Armando Gama morreu na madrugada desta segunda-feira, aos 67 anos, vĂtima de cancro. Estava internado no IPO de Lisboa e a notĂcia foi tornada pĂșblica por Herman JosĂ©.
âO querido Armando Gama mudou-se esta noite para palcos mais celestiais. Fica a memĂłria de um impecĂĄvel colega e de um querido amigoâ, escreveu o humorista na rede social Instagram.
JĂșlio Isidro lamenta a morte de Armando Gama
O profissional da RTP dedicou um longo texto a Armando Gama, artista que fazia parte do seu leque de amigos.
âForam tantas as vezes que nos cruzĂĄmos no ar e com os pĂ©s em terra que deu para perceber que, se os Beatles fossem portugueses ou o Armando cidadĂŁo das terras de sua majestade, ele seria o quinto ou o sexto, jĂĄ que o maestro George Martin nĂŁo lhe cederia o lugarâ, escreveu na rede social Facebook.
Leia aqui a mensagem completa:
«ESTA AMIZADE QUE TE DOUâŠ
Vem dos anos oitenta, quando o paĂs padecia salutarmente de Febre⊠de SĂĄbado de ManhĂŁ. Esse programa de rĂĄdio que criei, sem sequer lhe adivinhar as consequĂȘncias, parava o paĂs a ouvir rĂĄdio, agitava o pessoal da pesada e estimulava mĂșsicos e intĂ©rpretes a fazerem mais e melhor porque havia uma porta aberta para eles no cinema Nimas, depois nos pavilhĂ”es e finalmente nos estĂĄdios.
Foi com a febre que conheci o Armando, que jĂĄ tinha sido âTantraâ coisa musicalmente, desde o duo âMarinho & Gamaâ, nome que mais parecia de uma empresa de import/export do que um grupo musical, atĂ© outro duo de seu nome Sarabanda.
Ele e a Kris Kopke abanaram a cena musical pelo contraste tão evidente entre o menino quase angelical de cabelos pelos ombros e o olhar fatal da jovem que deve ter feito palpitar muitos coraçÔes da nossa praça.
Foram âMade in Portugalâ no Festival da Canção de 1980, cantaram âCoisas simplesâ e outras mais complicadas e acabaram o duo sem pĂŽr fim Ă amizade que os unia. Cada um seguiu pela sua banda na vida e o Armando, qual formiga trabalhadora, foi fazendo mĂșsica e cantando.
Foram tantas as vezes que nos cruzåmos no ar e com os pés em terra que deu para perceber que, se os Beatles fossem portugueses ou o Armando cidadão das terras de sua majestade, ele seria o quinto ou o sexto, jå que o maestro George Martin não lhe cederia o lugar.
Foi ao pĂłdio do XX Festival Canoro Nacional, em 1983, onde Armando cantou âEsta balada que te douâ, encantou o jĂșri e, nĂŁo contente com o resultado, conquistou o coração da apresentadora, Valentina Torres.
Foi campeão de vendas em Portugal e até top no estrangeiro esta canção, que não sendo à la Paul McCartney, era uma balada para ficar na antologia da nossa pop. Entretanto, o casal deu um pequeno/grande passo na vida e lå estava outra vez o Armando em duo. Como tantas vezes acontece, um dia acabou o casal e o duo.
O Armando sempre tranquilo, sempre sorridente, foi animando noites de gente que lhe deve o prazer de cantar em coro, num bar cheio de pouca luz, muito fumo e alguns eflĂșvios alcoĂłlicos. Muito profissional, o artista tocava e cantava com a sua banda Revival e o pessoal bebia ĂĄgua do Xafarix.
O Armando Gama Ă© um ser delicado para toda a gente e dedicado Ă famĂlia que ama, creio eu, ainda mais do que a mĂșsica. Adivinho as mĂșsicas que o Armando guardou nas suas gavetas de compositor inspirado, e Ă© melhor que as guardem bem, senĂŁo ainda um dia sir Paul desinspirado pode plagiar inadvertidamente este Beatle lusitano que sĂł nunca o foi porque a geografia nĂŁo deixou.
Sem trabalho nĂŁo se faz nada, e o seu conselho a tanta gente com talento, que anda por aĂ, continua a ser muito inspirador: âLutem sempre porque um dia as coisas acontecemâ. E hoje aconteceu o que os seus amigos e admiradores nĂŁo queriam. Neste momento de partida, este Ă© o abraço que te dou, amigo Armando Gama.» (JĂșlio Isidro)