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A Entrevista – Carla Vasconcelos | Santa Bárbara

A Televisão
16 min leitura

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Carla Vasconcelos, que faz de enfermeira Rosa na nova novela da TVI, Santa Bárbara, está mais magra. A atriz publicou duas imagens no seu Facebook onde mostra o antes e o depois de ter perdido peso. «Nunca vou ser magra. Não faz parte de mim. Não é esse o meu objetivo. O objetivo é simplesmente ser mais saudável e sentir-me melhor», desabafou ao A Televisão. A viver uma boa fase profissional, Carla revela agora tudo o que lhe vai na alma, sem filtros.

Já não te víamos no ecrã há algum tempo. Como reagiste ao convite para regressar à ficção?

Reagi muito bem, obviamente. Estive afastada durante dois anos, fui mãe e optei por ficar em casa com a minha filha durante o primeiro ano. No final do primeiro ano da minha filha voltei calmamente ao teatro. Não me ocupava tantas horas e assim pude trabalhar sem estar muito tempo longe dela. Mas sim, foram dois anos afastada. Na nossa área é sempre complicado estar tanto tempo longe.

A vida de ator é sempre um fim e um recomeço…

É como se estivéssemos sempre a começar do zero. Às vezes torna-se desgastante. Estamos sempre a ser avaliados, sempre a ser julgados, sempre a ser postos à prova. Este regresso é um recomeço. É trabalhar numa fase nova da minha vida; é conciliar tudo, o trabalho, a maternidade. É ótimo.

Como está a correr Santa Bárbara?

A novela é excelente. Mesmo! Esta equipa é uma coisa rara, é composta por gente muito gira, pessoas muito profissionais e dedicadas, e isso nota-se nos episódios quando vão para o ar. Temos um elenco de luxo. É um privilégio estar rodeada de pessoas assim.

O que é que difere Santa Bárbara das novelas da concorrência?

Muitas coisas. A luz e a fotografia, com as devidas diferenças, é muito mais próximo de uma imagem cinematográfica do que qualquer outra novela. As cenas são bonitas, são cuidadas, são bem representadas. A equipa de escrita é muito cuidadosa, é boa. Nem imaginam a importância que isso tem para os atores. Faz toda a diferença. Isto é uma adaptação muito livre de La Patrona e acho que a forma como conseguiram fazer esta adaptação e torná-la uma realidade portuguesa foi muito bem conseguida.

Fala-me do coaching da tua personagem, a enfermeira Rosa.

Em novela, infelizmente, há pouco ou nenhum tempo para coaching. É tudo a uma velocidade vertiginosa. O meu núcleo (o hospício) teve um acompanhamento fabuloso numa casa de saúde mental. O Telhal recebeu-nos de braços abertos para nos explicar tudo, tirar dúvidas, ver in loco. A equipa de enfermagem foi maravilhosa, aliás, ainda está a ser. Nota-se que estes profissionais se disponibilizaram para me/nos ensinar como se fazem bem as coisas e eu depois faço-as da forma errada, porque a personagem assim o exige.

E também porque a Rosa não segue propriamente o melhor caminho.

A enfermeira Rosa é sádica, é má, altera a medicação dos pacientes para eles ficarem piores e não melhores. Mas aprendi a dar uma injeção como deve ser [risos], como se agarra um paciente que está descontrolado, como se amarra um paciente à cama, em segurança. Sem este apoio nada seria como é.

Sádica e má. Onde é que vais buscar tanta maldade para encarnares esta vilã?

Não somos só bonzinhos, pois não? Há todo um trabalho que é feito, um trabalho de pesquisa, ver filmes e séries, ler livros. Pegar em vilões e tirar deles o que melhor nos serve a personagem. É um trabalho de peneira. E há também o nosso imaginário e as nossas experiências pessoais. Qual é a criança que não tem um bocadinho de sadismo? Vai-se buscar um bocadinho da crueldade infantil, um bocadinho do nosso imaginário, um bocadinho daqui e dali… Eu já vi uma enfermeira sádica em ação, e ela serviu-me um bocadinho de inspiração. Claro que em ficção tudo é diferente.

Será que a enfermeira Rosa existe mesmo na vida real?

Olha, a Glória de Matos (que foi minha professora no Conservatório), ensinou-nos uma coisa importante: se vocês pensam numa determinada pessoa, por mais estranha que ela vos possa parecer, ela existe! E isto é verdade. Às vezes as pessoas pensam que esta ou aquela personagem são um exagero, que não pode existir… enganam-se! O mundo é grande e está cheio de gente diferente e nem nos passa pela cabeça a diversidade que para aí há.

Enquanto que a Rosa é insensível ao sofrimento dos outros, como é a Carla Vasconcelos?

Um coração de manteiga! Sempre do lado dos mais fracos, desde que me conheço. E isso às vezes traz dissabores. Mas é a vida. Não acredito em pessoas só boas ou más, acho que temos de tudo um pouco dentro de nós, mas essencialmente escolhemos o lado que queremos alimentar. Não suporto injustiças. Lido muito mal com isso e a injustiça traz cá para fora o pior e o melhor que há em mim. Fico um bicho, mas não há nada como não perder a espinha nem perder os nossos valores de vista.

Mas às vezes perde-se a razão…

E outras vezes chega tudo a bom porto. Vivo num meio profissional onde às vezes é fácil esquecer valores e perder a espinha. Temos que ser muito equilibrados e estar bem emocionalmente para não esquecer quem somos na realidade e não perder a noção das coisas que realmente importam.

Uma das grandes atrações da história é a personagem da Luísa Cruz, a Constança, que tanto sofre nas tuas mãos.

Caramba! A Luísa Cruz é uma atriz de mão cheia. Que maravilha que é poder estar ali com ela. Não é só o ser boa atriz, a Luísa é de uma generosidade imensa, e está lá sempre, em cena, connosco, não nos abandona, não diz o texto dela e pronto. É tão bom poder trabalhar com atores assim. O ambiente não podia ser melhor. Agora, a Constança Monte Claro é uma pessoa que entra nos nervos da Rosa. Não se aguenta tanta maldade! Há que acabar com aquela senhora e de preferência, lentamente, com todos os requintes de malvadez.

O público também sofre com todas as maldades que fazem à Constança.

É claro que o público tem que ter pena da Constança. Ela é alvo das maiores atrocidades. Desde ser amarrada, a ser obrigada a tomar a medicação das formas mais violentas, a ser hostilizada emocionalmente… Está tudo a torcer para que a Rosa e a Doutora Luísa (Paula Lobo Antunes) morram fritas numa cadeira eléctrica! [risos] É esperar, a ver o que acontece.

Como é contracenar com a Luísa Cruz e a Paula Lobo Antunes?

É uma festa! Elas sabem sempre o texto. A Paula está quase sempre comigo, cria-se uma relação de cumplicidade quase infantil no que toca ao divertimento de fazer maldades. [risos] É muito bom tê-la ali ao meu lado. Ela é muito trabalhadora, muito generosa também, tal como a Luísa e não posso deixar de referir o Romeu Costa, que é o nosso médico psiquiatra bonzinho. Sim, o Dr. Bernardo chega à clínica e dá conta dos esquemas da enfermeira Rosa e da Dra. Luísa. O Romeu é verdadeiramente o menino nas mãos das bruxas! Ninguém poderia desejar um melhor núcleo de trabalho. Tive sorte ou quê?!

Tu tiveste, já a tua personagem… A enfermeira Rosa é completamente escrava das loucuras da Dra. Luísa.

A Rosa e a Dra. Luísa têm uma amizade. Na realidade a Rosa não tem cegueira nenhuma pelo poder, como a Dra. Luísa. A Rosa quer apenas poder descarregar as suas frustrações nos doentes e tem ali uma aliada que lhe permite fazê-lo sem quaisquer escrúpulos ou receios de ser apanhada. De qualquer forma, a Rosa tem trunfos na manga em relação à Dra. Luísa. Não pensem que a Rosa é uma submissa. Quanto a mim, estou contente com a Rosa.

Se fores ameaçada e insultada na rua, vais sentir que estás a fazer um bom trabalho na novela?

Sim. Mas as pessoas hoje, felizmente, já conseguem perceber a diferença entre o ator e a personagem. É um alívio. Mas sim, as pessoas dizem-me que não me querem para enfermeira. Perguntam-me se há necessidade de ser tão má. Eu acho que há! [risos]

Estás atenta às audiências? Consultas diariamente os valores que a novela faz?

Estou, sim. Acompanhamos quase todos e em conjunto. Este elenco é muito engraçado. E sim, no dia seguinte vemos os gráficos de audiências. Tenho que dizer que estamos num ótimo lugar. Se não fosse dar tão tarde rebentávamos a escala.

Estou a ver que defendes que Santa Bárbara deveria chegar mais cedo aos telespetadores, ou seja, na faixa das 21h.

Não tenho dúvida absolutamente nenhuma que se isso acontecesse seria mais do que um projeto vencedor, seria surpreendente. Não tenham dúvidas. Santa Bárbara é talvez a melhor novela feita até hoje. Pronto, já disse!

Enquanto atriz, quais são os teus maiores sonhos e objetivos?

Ter trabalho, sempre. Ser atriz é duro. Nunca sabemos o que vai acontecer, se vamos ter trabalho ou não, e não depende de sermos melhores ou piores atores. É uma vida incerta. Ser ator não é uma profissão, é uma forma de estar na vida.

E que projetos tens traçados?

Projetos tenho muitos, mas em Portugal tudo é uma luta imensa, não há facilidades. Não há salas disponíveis, não há dinheiro, não há vontade. Tudo é um lobby. Vou trabalhando, felizmente, e mais ou menos em tudo o que realmente gosto. Há textos que gostaria de fazer, mas não tenho assim um sonho de Lady Macbeth ou de Fedra ou de Mãe Coragem. Se vierem, abraçá-los-ei com todo o carinho, mas não são o objetivo pelo qual corro. Corro mais por projetos coletivos, trabalhos e textos criados por mim e pelas pessoas que estiverem comigo ou com quem eu estiver. Gosto muito do que faço, quero poder fazê-lo, sem parar… no estado em que se encontra este país isto já é um desejo imenso.

No que toca à apresentação, deste a cara por uma temporada do 5 Para a Meia-Noite. Foi uma experiência concluída com sucesso?

Eu confesso que gostei de fazer o 5, mas não é a minha praia. Acho que para quem foi atirada às feras sem saber ler nem escrever, correu bastante bem. Foi uma experiência, gostei dela, já passou!

Este ano emagreceste 32 quilos e partilhaste a novidade com os teus seguidores. Como conseguiste este (surpreendente) resultado? Muita motivação e determinação?

Basicamente foi uma decisão que tomei e resolvi enfrentar a tempestade. É duro. Eu perdi muito peso durante a gravidez, ao contrário do que é normal nas grávidas, e foi ótimo. Tive uma gravidez santa e ainda perdi peso. Quando a minha filha nasceu pensei que se calhar seria boa ideia continuar o processo. Por tudo. Por questões de saúde, porque tenho quase 45 anos, porque tenho uma filha pequena e quero poder brincar com ela à vontade sem me cansar, não quero ter limitações para poder brincar com ela um dia inteiro. Então, a LEV ajudou-me. Muito! Tem sido uma caminhada a bom passo, o peso perde-se, alimento-me bem, estou saudável, sinto-me melhor. Nunca vou ser magra. Não faz parte de mim. Não é esse o meu objetivo. O objetivo é simplesmente ser mais saudável e sentir-me melhor.

Mas pretendes perder ainda mais peso?

Mais dez quilos e pronto! Lá para o Natal devo estar despachada. Depois vem a luta de manter. Mas a LEV tem esse lado maravilhoso, não nos larga quando acabamos o programa de emagrecimento e durante bastante tempo serei acompanhada e ensinada a manter o meu peso.

Para terminar, consideras-te uma mulher feliz?

Considero-me uma pessoa muito privilegiada. Tenho/tive uma família fabulosa. Tive uma infância e uma adolescência do melhor que se pode ter. Tenho conseguido fazer tudo o que gosto, com quem gosto. Acho que a felicidade é uma coisa que se atinge quando o que é bom chega além de nós. Há muita miséria no mundo, e quando falo de miséria não falo apenas de fome e de crianças a morrer (que por si já é o suficiente para não se ser feliz). Não se pode ser feliz quando se tem consciência do que se passa no mundo, não é? Falo também de injustiças sociais, de preconceitos, de más gestões, de falta de respeito pelo próximo, de mesquinhez, de tudo o que está profundamente errado. Ninguém pode ser feliz assim… digo eu.

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