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Suzana Garcia: “Quando o jornalista é agredido, é a sociedade que é agredida”

"Peço às pessoas para pensarem bem se é esse o caminho que pretendem, vir justificar o injustificável."

Ana Ramos
5 min leitura
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Suzana Garcia comentou, esta sexta-feira, no “Dois às 10”, sobre o caso de um empresário de calçado que terá agredido um jornalista durante uma manifestação.

“De facto, hoje em dia, ser jornalista em Portugal é um ato de resistência, é uma paixão maldita. Nós olhamos para aquilo que os observatórios nos indicam e 40% das classes dos jornalistas está numa situação precária economicamente. O salário médio dos jornalistas em Portugal é de 700/800 euros”, começou por dizer a advogada.

“Nós temos a faixa etária da maioria das jornalistas entre os 25 e os 30 anos a viver junto com outras para conseguirem pagar as respetivas contas e isso, num estado democrático de direito, deixa-me muito com um sentimento de insegurança, porque o jornalismo é, de facto, o primeiro garante do conhecimento que o cidadão tem daquilo que está a acontecer na realidade”, continuou Suzana Garcia.

“É só através do conhecimento da realidade que eu consigo depois saber como é que me vou posicionar, como é que eu vou votar, como é que eu vou julgar aquilo que está a acontecer na sociedade e uma classe jornalista precária, mal paga, em burnout… Estima-se que cerca de 60% dos jornalistas esteja em burnout, informou Suzana Garcia.

Para Suzana Garcia, os jornalistas são “uma classe de presas fáceis ao poder político para apoderar-se delas com meia dúzia de tostões e delas fazer aquilo que quer”: “Quando nós fazemos isso da classe jornalista, fazemos do povo aquilo que queremos porque o jornalista passa a informação que o poder quer que ele passe e isso é dramático para qualquer democracia e deve fazer-nos pensar”.

“Eu sei que, às vezes, as notícias que passam são contrárias às nossas ideologias, são contrárias aos nossos princípios, são contrárias aos nossos objetivos, mas mesmo essas notícias nós não podemos olhar para essa notícia, para o autor da mesma, para o jornalista como um inimigo, porque isso faz parte da democracia”, acrescentou Suzana Garcia.

“Este ataque que é feito aqui a este jornalista é um ataque a mim também, é um ataque a todos nós”, sublinhou Suzana Garcia.

“O jornalista, que neste caso era um repórter fotográfico, estava ali por uma questão de interesse público porque uma fábrica que está em iminência de falência naquela localidade é uma questão de interesse público. Era um direito que o jornalista tinha, mas não só um direito, era um dever de captar imagens do que estava ali a acontecer em momento real para que eu pudesse saber o que está a acontecer, para que todos nós e quem diz deste caso, diz em todos os outros”, descreveu Suzana Garcia.

“Os ataques aos jornalistas têm sido cada vez maiores em termos quantitativos e qualitativos, porque já não é só cuspir para o jornalista que aparece. Nós já estamos num patamar em que numa faculdade é permitido bater no jornalista e que ainda vemos pessoas com responsabilidades políticas neste país que querem ainda ter mais responsabilidades políticas neste país”, adiantou Suzana Garcia.

“Portanto, eu peço às pessoas para pensarem bem se é esse o caminho que pretendem, vir justificar o injustificável. Não interessa o que é que o jornalista fez, não interessa se o jornalista foi convidado ou não foi. Interessa que houve uma agressão e, quando o jornalista é agredido, é a sociedade que é agredida! Quando um juiz é agredido quando está a fazer funções, é a sociedade que é agredida. Quando um polícia é agredido, sou eu e todos nós que somos agredidos”, rematou Suzana Garcia, referindo que, desde 2018, que agredir um jornalista é considerado um crime público.

Veja aqui uma parte da conversa.