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Agir esclarece polémica em relação à canção ‘Filha da Tuga’

Carolina Pereira
5 min leitura
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Agir foi um dos artistas envolvidos na produção do tema e do EP com o mesmo nome, da cantora Irma.

Depois de Irma ter feito um esclarecimento sobre o seu mais recente tema ‘Filha da Tuga’, foi a vez de Agir reagir às críticas que a música tem sofrido. Enquanto produtor do EP com o mesmo nome, o artista emitiu um comunicado onde admite as falhas que geraram polémica nas redes sociais.

Antes de tudo, quero salientar que nunca saberei o que é estar na pele de uma pessoa racializada e que tenho muito mais a ouvir e a aprender do que a opinar“, começou por referir, pedindo calma, mas reconhecendo que é fácil pedi-la quando não sofreu “anos sem fim a injustiça que muitos sofreram e ainda sofrem”.

O músico começou por explicar que a letra do tema foi resultado de uma conversa que Irma teve com Carolina Deslandes, em que esta última ajudou na rima de frases ditas pela primeira.

Concluir que a Irma pediu a uma pessoa branca para escrever por ela o que dizer sobre a sua realidade ou a realidade de toda a comunidade não é rigoroso. Porém, mesmo que tenha sido só uma ajuda, podia ela ter antes pedido ajuda a uma pessoa negra para o fazer? Sim, e tenho a certeza que é o que acontecerá daqui para a frente“, disse, concordando com algumas das críticas que têm sido feitas.

A lírica polémica e a escolha de palavras

Agir propôs-se então a “esmiuçar” a letra da canção e os pontos mais controversos, nomeadamente o uso da palavra ‘tuga’: “Sabendo que muita gente não usa a palavra com intenção de hostilizar alguém, é compreensível que pessoas negras, que nem há 50 anos estavam a viver esta realidade, se sintam ofendidas e magoadas com a palavra“.

Sou branca para os pretos, para os brancos sou preta, foi uma das frases que mais polémica causou. “Sem comparar o que uma pessoa racializada, de pele mais escura, sofre, porque não é comparável, e partindo, conscientemente, de um lugar de privilégio em relação aos mesmos, existem, ainda assim pessoas de pele mais clara, mestiças, que se sentem numa ‘terra de ninguém’ por não serem vistos nem como brancos, nem como negros“, justificou, sublinhando que Irma “não pretende dizer que sofreu o mesmo e é igual a pessoas de pele mais escura“.

Quanto à frase “Sou a mistura da terra e da descoberta, a cantora já explicara que a palavra ‘descoberta’ não se relacionava de todo com o acontecimento histórico.

Agir reforçou a ideia, mas assumiu que poderia ter sido usada outra palavra que não esta: “Há duas gerações, muitos foram os que abandonaram a sua terra natal à procura de uma vida melhor. É desta procura, dessa descoberta, que a música fala. Podia a escolha da palavra ‘descoberta’ ser mais feliz? Olhando agora com distanciamento, sou pessoa para concordar. De todo que se queira romantizar os ‘descobrimentos’ e o uso de outra palavra talvez deixasse menos margem para dúvidas”, disse.

As tranças de Rita Pereira e a acusação de apropriação cultural 

A polémica com ‘Filha da Tuga’ ganhou ainda mais força quando Rita Pereira partilhou um vídeo onde surge a dançar a música com tranças de origem africana no cabelo, o que originou uma acusação de apropriação cultural por parte dos internautas. Agir pronunciou-se relativamente ao assunto.

“Quando uma pessoa branca faz tranças fá-lo por uma questão meramente estética, por achar giro. Visto assim, à partida, seria legítimo fazê-lo. O problema é que quando uma pessoa racializada o faz, vê, quase sempre, as suas oportunidades diminuídas (mais do que já costuma ser), normalmente nos locais de trabalho. Ter tranças numa pessoa racializada é, na maioria das vezes, sinônimo de perder o emprego ou de nem o chegar a arranjar. Podem, então, pessoas brancas usar tranças? Na verdade, ninguém as proíbe, mas um pouco de consciência e contextualização não faz mal a ninguém“.

Por fim, Agir concluiu o comunicado com um sincero pedido de desculpas: “Da parte que me toca, peço publicamente desculpas. Se ofendi alguém, não foi, de todo, a minha intenção. Seguimos juntos“.

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