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Autora de livro defende que serviço público de televisão não deve ser condicionado pelas audiências

A Televisão
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A jornalista Diana Andringa, autora do livro Funcionários da Verdade, Profissionalismo e Responsabilidade Social dos Jornalistas do Serviço Público de Televisão defendeu, em declarações à Lusa, que as obrigações do serviço público de televisão não devem ser condicionadas pelas audiências.

O livro que resulta da tese de doutoramento da jornalista e atual documentarista, defendida em janeiro do ano passado será lançado esta sexta-feira aborda a cobertura de três temas na RTP: o referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez, o caso de Subtil, que se barricou nas instalações da RTP, e o pseudo-arrastão na praia de Carcavelos.

Questionada sobre o título do trabalho que  levou a jornalista a ser observadora da redação da RTP, Diana Andringa explicou que o uso da expressão Funcionários da Verdade é um «termo irónico» que entende aqueles que se consideram donos da verdade. No fundo, o título não passa de uma brincadeira sobre a situação do jornalista, que «é um funcionário do serviço público, quando na verdade, é sobretudo, um funcionário de uma empresa», disse Diana Andringa. «As pessoas exigem do serviço público de televisão e dos jornalistas muito mais do que exigem das privadas», apontou.

No que ao tratamento noticioso dado ao referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez, Diana Andringa concluiu que os jornalistas da estação pública «limitaram-se a cobrir as atuações dos diversos movimentos», a favor e contra,  acusando a falta nos espaços noticiosos da estação pública de, «um trabalho de investigação sobre o tema» acusando  que «serviram de porta-voz acrítico dos diversos movimentos», resultando numa «ausência de verdadeiro trabalho jornalístico», adiantou.

Relativamente ao caso de Manuel Subtil, o homem que ficou barricado durante horas nas instalações da RTP, a jornalista analisou o tempo de antena dado ao assunto, que coincide pouco depois do reality show Big Brother ter estreado em Portugal. «Era uma altura de grande pressão de audiências e, neste caso, a RTP teve algo em casa que permitiu subir as audiências», explicou, adiantando que foi dada «uma importância desmesurada»  revelando que este assunto teve direito a oito horas de transmissão na estação estatal.

Por último, o caso do alegado arrastão em Carcavelos, que segundo a autora, resulta no «primeiro caso claro de interferência, nas televisões, da ação de um repórter de ocasião», lembrando que as imagens utilizadas foram tiradas pela mesma pessoa, a que chamou a polícia e se transformou na principal fonte dos jornalistas. No livro, Diana Andringa, refere que «o pseudo-arrastão de Carcavelos é pseudo na sua relação com a realidade – não cabe na categoria do pseudo-acontecimento porque, simplesmente, não existiu». A escolha da RTP, explicou a autora, deve-se ao facto da estação pública ter deixado de ser monopolista e poder ser analisada num contexto em que se confronta com a luta pelas audiências. «Do lado positivo, a entrada das privadas obriga a RTP a confrontar-se com outras formas de fazer televisão», «o menos positivo é a preocupação com as audiências ser maior do que a qualidade da informação», considera. «O serviço público de televisão e rádio é indispensável, há obrigações que não podem ser condicionadas pela procura de audiências», frisou.

«Entendo que é indispensável à democracia, mas é preciso que sejam criadas condições para ser livre, não podem estar sujeitos à pressão das audiências e das regras da indústria», acrescentou, explicando que a «grande contradição do jornalismo» é que o jornalista é um assalariado da empresa, cumprindo «mais as regras da indústria que as éticas». Diana Andringa refere que este trabalho não é contra ninguém, mas serve como ponto de reflexão.

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