fbpx

António Lobo Antunes abandona Visão sob várias críticas

A. Oliveira
4 min leitura

19 anos depois, o escritor António Lobo Antunes abandona o seu espaço de crónicas na revista Visão, devido à utilização alegadamente abusiva da sua imagem numa campanha publicitária do órgão de comunicação.

O escritor exige também “centenas de milhares de euros” como indeminização, que serão entregues ao serviço de oncologia do Hospital de Santa Maria.

A informação foi confirmada pelo próprio escritor em entrevista à revista Sábado, que aproveitou para esclarecer que “aconteceu por sua vontade: “Resolvi romper o vínculo com eles”.”

De acordo com o escritor, a relação com a direção da revista detida pelo grupo Trust in News não era boa, tendo-se pasaado “coisas de que não gostei”.

Indicando que foram várias as coisas que fizeram que a relação se detriorasse com o tempo, o autor aponta, por exemplo, para as ilustrações que acompanhavam as suas crónicas. “Não gostava dos bonecos que acompanhavam as crónicas, achava que eram muito fraquinhos e pedi para mudarem. Disseram que não, porque ia encarecer”. A sua associação a uma conversa com o Tolentino Mendonça, sem que tivesse sido convidado, fez estremecer ainda mais a relação com a Visão, com a gota de água a ser a utilização da sua imagem numa campanha publicitária à qual o escritor se refere como “episódio das sacolas”.

“Um dia apareceram-me com a tal sacola, que tinha estampada uma frase qualquer tirada de uma crónica e assinada por mim. Depois vim a saber que era uma campanha de promoção da revista. Queriam que eu tirasse uma fotografia para essa campanha, eu disse que não tirava fotografia nenhuma e não aceitava. Mas fizeram. Achei isto intolerável. Fizeram uma montagem de uma fotografia em que me põem com o saquinho ao ombro e a dizer ‘o António não-sei-o-quê’. Isto é profundamente ilegal'”, conta à Sábado.

Considerando tudo uma grande “falta de respeito” e “prepotência absoluta”, António Lobo Antunes sublinha que “É evidente que eu não ia participar em nenhuma campanha de publicidade. Nunca o fiz na minha vida”.

Já sobre a indeminização, o escritor garante que a doará a quem mais precisa. “Vai fazer muito jeito aos doentes. Não ficarei com um tostão. O dinheiro será entregue religiosamente. Só quero que estes senhores aprendam a lição, nomeadamente esta diretora [Mafalda Anjos]”, acrescenta

A direção da Visão reagiu, entretanto, à entrevista de António Lobo Antunes, garantindo que o autor sempre foi tratado com “especial deferência e zelo”, sublinhando que a utilização da imagem na referida campanha foi “obviamente autorizada”, sendo do conhecimento do autor desde outubro.

“Naturalmente, de forma alguma ocorreria a uma revista de referência como a Visão utilizar a imagem e frase de António Lobo Antunes sem a sua prévia autorização”, refere.

A revista vai mais longe e sublinha que o eventual processo a ser movido por António Lobo Antunes será um ato de “má fé ou de uma tentativa de extorsão”.

“Mesmo os génios, ou sobretudo eles, têm o direito a tropeçar. Mas o cansaço e acidez que Lobo Antunes acusava nos últimos tempos tornou-se indisfarçável nas suas crónicas, que o próprio apelidava, no espaço de liberdade absoluta que sempre lhe foi concedido na Visão, de ‘medíocres’ e que confessava só escrever ‘por dinheiro’. Esta saturação tornou-se evidente para todos, e sobretudo para os leitores, que de forma crescente o fizeram notar”, recorda a revista.

Recorde-se que o espaço que era ocupado pelo autor na Visão é agora o palco para as crónicas de Dulce Maria Cardoso.