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Nuno Markl comenta: “Não vamos para novos, mas, de certa maneira, a comédia salva”

“A comédia é vilã, sendo que o bullying que faz é à própria Humanidade."

Ana Ramos
4 min leitura

Nuno Markl comentou, esta segunda-feira, nas redes sociais, sobre a série “Curb Your Enthusiasm” e partilhou uma reflexão.

“O fim de uma era? Não é spoiler dizer que ninguém aprende lições no final de ‘Curb Your Enthusiasm’: quem acompanha a obra de Larry David desde a escrita de ‘Seinfeld’ sabe que é isso que o move – ‘no hugging, no learning’ – e, por muito que custe a almas mais sensíveis ouvir, é isso que a comédia é, ou deve ser”, começou por escrever no Instagram.

“A comédia é vilã, sendo que o bullying que faz é à própria Humanidade. Não há riso nos bons sentimentos, mas há terapia nos maus: a boa comédia vira o espelho para nós, revela-nos como somos falíveis e neuróticos, por muito que nos tenhamos na melhor das contas”, sublinhou Nuno Markl.

“A reforma de Larry, um dos últimos bastiões da ruindade feliz, fez-me rir muito e deixou-me com alguma melancolia: para bem da nossa sanidade mental enquanto espécie, a comédia precisa de avatares do nosso pior lado. Talvez só a turma de ‘It’s Always Sunny in Philadelphia’ consiga, hoje em dia, prosseguir tão importante missão”, continuou Nuno Markl.

“Mas sobre o fim de ‘Curb’: que presente para os fãs. Seja na minúcia da análise de comportamentos (porque diacho há pessoas que não nos deixam mudar de faixa?) seja no disparate maior-que-a-vida (Susie disfarçada no tribunal), o desfecho da saga de Larry David é ainda deliciosamente meta, quando nos apercebemos do quanto este episódio se aproxima e se distancia e se volta a aproximar e a distanciar do controverso episódio final de ‘Seinfeld’. Desta vez, é de vez. Larry já tentou terminar ‘Curb’ noutras temporadas, mas agora, diz ele, quanto mais tempo haverá interesse em ver as desventuras de um idoso a caminho dos 80?”, questionou Nuno Markl.

“Há um tom definitivo neste final, e alguma tristeza, mesmo que nada seja triste neste episódio. A tristeza é no que ele representa e também na fragilidade de Richard Lewis, em vésperas do seu fim. Mas há também uma tremenda alegria em vê-lo, ainda, a lutar com a doença por via do humor. Isso resume o lado otimista de tudo isto: estamos todos condenados, não vamos para novos, mas, de certa maneira, a comédia salva”, rematou Nuno Markl.

Noutra publicação, Nuno Markl acrescentou: “Ainda sobre ‘Curb’, uma última reflexão – o vídeo que anda a circular na net mostrando o final das gravações da série é um pequeno monumento por duas razões”.

“Uma: revela a separação entre personagens e pessoas, o que é útil em tempos em que a comédia é, por vezes, interpretada como um acto de agressão. A outra: sempre achei que um dos actos mais dignos de Larry David enquanto autor foi arriscar manter o Richard Lewis fictício intacto na sua destreza de galã, mesmo enquanto o Richard Lewis real ia – de forma visível – sendo vencido pela doença. O resultado é tocante sem que a comédia nunca seja sacrificada – Lewis manteve a piada até ao fim”, considerou Nuno Markl.

“Também é incrível ver Larry a conter as lágrimas e a fugir para não desfazer inteiramente a personagem, mesmo na hora de sair de cena. É evidente que só se consegue criar personagens sem coração quando se tem um”, defendeu Nuno Markl.