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Psicóloga Júlia Machado explica o que se passa com Ronaldo: “Ele merecia mais consolo”

Duarte Costa
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Júlia Machado participou num debate promovido pelo A Televisão sobre “o que se passa com Cristiano Ronaldo”. A discussão, moderada por Duarte Lago, contou ainda com a participação de Susana Areal, especialista na área do comportamento humano, e de António Carvalho, que já viveu uma depressão.

Júlia Machado, psicóloga no Hospital Lusíadas, no Porto, não se atreve a realizar uma análise clínica sobre Cristiano Ronaldo, dado que nunca esteve pessoalmente com ele, mas acredita que o jogador “tem uma energia inesgotável“, compete contra ele próprio na busca da perfeição e sublinha ainda que, possivelmente, Fernando Santos não lhe terá dirigido as palavras certas quando decidiu colocá-lo no banco de suplentes nos jogos frente à Suíça e a Marrocos, dos Oitavos e Quartos de Final do Campeonato do Mundo, respetivamente.

Fiquei com o coração apertado [com esta eliminação]. É uma perda para todos nós. Fiquei triste e senti a tristeza do Cristiano Ronaldo, por quem eu tenho um carinho muito grande. Não só pela pessoa que é, mas pelo que tem feito por todos nós. Ele é uma imagem emblemática em todo mundo, trouxe uma visão nova do que é o futebol, é um líder. Ele merecia um bocadinho de colo, de consolo. Ele é muito focado nos objetivos dele e esforça-se imenso por alcançá-los“, começou por dizer no sábado, no debate promovido pelo A Televisão, horas depois da derrota de Portugal diante da seleção marroquina.

Nós, psicólogos, baseamo-nos em factos clínicos e até utilizamos os testes de personalidade para fazermos uma análise mais completa. A análise que eu posso fazer, neste momento, é no que eu observo a nível comportamental, e não na vida íntima, porque eu não falei com ele sobre o que é que ele passou. É uma abordagem mais dinâmica, mas não em profundidade“, explicou.

“O Cristiano Ronaldo tem uma energia inesgotável”

Ele tem características pessoas que muitas pessoas não atingem, nem podem ter. Isso faz dele o que ele é. Nós todos somos únicos. Eu já tive pais a meterem os filhos no futebol a quererem que ele seja um Cristiano Ronaldo, têm isso como objetivo para o filho, e eu tenho de lhes dizer que os filhos não vão ser um Cristiano Ronaldo, porque não têm competências internas para isso. Claro que, com trabalho, toda a gente pode lá chegar, é possível, mas com limites. Uns são médicos, outros são jornalistas. Cada um tem a sua competência“, referiu Júlia Machado, antes de traçar mais alguns detalhes sobre o atleta que já foi eleito por cinco vezes como o melhor do planeta.

O Cristiano Ronaldo tem uma energia inesgotável. Eu acho que ele pode ser competitivo não tanto em comparação com o Messi, mas com ele mesmo. Ele tem as competências internas focadas no aqui e no agora. Foca-se nele próprio. Ele compete contra ele próprio e a frustração pode vir daí. Ele não se sentir completo“, desvendou.

De seguida, a psicóloga Júlia Machado falou também sobre a parte emocional. “As pessoas têm cada vez menos paciência. Eu tenho cada vez mais pessoas em lista de espera. A saúde mental está a ser um flagelo a nível mundial, não só no futebol, mas em todas as áreas da vida, e pode ter acontecido isso ao Cristiano Ronaldo. Está numa fase diferente e isso pode tê-lo atingido“, acrescentou, sem querer traçar qualquer diagnóstico ao madeirense.

“Se o selecionador falasse de forma mais positiva, as coisas podiam ser diferentes”

Questionada sobre o motivo pelo qual Cristiano Ronaldo já terá lidado melhor com as críticas, Júlia Machado esclareceu que, quando as pessoas estão numa fase menos boa das suas vidas, isso torna-se mais difícil.

Se eu estiver numa boa fase, as críticas até podem ser para o lado em que durmo melhor. Mas depende. Numa fase menos boa da nossa vida, essas críticas que antes não faziam mal, agora podem afetar. Daí a importância da comunicação“, elucidou, antes de se pronunciar sobre a forma como Fernando Santos terá justificado a não titularidade a Cristiano Ronaldo.

Se o selecionador falasse com ele de forma mais positiva, as coisas podiam ser diferentes. Eu dizer que devias ir para ali porque não tens o mesmo rendimento ou então eu dizer que tu fazes falta na equipa, que és uma mais valia, e que preciso que estejas bem nesta fase, que estou aqui para ti, mas que é preciso fazer uma gestão, e então entras no minuto X, são coisas totalmente diferentes. A forma como se comunica com as pessoas faz toda a diferença“, sustentou também Júlia Machado.

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