Júlio Isidro operado a um aneurisma que quase lhe causou a morte

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Depois de no final do passado mês de maio Júlio Isidro se ter submetido a “um cateterismo com angiografia”, como viria a revelar mais tarde na sua conta de Facebook, o mítico apresentador da RTP1 teve de regressar ao hospital.

O profissional de televisão, de 74 anos, foi operado no dia 4 de setembro, no hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, a um aneurisma na aorta cujo tamanho era já de 5,4 centímetros. “Se o aneurisma aumentasse mais um centímetro, já não saía daqui”, confessou.

De modo a ajudar a reverter a situação, o apresentador tem agora instalado um aparelho no interior da aorta, cujo objetivo é o de que a circulação passe no seu interior. Foi criado na Alemanha e por esse motivo Júlio Isidro sente-se confiante na sua eficácia. “Se é material alemão, já se sabe que é para durar como os eletrodomésticos lá de casa e o meu carro que vai nos 400 mil e nunca avariou”, brincou.

Júlio Isidro comemorará 60 anos de carreira em janeiro de 2020.

Desabafo completo aqui:

“DIZER QUE SIM À VIDA
Diz o médico: – O senhor tem um aneurisma na aorta com 5,9 centímetros.
– Já sabia há quatro anos mas com 4,5 cm. Foi num exame a uma pedra num rim.
– Sabe que tem um assassino silencioso dentro de si? Quando rebenta, a possibilidade de sobrevivência é muito baixa. Porque só agora veio a esta consulta?
– Não foi o prazer do risco. A minha biografia estava para sair, um balanço de vida, a RTP Memória dava-me a oportunidade de estar em televisão e ser respeitado após tantos desrespeitos que tive que engolir em silêncio durante anos. Deve ter sido por isso que a aorta dilatou como um balão – uma gracinha fica bem nestes diálogos no fio da navalha.
– Tenha calma porque em princípio não vai morrer amanhã. Mas com esta dimensão começa a pisar os limites de segurança.
– Então vamos operar porque a minha vida não é morrer. Tenho duas filhas a crescer ainda mais e uma mulher que é o euromilhões da minha existência. E os aviões, e os livros , e viagens e alguns amigos.
– Agora que já fez uma angiografia às coronárias que estão em bom estado para a sua “antiguidade” tem que ser operado até ao fim do ano. Mas se aumentasse mais um centímetro já não saía daqui.
– Isso é que não porque a angiografia que aqui fez pela mão do dr. Vasco Gama, deu direito a tanta exaltação mediática sobre a minha saúde que cheguei a pensar citar Mark Twain ” Parece-me que as notícias sobre a minha morte são manifestamente exageradas”.
– Mas porquê essas notícias. O senhor é conhecido?
O cirurgião não sabia quem eu era!
– É que eu sou a última abencerragem da televisão em Portugal ainda a trabalhar. Quer dizer que até já me poderia ter despedido desta vida em directo. Outra graçola para descerrar os dentes.
– A operação consiste em colocar-lhe uma prótese com quatro ramos por dentro da aorta na zona do aneurisma para que a circulação se passe a fazer através dela. Não lhe vou abrir a barriga porque tudo será feito pelas virilhas e pela axila. Alta tecnologia. A peça será feita na Alemanha e vamos ter que aguardar seis semanas.
– Se é material alemão já se sabe que é bom e para durar como os electrodomésticos lá de casa e o meu carro que vai nos 400 mil e nunca avariou. As piadas debaixo de nervos às vezes não têm graça nenhuma.
Esperei seis semanas com televisão e rádio a ocuparem-me,e ainda bem , férias curtas na Figueira com as meninas, ( a Sandra é sempre menina) e, discreto, entrei no Hospital da Cruz Vermelha no dia 3 para ser intervencionado no dia seguinte.
O que pensei nestes longos dias não partilho porque não quero recordar.
Elas estavam junto a mim quando na cadeira de rodas me conduziram para o bloco. Sorríamos todos de olhos molhados.
Quando a anestesista na fase do adormecimento me disse para pensar em coisas boas para sonhar ainda larguei a última piada:- Estou a pensar no Trump, no Bolsonaro e no Boris Johnson e vou ter pesadelos!
Uma gargalhada já ao longe e parti. Meus amigos , a anestesia é a antecâmara da morte, não é dormir, é sair desta vida.
Voltei, dizem que me queixei muito das costas, coisa que faço todos os dias, e guardo imagens difusas dos amores da minha vida que esperaram tantas horas pela vinda do menino cá de casa à terra.
Fui tão bem tratado. O meu novo acessório é lindo, dizem, porque nunca o vi, o corpo Clínico do HCV é superlativo de competência assim como o corpo de enfermagem que me mimou.
Um grande abraço ao meu cirurgião dr. António Gonzalez que mantém estoicamente o seu português com sotaque após 20 anos neste país.
Disse-me que que a operação era fundamental porque eu era ainda muito novo. Quando lhe revelei que vou fazer 60 anos de carreira e que os penso comemorar com alegria contando com o apoio da RTP, insistiu:- Ahora até já vou ver uma das suas emissões e escuchar el programa de rádio.
Nem dei tempo a muitas visitas, porque emigrei para casa . Contudo o meu velho amigo aeromodelista Carlos Costa ainda lá apareceu. A ilustração retrata a visita de um maluco das máquinas voadoras a outro.
A minha eterna gratidão ao professor Manuel Pedro Magalhães, director clínico do Hospital da Cruz Vermelha. Aproximámo-nos no Auditório da Boa Nova num acto de solidariedade a favor do centro Juvenil padre Amadeu Pinto. Fizemos intervenções sobre coisas do coração e do amor para uma casa cheia. O que dei naquela tarde recebi em duplicado.
Agora vou reunir com o Gonçalo Madail para lhe falar das ideias que pululam nesta cabeça de dinossauro excelentíssimo.
Dizer que sim à vida, dizer que não à morte, dizer na despedida que o tempo é o mais forte…”

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