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A Entrevista – Hugo de Sousa | Santa Bárbara

A Televisão
12 min leitura

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A qualidade do produto final de Santa Bárbara passa pelas mãos de Hugo de Sousa. Em entrevista, o diretor de projeto da novela da TVI demonstra-se muito satisfeito com as imagens que tem visto na televisão e elogia o elenco de atores. Fala ainda sobre o fim de Morangos com Açúcar (ele, que foi considerado o pai da série) e conta como se sentiu ao ganhar um Emmy com a novela Meu Amor. O estado da ficção nacional? «Sinto que há muito para fazer».

Enquanto diretor de projeto de Santa Bárbara, quais são as suas principais funções?

As minhas principais funções são a direção artística da novela, onde tudo está incluído – desde o texto, seleção e direção de elenco, figurinos, cenários, maquilhagem, etc. E a gestão financeira do produto em conjunto com o produtor. Em suma, a qualidade do produto final que todos vêem no ar é minha.

Faz um balanço positivo das gravações?

Sim, temos um elenco e uma equipa bastante motivados, que por si só influência de uma forma positiva todo o processo produtivo. Claro que os bons resultados das audiências ajudam, principalmente quando já estamos a mais de meio das gravações e o cansaço começa a aparecer.

Para quem não sabe, como é que se escolhe o elenco de uma novela? Quais são os processos pelos quais um ator passa até ficar com a personagem?

Varia muito, mas na maioria das vezes o processo inicia-se com a leitura da sinopse e dos primeiros episódios. Com base no meu entendimento da história faço a minha sugestão de elenco à TVI. A opinião do autor também é importante no decorrer desta aprovação da proposta, já que é ele quem sabe o que a história vai exigir no futuro. A aprovação final depende de inúmeros fatores. Quando se trata de núcleos familiares, basta que um ator dos propostos não esteja disponível ou não aceite o projeto para que a escolha dos restante fique influenciada. A decisão final é sempre da TVI.

O que é que difere Santa Bárbara das outras novelas?

Para começar, é situada algures no norte do país numa vila de fição, ou seja, uma vila que na realidade não existe e onde tudo pode acontecer. Tem como elo de ligação entre todos os personagens uma mina de ouro, cenário nunca usado até agora numa novela em Portugal, que só por si nos permite imagens fantásticas. Tem um elenco fabuloso, com vários atores que estavam fora do circuito das novelas e que nos permitem renovar as caras TVI, entre muitas outras coisas.

A forte concorrência alimenta o desejo de fazer bons produtos em ficção?

A concorrência faz bem a todos nós, ajuda-nos a não ficar «à sombra da bananeira» e a ter que fazer cada vez melhor para não sermos ultrapassados.

Se pudesse ir buscar algum ator à concorrência, quem seria?

Maria João Luís, sem qualquer dúvida.

A vilã da história, São José Correia, que interpreta a Antónia, tem recebido excelentes críticas. Esperava esta reação tão positiva e imediata em relação à São José?

Sim, esperava. A São é uma excelente atriz e o papel assenta-lhe que nem uma luva. Ela já merecia um personagem desta dimensão em televisão.

Que surpresas podemos esperar vindas desta história?

Posso adiantar que esta novela tem algo único: pouco antes do meio da novela existe uma passagem de tempo de seis anos. Isto permite um refresh nunca antes visto.

Na apresentação à imprensa, afirmou que a versão portuguesa é uma adaptação muito livre e que está a funcionar melhor do que o original, La Patrona. Porquê?

São vários os motivos, mas principalmente porque o estilo mexicano de fazer novela é muito diferente  do nosso. A novela mexicana é muito mais dramática e inconsequente, enquanto que nós temos uma tendência para sermos mais realistas. Esta simples alteração fez com que logo nos primeiros guiões eu sentisse que estávamos com o produto melhor. Em termos de realização e em termos visuais acho que conseguimos superar-nos a nós próprios. As sequências de ação são muito bem realizadas, o nosso elenco é especialmente bom e Portugal tem ainda paisagens fantásticas para explorar. Continuo a achar que o original de La Patrona é um excelente produto, caso contrário não o estaríamos a adaptar.

Artur Ribeiro, guionista de Santa Bárbara, confessou-me o seguinte: «Nunca tinha trabalhado com o Hugo e somos duas pessoas muito diferentes nas nossas referências e sensibilidades». Isso é uma vantagem ou uma desvantagem para o projeto?

Até agora só tenho visto vantagens. Discutimos imenso de uma forma saudável, mas acho que a qualidade da novela prova que funcionamos bem.

Enquanto que o Artur se classifica como «fantasioso», intitula o Hugo como «pragmático». Está de acordo com esta atribuição?

Tenho que concordar. Sim, sem dúvida que o Artur é fantasioso, característica essencial a um bom autor, e sim, considero-me muito pragmático. Estes dois opostos são importantes num produto televisivo, porque mais que opostos, são duas características que se podem completar. É importante que o autor fantasie, mas alguém tem que colocar em imagens essas fantasias de forma que elas funcionem, mas sejam financeiramente exequíveis.

A equipa de exteriores está a ter um trabalho muito duro e exigente. Filmar em minas não deve ser pêra doce…

As gravações nas minas são penosas. Temos sentido na pele o que sofrem o mineiros verdadeiros no seu dia a dia, desde o facto de se estar fechado sem luz natural dias seguidos, temperaturas ora muito baixas, ora muitos altas conforme a profundidade a que nos encontramos, níveis de humidade elevados, muito pó, etc. Tem realmente sido uma prova de fogo.

E a grande novidade: Santa Bárbara é a primeira novela da TVI no formato 16:9.

Na realidade, já há vários anos que a Plural produz todos os seus produtos no formato 16:9, mas até à data não era tecnicamente possível para a TVI a emissão no mesmo formato. Para nós, realizadores, é um passo finalmente dado, já que este formato é muito mais semelhante com o formato da visão humana. Os enquadramentos dos planos são sem dúvida muito mais bonitos. Para os atores é o fim de um problema, já que uma boa parte dos espetadores colocava os seus televisores em formato expandido, fazendo com que os atores pareçam muito gordos, quando isso era simplesmente uma deformação dos televisores.

Nos últimos anos, a TVI tem vindo a perder audiência para a SIC. Sente alguma pressão para atingir bons valores?

Na realidade essa flutuação de audiências aconteceu, mas também é verdade que neste momento já se sente uma inversão, ou seja, a TVI está de novo a conquistar terreno. A pressão claro que existe, e seria muito mau sinal se não existisse. Todos fomos obrigados a procurar formas de reinventar para combater a SIC, e isso para além de saudável já está a mostrar bons resultados.

Como vê atualmente a ficção nacional?

Sinto que há muito ainda para fazer, ainda temos um longo caminho, mas vamos no bom sentido. Temos muitos outros formatos que devíamos apostar, mas a crise económica do país afetou todos os setores de mercado, e a televisão não é imune. Temos que esperar uma remota mais efetiva, para que possamos dar passos mais largos na direção de tudo o que lá por fora se faz.

Há quem defenda que a tendência da novela é encurtar, até porque a tendência da nossa paciência também é encurtar. Defende este ponto de vista?

Não totalmente. Encontrar conflitos de forma a que a narrativa avance mais rápido, sim concordo. Mas não acho que uma novela tenha que ser mais curta. Podemos ter uma boa e longa novela, desde que a sucessão de eventos seja rápida.

Morangos com Açúcar foi uma das séries mais marcantes em Portugal e deu lugar a um filme. Acha que a série devia ter continuado no ar?

Acho que devia ter continuado mais um ano e ter acabado de forma mais apoteótica. Mas isto é uma opinião muito afetiva, é-me difícil fazer uma avaliação do ponto de vista de programação.

Que tipo de série juvenil gostava de ver na TV portuguesa?

Gostava de retomar o ambiente deixado nos Morangos VII, o musical. Embora muitos achem que tentámos copiar o Glee, o facto é que os Morangos musicais chegaram meses antes de o Glee ser feito, e sinto que há todo um mundo para explorar dentro das séries juvenis musicais em Portugal. Admito que tenho particular gosto por este género.

Vamos a um grande momento do seu percurso profissional. Como é que se sentiu ao ganhar um Emmy com a novela Meu Amor?

Foi um momento especial, nunca achei que fosse possível vir a ganhar um Óscar da televisão. Era a sensação que nunca estaria ao nosso alcance. Mas uma vez ganho, foi sem dúvida o realizar de que afinal os portugueses são tão bons como o resto do mundo, e por vezes até conseguem ser melhores.

A fasquia em torno das novelas aumentou depois do Emmy?

Claro que sim, passa a existir uma responsabilidade muito maior em cima de nós. Aliás, após esse galardão temos a obrigação de fazer melhor, caso contrário não sereiamos merecedores.

No que toca à ficção, todas as histórias já foram contadas?

Claro que não. Há sempre histórias novas para contar, no entanto, nunca nos podemos esquecer que a novela, embora reinventada várias vezes, provém da tragédia grega que obedece a regras muitos próprias.

Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?

Dirigir teatro musical.

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