal. Tanto a fazer stand up como o próprio processo de escrita. Exercito a escrita, e tenho a ajuda de dois grandes amigos e talentosos guionistas que me têm dado muito material de qualidade. Eu depois misturo com o que escrevi, e tem resultado bem. E é algo que tenciono continuar a fazer. Porque de facto dá-me muito gozo. Há pouco mais de uma semana tive a oportunidade de participar num espectáculo no Villaret com a sala completamente esgotada! Foi inesquecível!

Gostavas de ir para o estrangeiro fazer uma novela (ou um filme, quem sabe)?

Gostava. Seja teatro, cinema ou televisão, gostava muito. Acho que é um desejo de qualquer actor.

Tens um ar muito alegre e bem-disposto. Quando estás maldisposto não te levam a mal? As pessoas não cobram isso?

Tenho os meus dias e os meus momentos, não sou uma máquina. Muitas vezes não durmo o que queria e precisava e isso vê-se, mas tento levar a vida da forma mais positiva possível. E como tenho um bocado a mania que sou um «palhacinho» prefiro criar boa disposição à minha volta. Nem sempre sou bem-sucedido, e nem sempre estou com disposição para isso. Mas normalmente estou bem-disposto.

A pergunta cliché: onde é que te vês daqui a dez anos?

Não faço ideia. Presumo que mais preocupado com a entrada na adolescência e pré-adolescência das minhas filhas, e com um núcleo familiar forte e feliz. Com trabalho, saúde e feliz… Ah, e com muitas vitórias do meu Sporting nestes 10 anos! [risos]

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