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Nuno Markl sobre remoção de cartaz que lembra abusos sexuais na Igreja: “Não me parece que seja democracia”

"Com este assunto, o tapete fica com um alto de mais de 4.800 crianças de altura", disse Nuno Markl.

Ana Ramos
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Nuno Markl comentou, esta quarta-feira, nas redes sociais, sobre as mais recentes notícias que dão conta de que foi removido um cartaz que lembra os abusos sexuais na Igreja.

De acordo com a imprensa nacional, a Câmara Municipal de Oeiras mandou remover um cartaz que lembra as conclusões do relatório da comissão independente sobre os abusos sexuais de crianças na Igreja Católica. Durante a madrugada desta quarta-feira, três cartazes foram instalados em Loures, Algés e na Alameda, em Lisboa, com a ajuda de uma recolha de fundos online organizada por uma iniciativa cidadã.

“Não é um cartaz que estraga tão grande festa. Pelo contrário: este cartaz apenas lembra que há um assunto sério, importante, que não pode ser esquecido e que deve ser falado nesta festa. Creio que o próprio Papa Francisco concordará com isto”, começou por dizer Nuno Markl.

“Este memorial não era ‘publicidade ilegal’, porque, para começar, não é publicidade a nada. Pelo que sei, foi espaço comprado através de uma recolha de fundos. Democracia é poder lembrar-se que isto existe, nesta altura. Apagar isto não me parece que seja democracia”, afirmou Nuno Markl.

“Varrer assuntos para debaixo do tapete é prática comum – o problema é que, com este assunto, o tapete fica com um alto de mais de 4.800 crianças de altura”, rematou o locutor.

Noutra publicação, Nuno Markl relatou ainda outra situação sobre o mesmo cartaz: “Numa era de eternas paródias e memes, esta senhora corre o risco de se tornar em algo assim. Mas imprimiu uma folha A4 com a mensagem que estava no cartaz censurado e plantou-se junto dele com ela nas mãos”.

“Para mim, é das imagens mais tocantes que por aí andam. Quem se dá a este trabalho é provável que o faça porque a situação lhe é próxima”, continuou.

“Há muitos católicos que compreendem a existência deste cartaz. Outros olham-no como uma ameaça à paz e à harmonia e disparam com o chamado ‘whataboutism’: dizem que a pedofilia há noutras áreas, porque é que a Igreja há de ser diferente? Bem, porque é a Igreja”, relatou Nuno Markl.

“Eu cresci com um pai fortemente ateu, uma mãe que eu diria que tem o seu quê de agnóstico e avós religiosas. Amei a minha vida inteira, por igual, todas estas pessoas, fosse o meu pai a afugentar congregações religiosas dizendo que a Bíblia dele era ‘O Capital’, de Karl Marx, ou a minha avó Maria a oferecer-me imagens de santinhos, a contar-me a história de cada um deles e a ensinar rezas ao Anjo da Guarda”, recordou Nuno Markl, referindo que “as crenças ou descrenças destas pessoas não as definiram como melhores ou piores que outras”.

“Nada me move pro ou anti o que quer que seja quando falo disto. Mas sou anti o lado da instituição dos santos protetores e dos anjos da guarda que esconde casos monstruosos e protege criminosos terríveis. Quando se diz ‘deixem a justiça tratar do assunto e não chateiem a Igreja’, a questão é que – perdoem-me – mas a Igreja tem mesmo de ser chateada sobre isto. Para que não mais se escondam crimes tão sérios e para que a Justiça possa, como todos queremos, agir”, acrescentou Nuno Markl.

“Este cartaz é sobre isso. Não é um ‘o teu mundo tem mais pedófilos que o meu’. Por isso, é importante. Por isso, não deveria ser retirado. E por isso é incrível esta senhora”, finalizou.