fbpx

José Carlos Pereira emociona-se ao recordar o pai: “O choque que senti na altura foi muito grande”

"A ausência ainda magoa mais do que a saudade."

Ana Ramos
7 min leitura
José Carlos Pereira, pai

José Carlos Pereira esteve, esta terça-feira, no “Dois às 10”, da TVI, onde recordou o pai, que faleceu recentemente.

O ator contou que o pai teve alguns problemas de saúde nos últimos anos, mas que “nunca se está à espera”: “O meu pai foi um lutador, como eu disse. Ele, durante os últimos 10 anos, acho que ele teve quatro tumores, todos novos, tanto mais que a causa da morte não foi nenhum desses tumores. Foi mesmo uma morte natural, por falência, por cansaço do corpo”.

“Quando eu arranquei daqui para o Brasil, ele estava a terminar um ciclo de antibiótico, porque tinha tido uma infeção respiratória e ele tinha mais três dias de antibiótico no hospital e já tinha indicação para ter alta. Portanto, fui descansado. De um dia para o outro, recebo a notícia de que ele piorou substancialmente e, no dia seguinte, deu-se isto”, lembrou José Carlos Pereira.

José Carlos Pereira admitiu que a distância “complica” a situação: “Na medida em que sentimos de uma maneira diferente porque não estamos lá. Não sei se ameniza ou se intensifica, sei que o choque que senti na altura foi muito grande”.

“Perdi um bocadinho até a noção mais ou menos do que se estava a passar, quis abandonar um bocado a realidade. Desliguei o telefone, isolei-me um bocado porque comecei a receber muitas mensagens, o que é natural. E tentei alhear-me um bocadinho da realidade. Passei imenso tempo sozinho, fui andar e não sei quanto tempo andei. Andei, andei, andei… depois, sentei-me na praia, fartei-me de chorar”, relatou José Carlos Pereira.

“A logística é muito diferente. Nós não estamos com cabeça para tentar tratar de viagens, tratar destas coisas todas e, embora tivesse delegado algumas funções cá e sabia que cá havia pessoas que cá poderiam tratar das coisas, eu, entretanto, tentei arranjar a viagem que foi quase praticamente impossível”, recordou ainda José Carlos Pereira, referindo que acabou por viajar na data prevista.

“Mas, felizmente, acho que vou ter esta oportunidade amanhã de lhe prestar uma última homenagem. Acho que vai ser a minha despedida. Era um desejo dele que eu vou honrar, como alguns outros que ele deixou escritos”, contou José Carlos Pereira.

José Carlos Pereira vai realizar uma homenagem esta quarta-feira, na aldeia do seu pai, em Vila Nova de Foz Côa: “Vai ser talvez a minha catarse e o meu fechar de ciclo e talvez poder despedir-me condignamente daquilo que ele representava na minha vida e daquilo que ele foi ao longo da minha vida”.

“Acho que ainda não tive tempo para me despedir. Acho que, desde que cheguei [do Brasil], há cerca de 20 dias que tenho estado em modo de piloto automático a tratar das coisas todas. Sou filho único. Também tento não ter espaço e tempo para pensar. Quando chego a casa, é para dormir e pouco mais”, confessou José Carlos Pereira.

“O principal sentimento que eu tive foi que deixei de ter teto e eu passo a ser o teto. Como se tivesse caído uma responsabilidade em mim de que ‘ok, agora, tenho de ser eu a cuidar dos outros’ e eu não estava à espera disso”, disse José Carlos Pereira, emocionado, referindo que é “uma passagem de testemunho inconsciente”.

“Tudo isto acaba por ter uma logística para a qual eu não estava preparado nem sabia que ia acontecer porque nós pensamos numa coisa e não pensamos em tudo o resto que acontece a seguir. Nós temos agora é de tentar cuidar daqueles que cá ficam e eu tenho uma família grande”, sublinhou José Carlos Pereira.

José Carlos Pereira acabou por referir que ainda lhe custa “muito visitar os locais” que o lembram do pai: “Ontem tive oportunidade de lá ir a casa. Entrei sozinho, os cheiros, os locais, as coisas, os objetos, tudo associamos, portanto, esta associação é que nos vai dando… Eu acho que isto é uma coisa que se vai vivendo no dia a dia. A ficha não cai imediatamente, vamo-nos apercebendo da ausência da pessoa”.

“Ainda magoa, ainda me dá a saudade. Ainda não me traz a parte boa da memória. A ausência ainda magoa mais do que a saudade”, afirmou José Carlos Pereira, que acrescentou que, “felizmente”, teve “a oportunidade de lhe dizer tudo aquilo” que tinha sido para si e de lhe agradecer e dizer o quanto gostava dele.

“Disse-me que tinha muito orgulho em mim, que tinha muito orgulho no filho que tinha e que acreditava em mim. Isso é das melhores coisas que nós podemos ouvir. Mesmo agora ele não estando cá, quero que a minha vida continue a ser pautada e que ele se orgulhe de mim, esteja ele onde estiver, e que olhe para mim com orgulho, não só para ele mas também para os meus filhos. Isso é o mais importante. Acho que é para isso que estamos cá, o propósito de vida maior que nós temos. Independentemente de outras coisas que façamos cá, profissionais, etc., o nosso propósito maior é as pessoas que nós realmente amamos”, concluiu José Carlos Pereira.

José Carlos Pereira contou ainda que a mãe, apesar de separada do pai há mais de 25 anos, sentiu muito esta perda: “Quando cheguei, vi a minha mãe também muito abalada e isso também acabou por me dar um bocadinho mais de ‘chega-te à frente, porque tens de começar a tomar conta das coisas e agarra tudo’”.

Sobre os filhos, José Carlos Pereira revelou que ainda não deu a notícia: “Os pequeninos não se apercebem ainda. O Salvador, que está no Dubai com a mãe, ainda não sabe que o avô Zé morreu. Eu, em princípio, irei lá e vai ser uma das coisas que vou ter de lhe dizer”.

Veja aqui, aqui e aqui uma parte da conversa.