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JĂșlio Isidro operado a um aneurisma que quase lhe causou a morte

Duarte Costa
8 min leitura
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Depois de no final do passado mĂȘs de maio JĂșlio Isidro se ter submetido a “um cateterismo com angiografia”, como viria a revelar mais tarde na sua conta de Facebook, o mĂ­tico apresentador da RTP1 teve de regressar ao hospital.

O profissional de televisĂŁo, de 74 anos, foi operado no dia 4 de setembro, no hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, a um aneurisma na aorta cujo tamanho era jĂĄ de 5,4 centĂ­metros. “Se o aneurisma aumentasse mais um centĂ­metro, jĂĄ nĂŁo saĂ­a daqui”, confessou.

De modo a ajudar a reverter a situação, o apresentador tem agora instalado um aparelho no interior da aorta, cujo objetivo Ă© o de que a circulação passe no seu interior. Foi criado na Alemanha e por esse motivo JĂșlio Isidro sente-se confiante na sua eficĂĄcia. “Se Ă© material alemĂŁo, jĂĄ se sabe que Ă© para durar como os eletrodomĂ©sticos lĂĄ de casa e o meu carro que vai nos 400 mil e nunca avariou”, brincou.

JĂșlio Isidro comemorarĂĄ 60 anos de carreira em janeiro de 2020.

Desabafo completo aqui:

“DIZER QUE SIM À VIDA
Diz o mĂ©dico: – O senhor tem um aneurisma na aorta com 5,9 centĂ­metros.
– JĂĄ sabia hĂĄ quatro anos mas com 4,5 cm. Foi num exame a uma pedra num rim.
– Sabe que tem um assassino silencioso dentro de si? Quando rebenta, a possibilidade de sobrevivĂȘncia Ă© muito baixa. Porque sĂł agora veio a esta consulta?
– NĂŁo foi o prazer do risco. A minha biografia estava para sair, um balanço de vida, a RTP MemĂłria dava-me a oportunidade de estar em televisĂŁo e ser respeitado apĂłs tantos desrespeitos que tive que engolir em silĂȘncio durante anos. Deve ter sido por isso que a aorta dilatou como um balĂŁo – uma gracinha fica bem nestes diĂĄlogos no fio da navalha.
– Tenha calma porque em princĂ­pio nĂŁo vai morrer amanhĂŁ. Mas com esta dimensĂŁo começa a pisar os limites de segurança.
– EntĂŁo vamos operar porque a minha vida nĂŁo Ă© morrer. Tenho duas filhas a crescer ainda mais e uma mulher que Ă© o euromilhĂ”es da minha existĂȘncia. E os aviĂ”es, e os livros , e viagens e alguns amigos.
– Agora que jĂĄ fez uma angiografia Ă s coronĂĄrias que estĂŁo em bom estado para a sua “antiguidade” tem que ser operado atĂ© ao fim do ano. Mas se aumentasse mais um centĂ­metro jĂĄ nĂŁo saĂ­a daqui.
– Isso Ă© que nĂŁo porque a angiografia que aqui fez pela mĂŁo do dr. Vasco Gama, deu direito a tanta exaltação mediĂĄtica sobre a minha saĂșde que cheguei a pensar citar Mark Twain ” Parece-me que as notĂ­cias sobre a minha morte sĂŁo manifestamente exageradas”.
– Mas porquĂȘ essas notĂ­cias. O senhor Ă© conhecido?
O cirurgiĂŁo nĂŁo sabia quem eu era!
– É que eu sou a Ășltima abencerragem da televisĂŁo em Portugal ainda a trabalhar. Quer dizer que atĂ© jĂĄ me poderia ter despedido desta vida em directo. Outra graçola para descerrar os dentes.
– A operação consiste em colocar-lhe uma prĂłtese com quatro ramos por dentro da aorta na zona do aneurisma para que a circulação se passe a fazer atravĂ©s dela. NĂŁo lhe vou abrir a barriga porque tudo serĂĄ feito pelas virilhas e pela axila. Alta tecnologia. A peça serĂĄ feita na Alemanha e vamos ter que aguardar seis semanas.
– Se Ă© material alemĂŁo jĂĄ se sabe que Ă© bom e para durar como os electrodomĂ©sticos lĂĄ de casa e o meu carro que vai nos 400 mil e nunca avariou. As piadas debaixo de nervos Ă s vezes nĂŁo tĂȘm graça nenhuma.
Esperei seis semanas com televisão e rådio a ocuparem-me,e ainda bem , férias curtas na Figueira com as meninas, ( a Sandra é sempre menina) e, discreto, entrei no Hospital da Cruz Vermelha no dia 3 para ser intervencionado no dia seguinte.
O que pensei nestes longos dias nĂŁo partilho porque nĂŁo quero recordar.
Elas estavam junto a mim quando na cadeira de rodas me conduziram para o bloco. SorrĂ­amos todos de olhos molhados.
Quando a anestesista na fase do adormecimento me disse para pensar em coisas boas para sonhar ainda larguei a Ășltima piada:- Estou a pensar no Trump, no Bolsonaro e no Boris Johnson e vou ter pesadelos!
Uma gargalhada jĂĄ ao longe e parti. Meus amigos , a anestesia Ă© a antecĂąmara da morte, nĂŁo Ă© dormir, Ă© sair desta vida.
Voltei, dizem que me queixei muito das costas, coisa que faço todos os dias, e guardo imagens difusas dos amores da minha vida que esperaram tantas horas pela vinda do menino cå de casa à terra.
Fui tĂŁo bem tratado. O meu novo acessĂłrio Ă© lindo, dizem, porque nunca o vi, o corpo ClĂ­nico do HCV Ă© superlativo de competĂȘncia assim como o corpo de enfermagem que me mimou.
Um grande abraço ao meu cirurgiĂŁo dr. AntĂłnio Gonzalez que mantĂ©m estoicamente o seu portuguĂȘs com sotaque apĂłs 20 anos neste paĂ­s.
Disse-me que que a operação era fundamental porque eu era ainda muito novo. Quando lhe revelei que vou fazer 60 anos de carreira e que os penso comemorar com alegria contando com o apoio da RTP, insistiu:- Ahora até jå vou ver uma das suas emissÔes e escuchar el programa de rådio.
Nem dei tempo a muitas visitas, porque emigrei para casa . Contudo o meu velho amigo aeromodelista Carlos Costa ainda lå apareceu. A ilustração retrata a visita de um maluco das måquinas voadoras a outro.
A minha eterna gratidão ao professor Manuel Pedro Magalhães, director clínico do Hospital da Cruz Vermelha. Aproximåmo-nos no Auditório da Boa Nova num acto de solidariedade a favor do centro Juvenil padre Amadeu Pinto. Fizemos intervençÔes sobre coisas do coração e do amor para uma casa cheia. O que dei naquela tarde recebi em duplicado.
Agora vou reunir com o Gonçalo Madail para lhe falar das ideias que pululam nesta cabeça de dinossauro excelentíssimo.
Dizer que sim Ă  vida, dizer que nĂŁo Ă  morte, dizer na despedida que o tempo Ă© o mais forte…”