fbpx

A Entrevista – Marcantónio Del Carlo

A Televisão
10 min leitura

20130714-103029.Jpg

Aos 47 anos, um dos atores mais queridos e requisitados pela TVI para a sua ficção revela uma nova faceta, a de realizador. Este foi o mote da conversa exclusiva tida recentemente com o A Televisão, já que a curta-metragem Mau Vinho chegará dentro de poucos dias ao Douro Film Harvest e a Itália, Brasil e Alemanha. Mas falámos também do seu Maximiliano de Mundo ao Contrário e da decisão da direção-geral da estação de Queluz de Baixo em cortar abruptamente dois meses de gravações da sua segunda novela do horário nobre. Qual a resposta de Marcantónio Del Carlo? Encontre-a n’A Entrevista desta semana.

A Televisão – Como é que cumprimenta, no seu «italianoguês», as pessoas que o saúdam (risos)?
Marcantónio De Carlo – «Tutto bene?» (risos)

A Itália sempre continuou a ser uma paixão sua, mesmo depois da sua vinda para Portugal?
A Itália é o meu país de origem e é para onde continuo a voltar sem apelo nem agravo. Lugar de encontro da minha adolescência, e agora de reencontro com família e amigos.

E aceitou facilmente essa mudança numa altura complicada como a adolescência?
Sempre gostei de mudar. Tenho alma de cigano.

Acha que o facto de ter este à vontade com o italiano foi um fator decisivo para a TVI o convocar para interpretar o chef Maximiliano em Mundo ao Contrário?
O papel não tinha grande desenvolvimento. Foi depois de eu começar a construir o personagem, influenciando a própria escrita, que o Maxi cresceu. O termo carinhoso com que trato o personagem André [n.r.: interpretado por Ricardo Castro], o famoso «farinheira» com que me abordam na rua, foi inventado por mim e é um dos exemplos do que acabei de referir. Não é a primeira vez que faço crescer um personagem que não tem grande protagonismo. Aconteceu o mesmo com o Quim de Mar de Paixão. Ninguém acreditava no sotaque alentejano do Quim e, no início, antes de alcançar o sucesso que tive com este personagem, foi-me dito que estava a exagerar. A verdade é que o Quim existia mesmo. Eu tinha pesquisado localmente na região geográfica onde a novela era gravada e descobri muitos «Quins» que me vieram pessoalmente dar os parabéns durante as gravações.

Quais foram as principais facilidades e dificuldades com que se deparou na preparação deste personagem?
Precisamente a de ter que desenvolver um personagem que não tinha substância dramática. Mas já estou habituado a defender as minhas personagens com unhas e dentes…

Talvez por isso não tenha aceitado bem as críticas ao seu personagem, como partilhou no Facebook…
A imbecilidade é algo que me revolta no ser humano. A crítica a que se refere não foi à minha representação mas sim ao facto de, segundo um crítico de um jornal, eu não usar bem o sotaque italiano. O crítico em questão, e foi apenas um, uma vez que o carinho do público tem sido altamente generoso, nem sequer se deu ao trabalho de investigar sobre mim e descobrir que eu sou italiano, bilingue e portanto a genuinidade do meu sotaque está certa. Mas enfim, como me ensinou um grande professor meu no Conservatório, o que interessa é o que o público acha e não os críticos. Como já disse, o público na rua aborda-me com entusiasmo e adoram o que estou a fazer.

Como é que reage à decisão da TVI em encurtar cerca de dois meses as gravações de Mundo ao Contrário?
Algum desnorte e falta de confiança por parte do canal num grupo de trabalho que está a fazer uma grande novela. Repare que agora as audiências têm sido muito boas. Para além disso, conseguimos captar um público que normalmente não via as novelas da TVI.

Considera então que não foram as audiências obtidas que despoletaram esta deliberação de última hora?
Julgo que esta novela merecia estar num horário mais favorável. Ganhava o canal e principalmente o público. Esta é uma das melhores novelas que está no ar! Não foi por acaso que a sua estreia teve um êxito tão bom, certo? A mesma aconteceu às 21 horas, correto?

Como ficará a sua relação com a TVI após esta novela? Poderá vir a estar disponível para projetos noutros canais?
Estou disponível para outros canais e para a TVI. Estou com a TVI há mais de uma década e devo a este canal muito do meu sucesso. Seja como for não está nas minhas mãos. É bom que o grande público perceba que nós, os atores, só estamos a trabalhar se nos convidarem para isso. Não decidimos as grelhas das programações. Ao contrário de outros países, como o Brasil, mandamos muito pouco ou quase nada.

E existem novidades neste campo televisivo?
Agora quero acabar Mundo ao Contrário com tranquilidade e depois analisar uma proposta que me foi feita recentemente.

Falando de outro assunto… Como é que está a viver esta sua primeira experiência como realizador na curta-metragem Mau Vinho?
Estou a adorar. É um grande desafio ficar atrás da câmara.

De onde surgiu a ideia para este projeto e em que consiste a história do mesmo?
Este é um projeto que nasceu na Universidade de Trás-Os-Montes e Alto Douro [UTAD], onde sou docente, e que se desenvolveu com a preciosa colaboração do Douro Film Harvest e da Câmara Municipal de Murça. É uma história sobre um grupo de alunos que vão viver uma história arrepiante no meio de uma das regiões mais bonitas do país – o Douro Vinhateiro.

Foi fácil ganhar a coragem necessária para investir numa área em que a aposta portuguesa é cada vez menor?
Gosto de riscos.

E como é que ocorreu a possibilidade de em tão pouco tempo conseguir garantir a passagem desta curta-metragem na próxima edição do Douro Film Harvest e em países como Itália, Brasil e Alemanha?
Tudo se deve à capacidade de sonhar, que felizmente ainda não paga IVA. As entidades que estão envolvidas comigo neste projeto, como a Câmara Municipal de Murça, a UTAD e o Douro Film Harvest gostam de sonhar. Ao meu lado tive também um grande cúmplice, o Gonçalo Silva. Com ele vamos filmar em agosto uma nova curta desta vez em São João da Pesqueira que fará parte também do certame do Douro Film Harvest.

Está confiante na reação do público a esta sua nova faceta?
Vamos ver…

É para repetir?
Sim, no projeto que já referi que vou filmar este agosto. Chama-se Tesouro, e é uma adaptação do conto de Eça de Queirós escrita por Tito Olias. Conta nos principais papéis com Nuno Melo, Diogo Amaral, Nuno Pardal e Sara Barros Leitão. O filme vai ser rodado em São João da Pesqueira e é realizado por mim e pelo Gonçalo Silva. Estreia no Douro Film Harvest em setembro.

Atualmente está em duas frentes – cinema e televisão. Para quando o regresso ao teatro?
Nunca deixei o teatro. Estou neste momento a preparar a digressão nacional da peça que tive em cena em Lisboa, entre março e junho deste ano – Pecados da Gula. Iremos ao Porto, a Aveiro, a Coimbra, etc.. Vai ser muito divertido voltar à estrada. A produção é da Yellow Star Company. Para o ano, se tudo correr bem, vou ao Brasil com a peça que estreei este ano no Teatro Nacional D. Maria II, M-SHOW.

É mais fácil ser-se ator ou encenador?
Neste momento é muito difícil ser-se as duas coisas em Portugal. Muito mesmo!

Já falta pouco para atingir a meta dos 50 anos. A idade é um posto?
Sinto-me muito bem com a minha idade. Não tenho um «posto», mas sim, acredito na minha maturidade. Já são alguns anitos a «virar frangos»… (risos)

Está há cerca de três anos com a sua companheira Marta Nunes. Não pensa em casar?
Estou há bem mais do que isso, e já me casei com ela há muitas «luas» atrás…

E o desejo de ser pai ainda não surgiu no Marcantónio mais reservado que o público desconhece?
Também já sou pai, há muitos «sóis» atrás. Espero que não seja amigo do crítico que referi há pouco. (risos)

Siga-me:
Redactor.