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Marina Machete imune às críticas: “Nada disso tem impacto em mim”

"Não culpo as pessoas que talvez não tenham informação necessária para compreender a minha existência".

Duarte Costa
7 min leitura

Marina Machete, jovem de 28 anos que foi eleita Miss Portugal, no início de outubro, e que está a concorrer ao título de Miss Universo, não se deixa abater com as críticas. Foi vítima de bullying na adolescência e até teve de desistir da faculdade, em Portalegre, por causa do preconceito, mas a dor de outrora fê-la adquirir uma “armadura de ferro” e hoje só sonha em casar e ter filhos.

Eu não culpo as pessoas que talvez não tenham informação necessária para compreender a minha existência e o que é nascer com disforia de género. É mesmo isso que necessitamos, mais informação“, explicou em entrevista à Nova Gente.

Tudo o que passei na minha vida até hoje foi mil vezes pior do que qualquer coisa que as pessoas possam dizer agora. Nada disso tem impacto em mim. O pior são as pessoas trans mais jovens que podem estar a ler isto, meninas trans com 14, 15 anos, e que vão pensar: se estão a fazer isto à Marina, que tem este aspeto, o que me vão fazer a mim?“, confessou.

Por isso, deixa-lhes uma mensagem: “Independentemente da sociedade em que vivemos e da abertura de mente que estamos a viver na atualidade, e as polémicas que existem em torno deste assunto, o importante é que elas se preocupem em ser felizes, nas suas transições e a viverem ao máximo sem pensarem nos comentários negativos porque eles vão sempre existir“.

Polémica com José Alberto Carvalho e Miguel Sousa Tavares

José Alberto Carvalho e Miguel Sousa Tavares dividiram a opinião pública pelo modo como se referiram a Marina Machete no Jornal Nacional, da TVI.

Não foi ela que ganhou o concurso, foi uma operação – ou várias – de cirurgia plástica e medicina molecular. É por isso que foi eleito. O júri apreciou o resultado de sucessivas operações plásticas que correram bem e tratamentos moleculares ou celulares. E é esse o resultado“, explicou Miguel Sousa Tavares, antes de lançar uma questão ao pivô: “Tu casavas-te com esta mulher?“.

José Alberto Carvalho mostrou-se um pouco atrapalhado com a pergunta, numa primeira reação, mas acabou por responder. “Não, não. De todo. E tu também não…“, atirou. “Eu também não“, confirmou Miguel Sousa Tavares.

Dias depois, o jornalista da TVI encerrou o Jornal Nacional, que conduziu ao lado de Sandra Felgueiras, com um pedido de desculpa.

A relação de confiança com os cidadãos é um dos requisitos para cumprir a minha profissão. Uma atitude irrefletida que cometi na quinta-feira, na última vez em que estive neste estúdio, abalou, para algumas pessoas, essa relação de uma forma que não pretendi, que não defendo e que não corresponde ao que sou“, começou por dizer.

Por uma razão importante: estava em causa uma pessoa. Chama-se Marina Machete, a vencedora do concurso Miss Portugal. O sofrimento ou a mágoa de qualquer pessoa, deve ser evitada em todas as circunstâncias. Penalizo-me e peço desculpa se algum comportamento meu, ainda que intencional, possa ter contribuído para isso em relação a ela, à sua família e aos seus amigos“, continuou.

Não o sinto e não o desejo. Independentemente das escolhas que cada um faz na vida, creio convictamente que todas as pessoas devem procurar a sua felicidade. Isso é verdade para a Marina Machete, tal como para qualquer um e também para mim. Afirmar uma escolha nossa não é, nem deve ser, nem mais nem menos importante do que a escolha feita por outro“, acrescentou.

Quanto à opinião, ela é controversa e na quinta-feira o Miguel Sousa Tavares aqui estará para partilhar a dele. Vamos assinalar os 50 de anos do 25 de abril e continuamos a ter muita estrada para fazer e muito caminho para andar. Tenhamos a humildade de o reconhecer e a coragem para continuar. Viva a liberdade, a de todos e a de cada um“, disse ainda José Alberto Carvalho.

Miguel Sousa Tavares não pede desculpa

Não tenho nada nem a acrescentar, nem a retirar. Mas já que insistes… Como sabes não sigo redes sociais (…) mas seria hipócrita se dissesse que tenho um desconhecimento total de quais foram as reações”, começou por dizer, uma semana depois da polémica, no Jornal Nacional.

O comentador aproveitou para explicar as duas coisas que disse: “Uma, que eu não acho legítimo que um transexual concorra a um concurso de beleza feminina, como não acho legitimo que concorra a provas desportivas femininas. Vicia as regras do jogo. É batota“.

Miguel Sousa Tavares referiu ainda que “não acreditava que não houvesse mulheres mais bonitas a concurso e, portanto, concluo que ela tenha ganho por não por ser a mais bonita, mas por ser transexual”.

Isso implica uma coisa mais ampla e mais grave. Eu não ponho em causa, de maneira nenhuma que as minorias devem ser protegidas”, atirou, lembrando que foi “das primeiras pessoas” a defender publicamente o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Por fim, Miguel Sousa Tavares afirmou: “Aqui, embora as redes sociais possam dizer o que quiserem, eu sei que estou do lado da maioria. Há muita gente que acha muito bonito chamar-me nomes e dizer que ‘eu sou moderno’, no fundo não são“.

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