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Mariana Cabral recorda capa de revista: “Os únicos relatos que tínhamos de figuras públicas eram de recuperações em duas semanas”

“Se nas nossas redes só temos feeds bonitos e fluorescentes, é mais rápido acharmos que nós é que estamos errados.”

Ana Ramos
5 min leitura
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Mariana Cabral, também conhecida como ‘Bumba na Fofinha’, foi a mais recente convidada de Francisco Pedro Balsemão no podcast “Geração 80” e recordou a capa da revista “Women’s Health” que protagonizou depois de ser mãe.

A humorista explicou que não o fez “com o intuito de ter piada”: “Acima de tudo, sentia que, nas redes sociais, nos exemplos que temos de figuras públicas, o pós-parto é uma altura mesmo difícil e para casais que sejam companheiros e que partilhem as coisas… toda a gente sabe que é uma altura mesmo difícil. E os únicos relatos que tínhamos de figuras públicas eram de recuperações em duas semanas”.

“Não é real, não é sequer desejável! Mesmo pessoas que passam um pós-parto inteiro nesta busca de voltarem rapidamente àquilo que eram antes, muitas vezes, é muito pérfida e insidiosa essa viagem e, como eu não via exemplos, pensei: ‘Por que não?’”, lembrou Mariana Cabral.

“Ainda por cima, eu acho que recuperei rápido. A biologia esteve do meu lado, mas pensei: ‘Deixa cá ser só normal’. O que é surreal ser um ‘statement’ ser-se só normal numa revista e ser só normal é um bocadinho surrealista”, comentou Mariana Cabral.

Noutro âmbito, Mariana Cabral considerou que, hoje em dia, as pessoas estão “muito melhores a falar e a normalizar a ansiedade, o medo”: “Mas, por exemplo, coisas mais pesadas, tipo, a tristeza, o estar-se triste sinto que ainda não é uma conversa assim tão normal, mas acho que evoluímos nos últimos 10 anos aquilo que não evoluímos nunca”.

“A título pessoal, privado, eu sempre fiz psicoterapia, mas também venho, se calhar, de um ambiente onde isso nunca foi um tema. Mas eu não penso: ‘Ah! Deixa-me cá ser um veículo de evangelização’. O que acontecia era, no caso da pandemia, estávamos todos a passar mal e eu só falei das minhas inquietações”, afirmou Mariana Cabral.

“Eu pensei: ‘Não vai acontecer nada se eu falar das minhas inquietações. Normalmente, falo das minhas inquietações para ter piada apenas. Falo delas com esse sentido. Tem é, às vezes, outras consequências que já me fogem do controlo de pessoas se sentirem menos sozinhas ou identificarem-se e promoverem uma conversa sobre isso”, declarou Mariana Cabral.

“É a caixa de ressonância que se cria, mas eu não tenho estudos para pensar nisso logo estrategicamente. Acho que, quando acontece, é uma bonita consequência”, sublinhou.

“Falavas que as pessoas não dão tanta importância à tristeza, mas também poder pelo facto de nós também estarmos todos a querer ser tão felizes e tão perfeitos e de a sociedade exigir muito de nós próprios?”, questionou Francisco Pedro Balsemão.

“Sim, acho que então nas redes sociais essa curadoria é quase doentia, a curadoria do otimismo e do positivismo infinito”, referiu Mariana Cabral.

Sobre as suas publicações, Mariana Cabral contou: “Eu procuro não é para o bem, é para a verdade, se calhar, um bocadinho mais de realidade, pá, porque aquilo também não é real”.

“Eu percebo que uma pessoa faça uma escolha e queira criar a sua persona online. Não temos de ser todos, mas acho é que deve haver um equilíbrio e esse equilíbrio não existe e acho que está cada vez mais díspar a realidade da curadoria das redes sociais. Isto é um bocadinho assustador, porque, quando maior o desfasamento, se calhar, menor a legitimidade para então sentirmos o ‘pantone’ das coisas que há a sentir”, acrescentou Mariana Cabral.

“Se nas nossas redes só temos feeds bonitos e fluorescentes, é mais rápido acharmos que nós é que estamos errados, que nós é que estamos sozinhos e a viver numa bolha escura, quando toda a gente lá vai”, concluiu Mariana Cabral.

Veja aqui o podcast completo.