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A Entrevista – Matilde Breyner | A Única Mulher

A Televisão
19 min leitura

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Hoje, ao recordar os seus os primeiros passos na representação, em 2003, Matilde Breyner considera que ainda era muito nova e que não estava preparada para entrar a fundo neste meio. No entanto, não se deixou intimidar pelo medo e decidiu correr os riscos com todas as dificuldades que isso acarreta. Aos 30 anos, a atriz de A Única Mulher é o rosto de uma geração. Apesar de já ter participado em programas como A Mãe do Senhor Ministro, é agora em 2015 que tem aquele que considera o seu primeiro grande papel num projeto televisivo. «Foi uma grande oportunidade que a TVI me deu para voltar em força».

As portas parecem estar a abrir-se e o convite para integrar A Única Mulher, que foi uma das grandes apostas da TVI para 2015, é um exemplo disso. A que deves esse feito?

Muito trabalho, mas acima de tudo muita fé e preserverança. Acreditei sempre que esta oportunidade ia chegar. Não me vejo a fazer outra coisa. Nos tempos em que estive mais parada decidi estudar, apliquei-me, mantive-me ocupada em apostar na minha formação e em manter contacto com as pessoas da área, que é muito importante. Não nos podemos isolar. Temos que fazer contactos, trocar experiências, ir a castings e acreditar. Acima de tudo, acreditarmos em nós.

Que balanço fazes da novela e de toda esta experiência enquanto Mitó?

O balanço é muito positivo. Estamos a gravar há um ano, uma novela de sucesso, com uma equipa extraordinária. Não há um dia que vá trabalhar e que sinta que vou trabalhar. Sinto que saio de casa para ir para casa. É muito motivante estar a trabalhar num projeto com este sucesso todo. Dá-nos mais vontade de fazer mais e melhor. E depois a Mitó foi muito bem recebida pelo público, e eu estava muito curiosa por saber a reação das pessoas. O que acontece é que apesar de todas as maldades, o público gosta dela. Faço as pessoas rir e isso é o suficiente.

Foi muito emocionante a apresentação do primeiro episódio?

É um dia que nunca vou esquecer. Já estávamos a trabalhar há algum tempo, mas tornar tudo aquilo público é que me permitiu aperceber da dimensão do projeto em que estava envolvida. Sabíamos todos que a novela tinha que ser um sucesso, e quando vimos o primeiro episódio não tivemos dúvidas. Estávamos perante uma grande novela, um grande enredo, uma história apaixonante e uma equipa maravilhosa.

A Mitó é o teu primeiro grande papel num projeto televisivo…

Apesar de dar a mesma importância a todos os papéis que já me foram atribuídos, considero que esta foi uma grande oportunidade que a TVI me deu para voltar em força. Sinto que a TVI e a Plural apostaram em mim, o que fez com que agarrasse esta oportunidade com unhas e dentes. É uma grande responsabilidade.

E este papel tem tudo o que um ator deseja, já que é uma vilã com um lado cómico.

Não sei se será tudo o que um ator deseja. Acho que cada ator é único e tem as suas próprias características, e somos todos diferentes, o que faz com que queiramos coisas diferentes. Existem sim, papéis que vêm na altura certa, e a Mitó veio na altura mais certa da minha carreira. O último trabalho que tinha feito em televisão foi com a Ana Bola na série A Mãe do Sr. Ministro, onde fazia o papel da personagem Caetana Lapa. Vinha da comédia, e a Mitó permitiu-me continuar neste registo, mostrando outro lado meu como atriz (um lado mais maléfico e mais sério). Mas continuei na minha «praia», o que foi muito bom porque estou muito à vontade nesse registo.

És uma pessoa cómica no dia a dia? Fazes ou gostas de fazer os teus amigos rir?

Definitivamente, considero-me uma pessoa cómica, que adora fazer os outros rir. Acho que o riso é das melhores coisas da vida. É muito importante rirmo-nos sozinhos, rirmos de nós próprios. E eu rio muito comigo. Acho fundamental não nos levarmos tão a sério. A vida não é para ser levada a sério. Estamos cá para sermos felizes. Obviamente precisamos da tristeza para darmos valor à alegria, mas não faz sentido passarmos um dia sem rir. O humor dá sentido à vida.

Como descreves a Mitó? Que desafios é que esta personagem te coloca diariamente?

A Mitó é uma mulher ambiciosa que não olha a meio para atingir os fins. Os príncípios dela não são iguais aos meus, o que faz com que seja um grande desafio dar vida a esta mulher e acreditar nela. Dou muitas voltas ao meu subtexto para chegar à verdade da personagem, mas acho muito mais interessante representar alguém longe daquilo que sou, do que uma personagem parecida comigo.

A personagem segue-te até casa?

A personagem vive comigo até ao fim do projeto. Muitas vezes dou por mim entre amigos a responder com tiques da Mitó. Até não me despedir dela, ela anda comigo para todo o lado.

O que fazes para relaxar depois de um dia tenso?

Ouvir música. Estar sozinha e ouvir música é das melhores coisas que posso fazer para relaxar.

Se te deparasses com uma Mitó na vida real, como é que lidarias com ela?

Existem muitas Mitós por aí e acho que é por isso que a personagem foi tão bem recebida. Porque as pessoas conhecem algumas Mitós. Sou capaz de já me ter cruzado com algumas, mas se tivesse que dar algum conselho seria para que ouvisse o seu coração. Quando as coisas são feitas a partir do amor, não há julgamento possivel. Mas quando a ambição e outros valores menos nobres se sobrepõem, já estamos a falhar, connosco e com a vida. Há uma frase de Santo Agostinho que tenho levado como mote para a minha vida e que diz: «Ama e faz o que quiseres». É assim que eu penso. O amor é a base de tudo.

No meio de tanta maldade e egoísmo, consegues identificar-te em algum aspeto com a Mitó?

Identifico-me com ela no sentido de sermos as duas ambiciosas e lutarmos pelo que queremos. A diferença é que a maneira de ela fazer as coisas é totalmente diferente da minha. Eu escolho o caminho da verdade, a Mitó não.

Como é contracenar com Paula Neves? Divertem-se muito com os vossos «despiques»?

Conheço a Paula há mais de dez anos. Somos muito parecidas em algumas coisas. Adoramos rir e fazer rir, por isso quando gravamos juntas estamos sempre bem dispostas, o que é muito bom para a cena porque sinto que com ela posso usar a minha criatividade sem limites. Ela puxa por isso e dá-me uma contracena perfeita. Sinto que puxamos muito uma pela outra, o que é muito bom! Uma diz mata e a outra diz esfola!

E a Lídia Franco, dá-te conselhos?

Mais do que dar-me conselhos, eu aprendo muito a observar a Lídia Franco. São muitas pessoas a trabalhar para uma só cena, muitas vezes é muito fácil distraírmo-nos uns com os outros. A Lídia está sempre no seu cantinho a concentrar-se para a cena, e isso é uma coisa a que dou muito valor. Vejo a Lídia como uma grande profissional e quero aprender muito com ela.

O que achas da ideia da TVI em dividir a novela em duas temporadas? Em que aspeto poderá trazer vantagens para o sucesso da novela?

Acho que foi uma jogada muito bem feita. O produto é o mesmo mas com uma história renovada, o que suscita ainda mais o interesse do público.

Estás atenta às audiências?

Nunca me preocupei com as audiências. Preocupo-me em fazer um bom trabalho e gostar daquilo que vejo quando ligo a televisão. Não faço ideia como estão as audiências e no dia em que me preocupar com isso é porque me estou a desfocar do meu trabalho.

Mas tens noção que estás a ser acompanhada por milhões de portugueses?

Entrego-me com a mesma paixão mesmo se estivesse a representar para uma minoria. Temos sempre que dar o nosso melhor. No início da novela fiz um workshop para saber trabalhar o personagem. Quando a Mitó começou a aparecer em mim, tive o cuidado de não me habituar e não cair no risco de representar na minha zona de conforto. Sei que estou a ser seguida por milhares de pessoas. Tenho que dar o meu melhor e dar tudo o que tenho.

Qual a coisa mais engraçada que já te disseram quando te encontraram na rua e te reconheceram?

As pessoas sentem-se muito próximas de nós, porque todos os dias nos vêem na televisão, por isso falam comigo como se eu fosse uma amiga qualquer. Normalmente o que mais me dizem é para deixar o Henrique em paz. Mas também ja me chamaram nomes, o que me deixou sem saber o que fazer… Fingi que não era comigo!

A crítica e o público parecem gostar da tua prestação.

Sinto que as pessoas estão a gostar do meu trabalho, oiço o que têm para me dizer na rua, mas não procuro saber o que dizem as críticas. Peço opinião às pessoas que realmente me interessam e que percebem do assunto, de resto não leio nem procuro saber nada. Tenho que gostar daquilo que estou a fazer. Se eu me sentir bem com isso então é porque estou no bom caminho.

Que final idealizas para a tua personagem?

Acho que a Mitó merece ser feliz. Gostava que tivesse um final feliz, depois de aprender com todos os erros que cometeu. Mas gostava muito que ela acabasse feliz.

Sentes que A Única Mulher pode ser o início de um futuro recheado de sucesso e de boas oportunidades?

Sinto que tenho um grande caminho pela frente e agora tenho a certeza que é por aqui. Espero que o futuro me traga mais oportunidades destas. A minha paixão é representar e é para isso que vou trabalhar daqui para a frente.

Até agora nunca caíste na tentação de te deslumbrares pela fama?

Estou nesta profissão há muito tempo. Com os seus altos e baixos. Já passei por fases boas e outras menos boas. Já fiz teatro para salas cheias e para salas vazias. Se há coisa de que tenho noção é de que a fama é uma coisa passageira. Mas também tenho noção de que não estou aqui pela fama. Estou aqui porque esta é a minha paixão. Sei que amanhã pode aparecer outra Matilde, mas acredito que há espaço para todos. Agora, tenho é que fazer as coisas de maneira a que daqui a uns anos ainda continue a trabalhar.

Costumas fazer planos a longo prazo?

Não. A vida está constantemente a dar-nos a volta. Planeio o meu dia de amanhã e o futuro próximo. Sei que estou numa profissão muito instável, mas decidi correr os risco com todas as dificuldades que isso acarreta. Tenho muita fé na vida. E tenho fé em mim. Não estou aqui para ser mais uma «carinha laroca». Estou aqui para pôr mãos à obra e trabalhar. Trabalhar muito!

Certamente já ouviste muitos nãos. Nunca houve momentos em que achasses que poderias estar a insistir demasiado?

Já ouvi muitos nãos e, inclusivamente, ouvi sins que se transformaram em nãos, mas nunca desisti. Houve uma altura em que os meus pais me aconselharam a fazer outras coisas. Tirei um curso superior e trabalhei numa agência de marketing. Tive que fazer isso para perceber que assim não era feliz. Tal como ouvi nãos, também tive respostas positivas que me fizeram andar em frente e nunca desistir. Sempre que a vida me puxou para trás, depois empurrava-me para a frente, e foi isso que fez com que nao desistisse. Eu sabia dentro de mim que o caminho era por aqui. Mas precisei de fazer outras coisas para perceber que tinha que lutar pelos meus sonhos e que estava certa.

Quais as maiores dificuldades para entrar neste circuito?

Acho que a maior dificuldade está em chegar às pessoas certas. Este mundo da representação é feito de contatos. O Woody Allen diz que para ter sucesso temos que aparecer. E é muito isso, é estar no sítio certo à hora certa, é fazer contactos, e há muitas pessoas que não têm essa facilidade. Depois também acho que o nosso mercado é muito pequeno e é muito comum vermos sempre os mesmo atores a trabalhar. É preciso abrir mais portas a gente nova. Dar mais oportunidades. Por outro lado o que esta profissão tem de bom é que podemos criar o nosso trabalho. Já fiz parte de pequenos projetos sem financiamento nenhum, mas onde conheci pessoas importantes e interessantes, já fiz as minhas próprias peças de teatro. O importante é estar sempre a criar.

Preocupa-te o desapoio que a cultura portuguesa tem neste momento ou não é uma coisa que te inquiete?

Claro que é uma coisa que me inquieta. Trabalho numa área que, pura e simplesmente, está a ser posta de lado. Na cabeça de muito gente a cultura fica para segundo plano porque «não acrescenta nada». Estão errados. Esquecem-se que a cultura é a identidade de um país. Vivemos num país cheio de história e com uma cultura riquíssima. Mas estamos a perder tudo aos bocadinhos e qualquer dia nem identidade temos. A cultura educa o povo. É preciso ir ao teatro, ao cinema, visitar museus, mas é preciso que isso esteja próximo das pessoas comuns.

O teu percurso na televisão começou em 2003, nos Morangos com Açúcar. Que impacto a série teve na tua carreira?

Guardo muito boas memórias dos Morangos, mas tenho a noção de que ainda era muito nova e não estava preparada para entrar a fundo nesta profissão. Fiz amigos para a vida e foi muito importante para me dar a conhecer. Mas depois disso fui estudar porque ainda não estava pronta. Ainda hoje me reconhecem dos Morangos e isso é fenómeno espetacular. Os Morangos foram uma rampa de lançamento para muitos atores, marcaram a história da nossa televisão e eu posso dizer, com muito orgulho, que fiz parte disso.

Quais são as tuas maiores ambições?

Tenho todos os sonhos do mundo. Mas sonho com os pés no chão. Quero fazer cinema, vou voltar ao teatro no início do ano que vem, e espero continuar a fazer televisão. Quero aprender mais, cá e no estrangeiro, quero conhecer outras formas de trabalhar. Sinto que ainda tenho tudo para aprender. Quero poder dizer um dia que fiz tudo o que podia ter feito enquanto atriz. Quero ser atriz com A grande.

Hoje és a atriz que um dia esperaste ser?

Sou a atriz que esperei ser com esta idade. Estou a trabalhar num projeto de sucesso, com atores incríveis e estou a aprender muito. Sei que estou a viver uma ótima fase da minha vida e sei que tudo o que tenho agora é tudo o que lutei por ter nesta altura da minha vida. Sou feliz!

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