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Dino D’Santiago: “É necessário abrir espaço para o diálogo, sair da bolha do privilégio que nos cega”

“Foi nesse momento que me apercebi que precisava de ir mais longe para entender o porquê de nem todo o tuga ser luso."

Ana Ramos
4 min leitura

Dino D’Santiago fez uma partilha, esta terça-feira, nas redes sociais, sobre o racismo e xenofobia.

“No dia 6 de Janeiro de 2023, deixei as redes sociais, por conta de vários ataques xenófobos. Bloqueei grande parte desses agressores, mas o seu ódio estendeu-se para além do meu perfil, com ameaças à minha integridade física”, confessou o artista.

“Foi nesse momento que me apercebi que precisava de ir mais longe para entender o porquê de nem todo o tuga ser luso”, continuou Dino D’Santiago.

Dino D’Santiago contou que viajou para o Brasil: “Partilhei a tristeza que carregava, ao aperceber-me que o país onde nasci não estava preparado para sair da negação ao passado de desumanização, genocídio e tortura seculares”.

“Partilhei que gostaria de adentrar no Candomblé e foi nesse momento que Grada partilhou comigo que a forma como vejo o mundo mudaria para sempre. Djamila contactou Mãe Fabiane, do Ile Axé Opo Aganju e, no dia 02 de Fevereiro, depois de ser abençoado por Iemanjá, tive o primeiro contacto com uma religião afrodescendente e hoje sei que sou filho de Ogum e Oxóssi”, continuou Dino D’Santiago.

“Foi então que decidi ir mais longe e entender o ADN que me compõe”, afirmou Dino D’Santiago. “Graças ao amor dos meus pais, a minha origem étnica é composta por sete regiões: 80% Senegal, 9% Portugal, 7% Espanha, 2% África do Norte, 1% Mali, 1% França e 1% Irlanda. Ainda estou a processar toda esta informação, pois tenho impresso no meu ADN a origem do racismo. 82% de África e 18% dos maiores Impérios Colonialistas Europeus. Não existe qualquer acaso neste resultado, pois o Senegal é o país mais próximo de Cabo Verde, uma nação erguida com o sangue dos meus ancestrais”, descreveu Dino D’Santiago.

“É necessário abrir espaço para o diálogo, sair da bolha do privilégio que nos cega e nos afasta da empatia para com a memória e, acima de tudo, a História, que persiste em mostrar uma única face da moeda. É tempo de concordarmos em discordar e, mesmo assim, ter a coragem de olhar para o nosso passado com a lente da verdade, para que finalmente seja possível neste presente, desenhar um Mundu Nôbu”, rematou Dino D’Santiago.

Nos comentários, Catarina Furtado escreveu: “E eu que não fiz o teste, mas quero um dia fazer, sei e sinto que tenho tanto de tantos. Só te agradeço as várias autoestradas e estradas secundárias de paz que estás a construir”.

Carlão também comentou: “Também fiz esse teste há uns – não exatamente igual porque não separaram os pais – e é incrível a quantidade de origens que nos compõem… Entre mim e ti, temos em comum a África do Norte, Portugal e surpresa das surpresas, Irlanda. Obrigado pela partilha, irmão. Sempre juntos”.

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