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Conselho de Redação da RTP reage a hipótese de concessão

David Ferreira
7 min leitura

Rtp1 Conselho De Redação Da Rtp Reage A Hipótese De Concessão

Ontem, foi a administração da RTP a mostrar-se contra, hoje o Conselho de Redação (CR) da empresa que emitiu um comunicado onde também crítica esta opção.

Em comunicado assinado pelo diretor de informação Nuno Santos, Carla Quirino, Joana França Martins, José Ramos e Ramos, Mário Raposo, Sandra Sá Couto, Teresa Nicolau e Tiago Contreiras, é afirmado que o CR “repudia em absoluto a proposta de António Borges de concessão do Serviço Público de Rádio e Televisão a empresas privada”, justificando que “tal proposta reduz a oferta informativa em canal aberto e o pluralismo que são marcas distintivas e constitucionalmente consagradas do Serviço Público de Televisão e Rádio”.

O A Televisão passa a mostrar o comunicado do Conselho de Redação da RTP na íntegra:

“O Conselho de Redação da RTP repudia em absoluto a proposta de António Borges de concessão do Serviço Público de Rádio e Televisão a empresas privadas porque, antes de tudo o mais, tal proposta reduz a oferta informativa em canal aberto e o pluralismo que são marcas distintivas e constitucionalmente consagradas do Serviço Público de Televisão e Rádio e que, como é evidente, não podem ser exigidas a entidades privadas. 

A proposta, que o CR da RTP acredita não venha a concretizar-se, prejudica os portugueses, fazendo o País pagar mais por menos televisão, transformando o Serviço Público televisivo num negócio de contornos pouco claros. 

A proposta de António Borges quer dinamitar não só o Serviço Público como promover a instabilidade nas televisões comerciais, nas rádios privadas e na própria Imprensa. O que António Borges pretende é camuflar um novo canal comercial de televisão, com a atribuição de verbas públicas a empresas privadas numa originalidade portuguesa. 

António Borges, que falou articulado com o Governo (conforme esclarecimento feito hoje no Correio da Manhã) propõe de facto mais um player comercial que iria disputar a pouca publicidade existente, fruto da crise, canibalizando os preços, prejudicando em efeito de dominó a Imprensa e por arrasto, a liberdade de expressão – uma vez que o sector editorial tem baixas tiragens para fazer face aos elevados custos de produção em Portugal.

A RTP nos últimos dez anos, com o suporte do poder político, tem sido gerida por Administrações com grande rigor e bons resultados e reforçou-se como uma televisão de grande liberdade e isenção, onde até Marcelo Rebelo de Sousa procurou um longo refúgio de anos quando foi impedido de fazer numa estação comercial os seus habituais comentários.
A RTP tem vindo a honrar os seus compromissos financeiros que remontam ao tempo dos Governos onde se destacou, entre outros, Marques Mendes que agora estranhamente aparece a acusar a RTP de ser um sorvedouro dos dinheiros públicos. Por força das decisões políticas das décadas de 80 e 90, a RTP é hoje um Serviço Público de Televisão ao dispor dos 15 milhões de portugueses em território nacional e na diáspora. 
António Borges articulou a sua desastrosa proposta com grupos económicos que estão a promover notícias denegrindo o Serviço Público de Televisão elogiado por todas as forças políticas e parceiros sociais, sendo que a RTP é considerada marca de confiança dos portugueses.
António Borges, personalidade pública nos meios financeiros internacionais, objecto de muitos textos e livros, finge ignorar que o Serviço Público de Rádio e Televisão é essencial em todos os países da União Europeia, estando inclusive a ser expandidos no caso da BBC ou da France Television. 

A RTP deve continuar a ser um Serviço Público de Televisão livre das pressões comerciais feito por empresa de capitais cem por cento públicos, com um controle eficaz de custos e eliminação de toda e qualquer despesa injustificada. 
O Conselho de Redação consciente da gravidade do momento pede a todos os jornalistas da RTP que participem no Plenário convocado para a próxima quarta-feira, dia 29.

O Conselho de Redação pede a todos serenidade e bom senso nesta conjuntura adversa e reitera junto dos jornalistas da RTP o apelo a uma prática jornalística de acordo com o Código Deontológico seja qual for o assunto, sem temas tabu, mas com um tratamento que respeite a ética de antena própria de uma Redação que está ao serviço de todos os Cidadãos. 

O Conselho de Redação regista ainda a posição corajosa e clara ontem assumida pelo Conselho de Administração bem como o esforço mobilizador da Comissão de Trabalhadores. Nesta hora de tantas incertezas, respeitando as missões de cada órgão na estrutura da empresa, é fundamental a existência de uma ideia concertada na defesa de um Serviço Público de Media que responda aos desafios que se colocam ao setor. 

Finalmente, o CR reitera a confiança dos jornalistas da RTP no trabalho da equipa e na liderança da Direção de Informação que no último ano e meio tudo fez para criar condições para um trabalho sem condicionalismos e no mais absoluto respeito pelas regras que regem a nossa atividade. 

Lisboa, 28 de Agosto de 2012

Este comunicado agora público do CR surge após a polémica entrevista de António Borges a Judite Sousa na passada quinta-feira, onde, recorde-se, o conselheiro do Governo para as privatizações considerou “atrativa” a hipótese de concessão da RTP1 a empresas pivadas, naquela que é, segundo fonte governamental no dia seguinte, apenas “uma das hipóteses”.” Segundo Borges o encerramento da RTP é “inevitável” dado o custo “extremamente alto” para as  “reduzidas audiências”.

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