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António Raminhos revela um dos episódios mais dramáticos que já teve

Duarte Costa
3 min leitura
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O humorista teve de ser operado a uma hérnia, aos 19 anos, mas o pior veio depois. Dois dias depois de ter alta, sentiu “algo estranho” e não se conseguia mexer. Ao terceiro dia, 39,5 de febre. Teve de voltar para as urgências, onde veio a descobrir que estava com uma grave infeção.

Leia aqui o testemunho:

Muita gente goza comigo por causa da ‘cicatriz da cesariana’ ou que a minha ‘barriga está triste’. Sem problema, como é óbvio, mas a história já tem mais que se lhe diga.

Aos 19 anos, fui operado a uma hérnia. Passei três dias no Curry Cabral, num pavilhão que mais parecia hospital de campanha, onde as ‘salas’ eram divididas por taipais. Ao meu lado, tive um homem que passava várias horas do dia a escarrar para um saco de plástico que tinha carinhosamente pendurado ao lado da cama.

Eram longos segundos em que ele inspirava profundamente e fazia um som gutural para ir buscar a gosma mesmo lá ao fundo. Como se não bastasse, durante a noite sentava-se na cama, virado para mim, a comer bolachas Maria, fazendo questão de sonorizar cada mastigadela com um ‘mnha mnha mnha’. Três taipais à frente tinha um homem que gritava a noite toda, para além da equipa de enfermagem que falava a alto e bom som durante a madrugada.

Fui para casa. Dois dias depois começo a explicar que sentia algo estranho. Custava-me muito a mexer e parecia que tinha algo… Ao terceiro dia, estou com 39,5 de febre. Fui para as urgências onde, sem anestesia (acho que só podia mesmo ser assim), a médica tira os pontos e vi o pânico da cara dela. Nesse momento, sinto a esvair-me em sangue. Não era sangue, era pus… estava tudo infetado.

Foram as dores mais horríveis que me lembro de ter. Os médicos tinham de enfiar seringas e seringas de betadine para dentro e espremer a minha barriga para limpar tudo. Durante um mês, tive de andar com um buraco e um dreno a fazer pensos diários.

O processo era bonito. Enfiavam-me, entre a pele e a parede abdominal, gaze enrolada num ferrinho e eu sentia, literalmente, aquilo a mexer dentro de mim. Como este tratamento foi feito nos centros de saúde dos anos 90, a maior parte das vezes estava a fazer o penso e,ao meu lado, um ou outro toxicodependente a fazer o seu penso de feridas abertas feitas pelas agulhas ou sei lá o quê. Fiquei com sequelas desta treta. Não é a história do coitadinho, é só uma história dos anos 90“.

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