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Bruno Nogueira reage à agressão de Will Smith: “O que se deveria estar a discutir era a resistência do Chris Rock”

Vanessa Jesus
4 min leitura

Will Smith agrediu Chris Rock, depois de o humorista ter feito uma piada sobre Jada Pinkett-Smith, na cerimónia dos Óscares. Vários humoristas portuguesas, incluindo Bruno Nogueira, recorreram ao Instagram para comentar o sucedido.

Bruno Nogueira recorreu às redes sociais para comentar a agressão de Will Smith a Chris Rock. O humorista mostrou-se incrédulo por vários internautas estarem a aplaudir a atitude do agressor.

O que aconteceu surge como um amargo de boca depois de provar uma maçã que se anunciava podre. Era uma questão de tempo até mandar calar deixar de ser um grito de raiva, e passar a ser uma mão que atordoa. Incomoda-me particularmente o foco da discussão: ‘há limites no humor?’. Há, mas não é o que tanto se quer. Agredir fisicamente alguém que fez uma piada é ultrapassar o limite do humor. Moralmente, e judicialmente“, começou por escrever.

“Mas isto é mão que toca outros corpos. É sobre a legitimidade de alguém agredir a outra sempre que ouve uma coisa com a qual não se sente confortável. É sobre combater palavras com socos, na esperança vã que elas desmaiem. É sobre alguém agredir um humorista, e a pergunta ser: ‘não terá o humorista passado dos limites’? Se esta frase lida em voz alta não for contraditória em todas as suas letras, então resta pouco pavio para o diálogo”, acrescentou Bruno Nogueira.

“Na cerimónia não há nenhum segurança que interrompa o momento, não há ninguém que proteja a integridade física de Chris Rock, não há nenhum polícia que o leve até uma esquadra. Há uma nuvem que se agiganta, que se via sempre com a lente desfocada, e que ontem corrigiu o foco. O agressor fica sentado no mesmo sítio, assiste a toda a gala, com o Chris Rock a ter de seguir o seu trabalho. Will Smith ainda sobe a palco para receber um Óscar, e é aplaudido de pé”, adiantou, falando de seguida do humorista agredido.

“E Chris Rock, que continua só munido de palavras, segue com a arma que tem. Essa arma tão perigosa para o ego: a piada. Pela internet, surpreende-me a quantidade de pessoas que dizem ‘é bem feita, para ver se ele aprende’. Que doce realidade virtual esta, onde nunca ninguém disse nada que possa ferir susceptibilidades, a não ser os humoristas. Onde ontem, naquele soco, se vinga todo o mal dessa ameaça terrível que é o humor”, sublinhou Bruno Nogueira.

“Aceite-se isso, e o que sobra? Quem fica a salvo, se o árbitro e as regras mudam conforme a direção em que sopra o vento? O que hoje se deveria estar a discutir não era o soco do Will Smith, mas a resistência do Chris Rock. Legitimar o que aconteceu é aceitar que o mundo se deve vergar e calar perante o que incomoda. E o que resta depois? Resta alguém que, sozinho no meio do deserto, morre de raiva por não ter ninguém em quem bater”, rematou Bruno Nogueira.

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