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Joana Vasconcelos confrontada: “Na tua vida íntima és igual ao que és na arte? O tamanho importa?”

“Os homens que compram carros gigantes querem disfarçar uma determinada parte do corpo pequena, dizem. Uma mulher que faz anéis gigantes quer disfarçar o quê?”

Ana Ramos
4 min leitura
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Joana Vasconcelos esteve, esta quarta-feira, com ‘As Três da Manhã’, na Rádio Renascença, e respondeu a algumas questões da rubrica “Desculpa, mas vais ter de perguntar”.

“Na tua vida íntima és igual ao que és na arte? Achas que o tamanho importa?”, questionou Ana Galvão.

“Acho que o tamanho não importa nada, porque as minhas peças não são feitas a partir da escala, são feitas a partir do conceito. Ou seja, é um conceito que eu quero passar e encontro os objetos corretos para falar sobre esse assunto”, respondeu Joana Vasconcelos.

No caso do sapato feito de panelas e tampas em aço, com 2,70 metros de altura, Joana Vasconcelos explicou que queria falar da “contradição da mulher contemporânea, entre o passado, a tradição, a casa, a cozinha, um papel mais tradicional da mulher, e a mulher contemporânea, que está aqui num estúdio a fazer perguntas difíceis”.

“Eu escolho o sapato como identificação da mulher contemporânea, sapato de salto alto e as panelas, como símbolo da mulher no ambiente doméstico mais ligado à tradição. A junção de fazer um sapato de panelas dá-lhe uma certa escala, mas eu não sei bem qual a escala do sapato, porque não é sobre a escala que eu estou a falar, mas, sim, sobre os conceitos que estão na origem dos projetos”, explicou Joana Vasconcelos.

Inês Lopes Gonçalves perguntou: “Os homens que compram carros gigantes querem disfarçar uma determinada parte do corpo pequena, dizem. Uma mulher que faz anéis gigantes quer disfarçar o quê?”.

“Quer disfarçar a incongruência dos estereótipos, ou seja, o estereótipo do luxo, da beleza e da perfeição, através de ideias pré-concebidas em que, para se ser feliz, tem de se ter um grande diamante, um grande carro ou tem de se beber um whisky caríssimo, nuns copos caríssimos”, afirmou Joana Vasconcelos.

“Eu creio que a felicidade é um bocadinho mais do que isso e que não é através daquilo que se mostra, é daquilo que se é”, referiu ainda Joana Vasconcelos.

“As tuas exposições são as mais vistas em Portugal. Achas que isso reforça o estereótipo de que os portugueses adoram ver acidentes?”, perguntou Joana Marques, entre risos.

“Essa pergunta ainda nunca me tinha sido feita… Fantástico”, comentou Joana Vasconcelos. “Se forem bons acidentes… só quando acontecem coisas estranhas é que nós evoluímos, portanto, os acidentes são sempre bem-vindos para que haja uma nova perspetiva do mundo”, continuou.

Ana Galvão pediu ainda: “Ordena por tamanho – as tuas obras, o teu ego, ou o saldo da tua conta bancária”. “As minhas obras são sempre as maiores”, referiu Joana Vasconcelos.

Joana Marques questionou também: “Descreves-te a ti própria como uma mulher samurai. É porque, finalmente, percebeste que entender as tuas peças é como tentar ler japonês?”.

“Eu acho que ler as minhas peças não tem nada de samurai, pelo contrário. Ler as minhas peças tem a ver com empatia e com felicidade e é com o gosto que as pessoas têm de descobrir algo ou de comunicarem com o artista e verem uma nova perspetiva sobre o mundo. O que eu gosto é que as pessoas vão às minhas exposições e saíam de lá com um sorriso. Não saiam de lá ensanguentadas”, clarificou Joana Vasconcelos.

Veja aqui uma parte da conversa.