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A Entrevista – Mafalda Pinto

A Televisão
13 min leitura

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A entrevistada desta semana n’A Televisão deu a conhecer-se em Portugal mas despediu-se em 2010 para descobrir o Brasil. Três anos depois da sua partida, fala abertamente do seu percurso em terras de Vera Cruz e explica porque recusou dois convites da TVI e um da RTP. Chama-se Mafalda Pinto – ou Mafalda Rodiles, nome adotado no Brasil – e está n’A Entrevista.

A Televisão – Boa tarde, Mafalda. É inevitável não começarmos com a pergunta que muitos lhe querem colocar: porque não a vemos, desde 2011, na televisão portuguesa?
Mafalda Pinto – Boa tarde, Dúlio! Bom, não me vêem porque estou no Brasil. Vim em novembro de 2010, a novela Mar de Paixão ainda estava no ar. Depois desta ter terminado, só me vêem mesmo quando repete Morangos com Açúcar (risos). É engraçado como recebo várias mensagens de fãs de 9 anos, que nasceram enquanto gravámos a série e que mesmo assim me perguntam pela Carlota [n.r.: personagem interpretada por Mafalda] e pela Ana Luísa [n.r.: personagem de Cláudia Vieira].

A sua permanência no Brasil aconteceu por acaso… Porquê o Brasil?
A minha escolha no Brasil não foi por acaso. Vim em 2007 com quatro amigas – Cláudia Vieira, Ana Rita Tristão, Joana Santos e Janin Moreira – de férias e fiquei encantada. Antes de ir embora disse para mim: «Um dia vou morar aqui». A permanência de quase três anos é que foi uma coisa nunca pensada mas que foi acontecendo. Vim para ficar apenas dois meses, mas depois estava tudo a correr tão bem, que fui ficando. Escolhi o Brasil porque sou formada em Gestão de Empresas e sentia falta de me formar em Artes Cénicas. Pensei no Conservatório em Portugal mas percebi que uma formação mais prática e internacional seria muito mais proveitoso. Pensei: «Se eu em Portugal faço novelas, tenho que ir estudar no país que faz as melhores novelas no Mundo». Encontrei professores tão bons, companhias de teatro tão especiais e com quem aprendi tanto que posso dizer que estes três anos foram os mais enriquecedores da minha vida. Fiz formação com o Daniel Herz, com os Atores de Laura, com o grupo Amok, com o grupo Lume, com a Camilla Amado, com o Sérgio Penna, com o Christian Duurvoort, com o Márcio Libar, com o Ronaldo Serruya do grupo XIX e com a Eve Doe Bruce do Theatre du Soleil…

Que objetivos tinha quando decidiu ficar no Brasil mais tempo do que o esperado?
O meu objetivo principal era estudar e formar-me como atriz profissional. E por isso comecei a fazer cursos de teatro e de cinema. Depois fui entendendo como funcionam as coisas aqui. Consegui estrear-me no teatro e fiz duas peças como atriz. Para isso foi preciso perder o sotaque… Depois começaram a aparecer algumas oportunidades de trabalhar como diretora de teatro e roteirista e isso foi uma aprendizagem ainda maior porque comecei a trabalhar em outras funções. Montei duas peças para a Prefeitura que foram escritas, produzidas e dirigidas por mim. Até o figurino eu fiz! E as coisas vão acontecendo, o tempo vai passando. Hoje faço supervisão do projeto Curta com Teatro no Forte de Copacabana. Tenho dois roteiros de longas escritos por mim para gravar no próximo ano.

E esses objetivos têm sido concretizados ao longo destes meses?
Na verdade são 33 meses! Claro que sim, senão já teria voltado. Aprendi muito, como pessoa e como profissional. Acredito que esta pausa foi essencial na minha carreira. Aprendi que o ator deve ser ator-produtor, só assim faremos os trabalhos com que sonhamos, porque ficar em casa à espera que o telefone toque pode ser enlouquecedor. E foi aqui no Rio [de Janeiro], depois de muito tempo em casa, lendo todos os livros de teatro, indo a todas as peças, que descobri que amo escrever. Que talvez ser roteirista se torne a minha segunda profissão, ou primeira, quem sabe. Sei que nunca deixarei de ser atriz porque sou completamente apaixonada pela minha profissão.

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Existe a possibilidade de Mafalda apresentar um programa de TV e participar numa novela

É verdade que recusou papéis em produções da TVI, como Destinos Cruzados?
É verdade que recusei um papel em Destinos Cruzados e que fiquei com muita pena de não fazer essa novela porque adoro as novelas do António Barreira. Foi uma decisão muito pensada e muito difícil e que decidi juntamente com a minha agente Leonor Babo, que foi incansável comigo e que tem sido um grande apoio e amiga ao longo destes três anos longe de casa. Antes disso já tinha sido sondada pela TVI para a novela anterior a essa [n.r.: Doida Por Ti] e também disse que não podia.

A questão monetária foi a indicada para os seus «nãos»? Vinha ganhar na TVI menos 10% do habitual, não era?
Realmente escreveu-se muita coisa, e muita coisa errada. A TVI contratou-me como exclusiva, enquanto eu estava no Brasil, por três anos. Eles contrataram-me em fevereiro de 2012 e em outubro de 2012 eu pedi para não fazer a novela porque queria ficar aqui. Foi uma decisão de vida rescindir um contrato numa época de crise em Portugal e sem garantias do que ia acontecer aqui no Rio [de Janeiro]. Eles foram super compreensivos, em especial o Paulo Bastos e o Miguel Cotrim, produtor da novela. Pessoas de quem gosto muito e com quem sempre trabalhei e espero vir a trabalhar de novo. Não teve nada a ver com os 10%. Eu estava contratada e tinha um salário fixo.

Quais foram as outras razões que a levaram a recusar este papel?
A decisão foi apenas esta: ou eu ia [para Portugal] e acabavam-se os projetos que tinha no Brasil ou eu não ia e continuava aqui [no Brasil]. Não teve nada a ver com dinheiros, nem personagens.

A sua personagem acabou por ser entregue a Jessica Athayde. Foi uma boa substituição?
Infelizmente nunca tive oportunidade de ver a novela, porque aqui não passa.

Também foi convidada para Belmonte?
Quem trata de tudo para mim em Portugal é a minha agente Leonor Babo e sempre que ela vai às reuniões na TVI ela diz que continuo no Brasil sem previsão para voltar. Ela noutro dia ligou-me e disse-me: «Estão à procura de uma brasileira para Belmonte [papel entregue à atriz Graziella Schimtt]. Vou propor-te porque o teu sotaque já é igual!» (risos) Neste momento, se me convidarem para fazer novela, acho que não me posso ausentar do Rio durante dez meses devido a compromissos profissionais aqui. Mas fazer uma participação ou uma série seria incrível para matar saudades de tudo – do país, dos colegas, da família – e matar aquela vontade de gravar das 8 às 20 horas sem parar.

Mas não sente falta das telenovelas em português do Portugal?
Sinto muita falta e muitas saudades de tudo! Sempre adorei o meu trabalho.

Para além da TVI, houve abordagens de outros canais?
A RTP já sondou a minha agente e ela disse-lhes isso que neste momento será difícil eu comprometer-me com um projeto que dure mais de três meses.

Para que projeto?
Não era para nenhum projeto específico… Sondaram a minha agente para projetos futuros há pouco tempo.

Em contrapartida, que projetos tem realizado em terras de Vera Cruz?
Tenho dois roteiros de longas escritos por mim para gravar no próximo ano. Fiz uma curta-metragem no mês passado chamado De Tudo Ao Meu Amor como atriz. Faço supervisão do projeto Curta com Teatro no Forte de Copacabana, como disse. Sou produtora de alguns cursos de TV e cinema, que de vez em quando levo para Portugal ou produzo no Rio. Ainda no segredo dos deuses e para 2014 está um programa de TV para eu apresentar, não confirmado, e uma novela.

Por lá é chamada de Mafalda Rodiles…. Porquê a mudança do nome artístico?
Rodiles era o apelido da minha avó, que faleceu enquanto eu estava aqui, e eu decidi passar a usá-lo. Acho bem mais bonito e invulgar do que Pinto. E também porque Pinto aqui não seria um bom nome artístico…

Para além do seu nome, também o sotaque se alterou. Era inevitável?
Eu costumo dizer que falo duas línguas, português de Portugal e português do Brasil. De tão parecidas que são para as falarmos bem, temos que as separar. Acho que é essencial para o ator dominar a língua do país em que quer trabalhar. Já perdi trabalhos aqui por ser portuguesa.

Foi uma adaptação fácil? Hoje fala perfeitamente em português do Brasil?
Demora tempo para se dominar perfeitamente a língua. Graças à ajuda das Leila Mendes e da Cristiane Magacho, as minhas fonoaudiólogas, foi mais fácil. Hoje falo perfeitamente. Se conhecer uma pessoa na rua e falar com ela uma hora seguida, ela no fim pergunta-me: «Você é do Sul ou de São Paulo?».

Quais foram as maiores dificuldades com que se deparou nesta nova etapa da sua vida?
A maior dificuldade são as saudades da família e dos amigos. É uma pena os bilhetes de avião serem tão caros. Senão passava a vida aí, a dar beijos aos meus pais.

A sua felicidade cresceu quando encontrou o seu namorado, o realizador de telenovelas Edgard Miranda. Que futuro deseja para esta relação?
Claro que hoje a minha relação é um dos motivos mais fortes para eu continuar aqui. Desejo que seja para sempre.

Vai ser difícil separar-se do Brasil?
Não acredito em separações, acredito que temos que morar onde somos felizes. E eu sou muito feliz aqui. Se for difícil separar-me do Brasil, não me separo.

Espera voltar em breve à nossa televisão?
Tenho muita vontade de dar vida a uma personagem portuguesa boa! E de mostrar o que aprendi!

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