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Já chorei, tive medo, não sou diferente

Pedro Vendeira
4 min leitura

“As pessoas fazem de mim uma coisa que não sou. Já chorei, já tive medo, não sou diferente de outra mulher”, disse Simone de Oliveira à RTP 1, referindo-se ao problema de saúde que voltou a enfrentar há dois anos: um cancro na mama. E prosseguiu, definindo-se e falando das dificuldades que a permearam: “Eu sou a Simone, canto cantigas e fiz uma prótese total da anca, andei toda coxa.”

Está a comemorar 70 anos de vida e 50 de carreira. Abriu o coração aos portugueses sobre as suas alegrias, a cantar e a interpretar, e relembrou as dificuldades, em especial a luta contra o cancro.
Há 20 anos, a cantora teve de retirar um seio e fazer radioterapia para combater a doença. Em 2006, o cancro reapareceu no outro peito, que não foi extraído. Contudo, teve de enfrentar 35 sessões de radioterapia. Cheia de energia, não deixou de trabalhar. “Saía mais cedo das gravações da telenovela para tratar-me. Se não falei disso foi porque todas as mulheres com problemas de oncologia têm-se chegado muito a mim e não queria mostrar que pode haver reincidência”, compartilha agora Simone.
Simone de Oliveira, o mito, denominação que não lhe agrada, sublinha que “não é eterna” e alerta para a importância dos exames. “Foi num dos exames de rotina que detectei a reincidência. Faço sempre, nem sequer deixo passar um ano. Peço por favor que não tenham meses de espera em relação a qualquer problema oncológico”, salienta.
Na primeira vez que teve cancro, Simone cruzou Portugal a conversar com mulheres sobre a importância dos exames e do tratamento. “Acredito que somos capazes de dar alguma coisa se nós quisermos. Isto é, se formos capazes de ser honestos e de trabalhar, de dar com a mão aberta”.
No espectáculo dos 50 anos de carreira, feito no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, emocionou-se com a presença do Presidente da República, Cavaco Silva, e da primeira-dama, Maria Cavaco Silva. “Quando foram ao camarim dar-me um beijo, senti que valeu a pena esses 50 anos a carregar algumas malas à mão e outras à cabeça.”

PERFIL
Simone de Oliveira, cantora e actriz, nasceu em Lisboa em 1938. Descobriu o caminho da música aos 19 anos, quando se inscreveu no Centro de Preparação de Artistas da então Emissora Nacional. Venceu o I Festival da Canção Portuguesa em 1958 e estreou no teatro em 1962. Encantou nos festivais de música e, como intérprete da ‘Desfolhada’, tornou memoráveis os versos do poeta Ary dos Santos. Actualmente protagoniza a matriarca Efigénia na telenovela ‘Vila Faia’.

CONTRA OS ENCERRAMNETOS
Considera-se uma “privilegiada”. Argumenta que se não se chamasse Simone de Oliveira, uma figura pública que teve direito a tratamento especial, já estaria morta. “Não há listas de espera para problemas oncológicos, não há listas de espera em questão nenhuma. A grande parte das mulheres não tem acesso rápido aos serviços”, denuncia a cantora. “Eu quero pedir, por favor, que olhem, que pensem, quando fizerem as leis de saúde, e não fechem uma coisa antes de abrir outra. Cinquenta ou 60 quilómetros para uma pessoa que não tem carro ou dinheiro pode ser dramático”, apela a artista.

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Amante da tecnologia e apaixonado pela caixinha mágica desde miúdo. pedro.vendeira@atelevisao.com