fbpx

Rita Marrafa de Carvalho viveu relação tóxica: “Um tipo de violência que não se vê na pele”

Íris Neto
10 min leitura
Facebook

Rita Marrafa de Carvalho recorreu às suas redes sociais para confessar que viveu uma relação tóxica.

Rita Marrafa de Carvalho fez um relato ‘arrepiante’ e alertou os seguidores para este tipo de relações. O relato está a ser amplamente partilhado nas redes sociais.

Pensei muito antes de deixar que os dedos cumprissem o desígnio da cabeça. Pensei nos meus que, depois, leriam os maiores impropérios de quem sabe pouco e entende menos. Os comentadores de teclado, a fermentar ódio e ignorância. Pensei muito para, depois, deixar de pensar demasiado. E escrever. Por mim e por todas as mulheres. Pela minha filha. E por ti”, começou por dizer.

A jornalista da RTP falou depois sobre este tipo de violência: “Há um tipo de violência que não se vê na pele. Não se prova a olho. Não se fotografa numa esquadra e não se mede em tribunal. Há um género de violência que não é crime, que não condena ninguém, que não está inscrita no Código de Processo Penal”.

Os maus-tratos psicológicos são a forma mais discreta e subtil de exercer poder e humilhação. Existem entre casais formas de bullying encapotado e agressivo, disfarçado de incentivo, camuflado de investimento, travestido de apoio. A forma mais abjecta e patológica de humilhar aquele com quem se vive e obrigá-lo a ser o que não é”, acrescentou Rita Marrafa de Carvalho.
A comunicadora fez depois um relato arrepiante daquilo que viveu: “Partilhei um ano e meio de vida com um e só há pouco tempo me apercebi que foi demasiado. E só há pouco tempo tive a plena consciência que aquilo que ouvi e senti foi bodyshaming. Por ser algo tão pouco debatido, por ser algo que costumamos encarar como reparos de somenos importância, tendemos a menosprezar os danos internos que causam”.
Rita Marrafa de Carvalho sofreu com palavras de ódio devido ao seu peso e explicou tudo numa publicação nas redes sociais.
“Nesse dia, soube, claramente, que a toxicidade daquela pessoa transbordava o seu próprio corpo, aspirava o ar circundante, condensava-se em seu redor. Nesse dia, não havia mais sorrisos para lhe dar. Não havia nada para oferecer”, defendeu.
Veja aqui a publicação completa feita por Rita Marrafa de Carvalho:
? ??????? ?????

Pensei muito antes de deixar que os dedos cumprissem o desígnio da cabeça. Pensei nos meus que, depois, leriam os maiores impropérios de quem sabe pouco e entende menos. Os comentadores de teclado, a fermentar ódio e ignorância. Pensei muito para, depois, deixar de pensar demasiado. E escrever. Por mim e por todas as mulheres. Pela minha filha. E por ti.

Há um tipo de violência que não se vê na pele. Não se prova a olho. Não se fotografa numa esquadra e não se mede em tribunal. Há um género de violência que não é crime, que não condena ninguém, que não está inscrita no Código de Processo Penal.
Os maus-tratos psicológicos são a forma mais discreta e subtil de exercer poder e humilhação.
Existem entre casais formas de bullying encapotado e agressivo, disfarçado de incentivo, camuflado de investimento, travestido de apoio. A forma mais abjecta e patológica de humilhar aquele com quem se vive e obrigá-lo a ser o que não é.
Partilhei um ano e meio de vida com um e só há pouco tempo me apercebi que foi demasiado. E só há pouco tempo tive a plena consciência que aquilo que ouvi e senti foi bodyshaming. Por ser algo tão pouco debatido, por ser algo que costumamos encarar como reparos de somenos importância, tendemos a menosprezar os danos internos que causam. Aprendi a rir quando me dizia “??? ???? ????????” ao almoço. Ou quando tirava uma fatia de queijo de entrada e sentia o olhar reprovador acompanhado do “????é? ???? ?í ?????? ??????”. Já engoli com mais dificuldade um amuo quando vestia uma camisa que resultava num “???? ????????? ????? ??? ???ç?? ? ?ã? ?? ????????” ou a diária insistência “?????? é ??? ???? ???? ?? ???á???. ?ó ?? ????? ???”. Ou os términos dos abraços da manhã, que se pontuavam com um “?ó ?? ????? ?????? 10 ?????????”.
Quando se veste o 36, depois de longos meses de disciplina e rigor, aceitar que o meu corpo é uma máquina perfeita de sintonia e equilíbrio, que me faculta dançar, mexer, sorrir e andar de forma saudável, é um processo nem sempre simples quando se vive com o preconceito, quando se dorme com a fobia. Por isso, o meu sorriso já não se fixava no rosto quando se repetiam as fotografias a dois até não se evidenciar o meu “???????? ?????”.
E morria qualquer músculo do canto da boca para o sinal de acomodação, quando o dedo indicador me passava pelo queixo, camuflado de ternura e acompanhado “????? ????????? ????? ????”. Deixou de haver qualquer esgar de condescendência quando, perante uma foto minha com 50 quilos, suspirou “?????? ?? ???? ???? ?????????-?? ??? ???? ??????. ?????? ?????? ? ??? ???? ??????.”
Eu era aquela pessoa. Nunca o deixei de ser. Só passava menos fome e era profundamente mais feliz… para deixar de ser, aos poucos, com a referência insistente e declarada à obsessão com o peso dos outros, quando na praia, sentados na areia, com a brisa quente de julho, olhando os outros corpos que desfilavam molhados, me disse “????? ???? ?? ??????”. Gelei por dentro. “????? ???? ?? ????? ?????”. Semicerrei os olhos: “????é? ????? ? ??? ?????? ?? ??????. ????????-???”… sem respirar fundo ou equacionar que o peso das palavras têm a velocidade de um cometa e o poder destrutivo de um governo de Trump, respondeu com rapidez “???, ????????”.
Comecei a flectir as pernas para dali sair enquanto ouvia “????? ??? ????? ???? ???? ? ???? ? ?ã? ?? ???? ?????ç???”. Sacudi a areia das nádegas enquanto ouvia “????? ??? ?? ??? ??? ?ã? ?? ????? ??? ??? ? ??? ????”. Peguei na toalha, vesti a t-shirt S e os calções M, enquanto ouvia “????-?? ??????? ?á ???????? ????? ?ã? ?? ???? ????? ?? ????? ?ã? ???? ?????????”. Coloquei os óculos escuros, e do alto dos meu metro e 65 e 63 quilos respondi “???. ?ã? ?? ????? ??? ?? ?é ?? ??.”
Nesse dia, soube, claramente, que a toxicidade daquela pessoa transbordava o seu próprio corpo, aspirava o ar circundante, condensava-se em seu redor. Nesse dia, não havia mais sorrisos para lhe dar. Não havia nada para oferecer.
Deste tipo de violência poucos falam. Poucos confessam. Poucos partilham. Suaviza-se, pinta-se de incentivo o bullying, maquilha-se o bodyshaming, escondem-se défices de caráter.
O pouco tempo que vivi de perto esta realidade ensinou-me, da forma mais cruel, que a agressão estética pode começar em casa, nas mãos de quem gostamos, entre as paredes onde vivemos. E o que me fez sorrir, meus caros, perceber esta ilustre ironia: o bully, que pela minha vida passou, escreve agora sobre feminismo e racismo, sobre o bem e o mal, a tolerância social e cultural, na farsa dos dias com que se burla e aos outros.
Ao final do dia, um axioma único se impõe com uma premissa singular: não há amor sem amor-próprio. Não há amor no desamor. Não há amor onde o meu amor não cabe. Porque em amor, não se pedem larguras, não se exigem padrões, não se convencionam estereótipos. Um amor XL será sempre cego a todas as medidas.