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Após comentário polémico, Cláudia Semedo deixa recado a Joana Latino

A Televisão
6 min leitura

A jornalista da SIC está a ser muito criticada por algumas figuras ligadas ao mundo do espetáculo.

Isto porque no programa ‘Passadeira Vermelha’, da SIC Caras, Joana Latino criticou a forma como a maioria dos artistas portugueses estão a tentar contornar a crise provocada pela pandemia. De modo a sustentar a sua opinião, utilizou como exemplo os diretos feitos por Bruno Nogueira na rede social Instagram, num formato que ficou denominado de ‘Como É Que O Bicho Mexe?’.

“Os artistas, em vez de fazerem tantos discursos miserabilistas, catastrofistas e de autocomiseração, deviam mexer-se”, começou por dizer a comunicadora. “Uma série desses artistas continuam a não se mexer e se calhar deviam olhar para este exemplo, desta equipa que teve uma trabalheira durante dois meses. Fizeram o inimaginável, que foi transformar a adversidade na melhor coisa possível”.

Joana Latino acrescentou ainda um elogio ao trabalho desenvolvido pelo comediante. “Isto foi bombástico. Isto é que é ter amor à profissão e ter sentido de responsabilidade e de utilidade”, rematou.

Perante tal série de palavras, vários artistas manifestaram, pouco depois, a sua indignação. Hugo Sequeira disse que “ser estúpido pode ser tanto uma condição, como uma opção”. Wanda Stuart chamou-lhe “idiota”.

Cláudia Semedo usou as redes sociais no final desta terça-feira, para deixar um recado a Joana Latino.

“”Estou farto de paz que não existe.”, desabafou um amigo aqui há dias. Eu também estou mas regra geral opto por ser a paz que procuro encontrar. Regra geral. Hoje exceptuo-me. Joana Latino considerava-te uma jornalista fora da caixa. A carteira já deve ter-se perdido, entre guarda-fatos publicitários, hoje perdeu-se a caixa. É muito fora e muito triste que alguém com a tua formação continue a olhar para os artistas como os boçais de antigamente.”

“A arte é parte essencial da cultura dos povos. Não serve para entreter. Serve para educar, para construir identidade, para curar esse grande mal chamado ignorância. Há muito tempo que os artistas e todos os profissionais que te fazem chegar livros, poesia, música, teatro, dança, pintura, escultura e que te ajudam a perspectivar o mundo, vivem em condições precárias.”

“Esta pandemia só veio deixar claro o quão injusto é esse lugar. Trabalhamos, trabalhamos diariamente e arduamente para que o sonho não deixe de existir e para que o pensamento continue a correr solto. Opiniões como as que tens dado, que colocam toda uma classe no saco da preguiça e da superfluidade, são vergonhosas e perigosas. Alguém que tem a responsabilidade da palavra deveria usá-la com consciência. O silêncio, quando não se tem nada para acrescentar, é de ouro.”

Nuno Markl, que participou também no ‘Como É Que O Bicho Mexe?’, também se pronunciou sobre o assunto.

Ora leia:

Não é bonito ver o ‘Como É Que O Bicho Mexe?’ ser usado como arma de arremesso contra a classe artística, como se os diretos do Bruno se revelassem, afinal, a solução mágica para os graves problemas de uma quantidade tremenda de profissionais da cultura, em extraordinárias dificuldades nestes tempos.

É grosseiro e demagógico, quase num nível Bolsonárico, que se levante a questão: ‘De que se queixam, se está provado que é só ligar o Instagram e criar uma oportunidade de trabalho?’. O Bicho nunca foi, nem pretendeu ser um modelo de negócio ou um ganha-pão para os seus intervenientes. Diria até que todos os que entrámos nesta aventura do Bruno somos bastante privilegiados: a nenhum de nós falta trabalho, nenhum de nós está a passar fome. Mas há muita gente que está, e não são só ‘os artistas’, são todos os profissionais cuja vida depende das mais diversas actividades culturais.

Achar que é só improvisar uns diretos lembra os gurus empreendedores que, no auge da crise – e eles devem estar a reaparecer – diziam que cabia ao povo não se queixar e ter motivação e criatividade, o que é a falácia mais manhosa e insultuosa de sempre. Além disso, atacar os agentes da cultura é retórica facha: a ideia de que a arte é coisa supérflua, que há ‘coisas mais importantes’ e que a vida de artista se resolve com um estalar de dedos é pantanosa, triste e injusta. A classe artística não é queixinhas – é feita de muita gente com vidas, com famílias, e que há meses que tem a sua vida suspensa, com tanto trabalho adiado sine die, ou mesmo definitivamente cancelado“.

 

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