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Despedido! André Gago perde trabalho por causa de funeral

A. Oliveira
5 min leitura
© VIP.pt

O ator André Gago revelou esta segunda-feira que foi despedido, pela “primeira vez”, em mais de 30 anos de carreira, de uma peça de teatro que se vai estrear “no último dia de janeiro”. O motivo, garante, está relacionado com a sua ausência de um ensaio, previamente comunicada à equipa, para ir a um funeral.

“Hoje fui a um funeral. Avisei ontem que não iria às primeiras horas dos ensaios de uma peça a estrear no último dia de janeiro. Quando cheguei àquele que seria o quarto dia de ensaios, com o consequente atraso de duas horas e meia, fui despedido. É a primeira vez que me acontece”, escreveu.

André Gago publicou, esta segunda-feira, no seu perfil de Facebook, um extenso texto dando conta de um despedimento que lhe provocou “um misto de emoções”: “o absurdo do mundo dos vivos e o absurdo da morte, que nos lembra que a vida é um fósforo breve em que há valores mais importantes do que o estrito cumprimento dos horários”.

O ator, de 54 anos, com um longo percurso em teatro e televisão, conta que, antes deste episódio, já tinha avisado “que tinha alguns compromissos […] nos primeiros dias do mês”, que lhe “colocaria, alguns entraves, pelo menos durante a primeira semana de ensaios”. “Recebi uma admoestação escrita”, alega, defendendo que, logo aí, “devia ter saltado fora” deste trabalho. “As produções querem sempre o máximo tempo de nós e levam a mal que tenhamos uma vida, mesmo que seja também ela profissional.”

André Gago diz que não se arrepende da sua escolha. E é perentório: “Não esqueço, do dia de hoje, a emoção do abraço do meu amigo, a quem fui prestar condolências. Ainda bem que fui ao funeral. Vale muito mais do que o trabalho que perdi.”

Leia o texto na íntegra

DOS VALORES DE PRODUÇÃO

Hoje fui a um funeral. Avisei ontem que não iria às primeiras horas dos ensaios de uma peça a estrear no último dia de janeiro. Quando cheguei àquele que seria o quarto dia de ensaios, com o consequente atraso de duas horas e meia, fui despedido. É a primeira vez que me acontece.

Voltei para casa com um misto de emoções: o absurdo do mundo dos vivos e o absurdo da morte, que nos lembra que a vida é um fósforo breve em que há valores mais importantes do que o estrito cumprimento dos horários.

Esta produção foi anunciada em cima do joelho. Avisei que tinha alguns compromissos ainda nos primeiros dias do mês, e que isso me colocaria alguns entraves, pelo menos durante a primeira semana de ensaios. Recebi uma admoestação escrita. Devia ter saltado fora. Estou habituado a isto: as produções querem sempre o máximo tempo de nós, e levam a mal que tenhamos uma vida, mesmo que seja também ela profissional.

Por isso, entre outras coisas, tenho consultas por fazer desde outubro, que não marco, porque é preciso é trabalhar e estar disponível para os sobressaltos que a ausência de planificação estabelece. Estou habituado a que só os atores não possam ter sobressaltos. Como funerais, por exemplo. Não esqueço, do dia de hoje, a emoção do abraço do meu amigo, a quem fui prestar condolências. Ainda bem que fui ao funeral. Vale muito mais do que o trabalho que perdi.

Espero que a peça corra bem. E desejo aos meus colegas uma vida longa e sem sobressaltos. Disponibilidade absoluta, e sem mácula: eis o que parece ser vital para a conceção que algumas pessoas têm do que é realmente importante no Teatro. Não para a minha conceção de Teatro, certamente, que diverge muito da ideia de escritório, de fábrica, com apito e relógio de ponto.

Agora vou gozar o Sol deste dia belo e triste, pensar na vida, e depois vou continuar a trabalhar, que é uma coisa que gosto muito de fazer.

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