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Entrevista de José Eduardo Moniz

A Televisão
31 min leitura

O Director Geral da TVI deu uma entrevista ao Rádio Clube Português e ao Correio da Manhã onde falou do TVI 24 e onde a concorrência não escapou às críticas.

“Abrir o TVI 24 é um acto de muita coragem”

José Eduardo Moniz, director-geral da TVI, diz que lançar agora um novo canal é uma grande aventura. Publicidade já baixou mais de 20%.

Correio da Manhã/Rádio Clube – Está muito nervoso com o lançamento do novo canal TVI 24?

José Eduardo Moniz – Nervoso não diria. Estou com muita vontade de o ver nascer e com aquele nervoso miudinho que é característico destas situações em que se lança um projecto novo. Obviamente ficamos com imensa curiosidade de saber como é que as coisas vão resultar porque queremos que elas corram bem.

ARF – É um projecto caro ou barato?

– Tendo em conta a realidade do mercado hoje em dia obviamente que não é barato. É um acto de muita coragem estar a abrir um canal nestas circunstâncias.

ARF – É uma grande aventura?

– É uma grande aventura. Mas mais do que uma grande aventura é uma necessidade para a TVI. De facto nós somos uma estação de referência em Portugal e não fazia sentido que os outros canais de televisão tivessem canais no cabo e nós não. E sobretudo canais com a importância que os canais de informação têm.

ARF – Foram contratadas 90 pessoas?

– À volta disso.

ARF – Numa situação de crise é um acto de coragem.

– Revela o espírito empreendedor da TVI. Isto é, nós sempre trabalhámos com recursos limitados. Quer do ponto de vista financeiro quer do ponto de vista humano. E apostámos muito em lógicas de rentabilidade porque só assim se consegue dar sustentabilidade às empresas. É evidente que quando se colocou a questão de fazer um novo canal procurámos ver até que ponto era possível apenas com os recursos existentes fazer o canal. Chegámos à conclusão que isso não era possível porque cada uma das áreas necessitaria de receber dois, três, quatro elementos. E foi isso que se fez. Nós, no fundo, não estivemos a fazer uma redacção nova, uma direcção técnica nova, uma direcção de produção nova, uma direcção gráfica nova. Não fizemos nada disso. A única coisa que fizemos foi acrescentar.

ARF – Vai tudo funcionar em conjunto para a TVI e a TVI 24?

– Tudo funciona com o mesmo objectivo, integrados numa estrutura que é única para os dois canais. A isso também se poderá acrescentar a estrutura de produção dos sites da TVI e do TVI 24.

LO – No fundo, a TVI 24 vai servir também para reforçar o poder de fogo na TVI na área da informação?

– Não diria isso. Quer dizer, vai adicionar à TVI uma capacidade de cobertura dos acontecimentos substancial. Nós já temos uma cobertura do País muito razoável. Em Lisboa tínhamos 20 equipas de reportagem, meia dúzia no Porto, coberturas externas que nos garantiam o nosso trabalho em Faro e Coimbra, tínhamos também mais uma produtora em Trás-os-Montes, temos uma delegação em Évora, temos também cobertura nos Açores e Madeira. Mas obviamente que agora acrescentámos mais meios a isso. E nessa medida é evidente que o trabalho que for feito para o TVI 24 e o trabalho que for feito para a TVI há uma capacidade de cruzar para os dois lados que torna necessariamente melhor a nossa capacidade de resposta perante as circunstâncias.

LO – Para o Governo o nascimento do TVI 24 é uma notícia bastante preocupante, tendo em conta que a TVI tem feito um jornalismo livre e mais agressivo do que os restantes canais de televisão em relação ao Governo. Desse ponto de vista considera que o alargamento do poder de influência da TVI é mais complicado para o Governo do que a oposição de Manuela Ferreira Leite?

– Vamos ser práticos. Eu acho que para este Governo ou para qualquer Governo é bom haver o alargamento do pluralismo na Comunicação Social, como é óbvio.

ARF – É uma afirmação teórica.

– Em termos conceptuais, obviamente. É bom que haja possibilidade de haver mais confronto de opinião, mais debate, mais ângulos de abordagem perante a realidade. Eu acho que isso é bom para a democracia em geral. É evidente que em qualquer sociedade democrática qualquer Governo deve ficar feliz com isto.

ARF – Temos de perguntar ao ministro Santos Silva se vai ficar contente com essa situação.

– Nós na TVI, e eu farto-me de repetir isto, temos um posicionamento muito claro. Nós somos uma estação de televisão independente e a independência ligada à verdade fazem as duas componentes essenciais da credibilidade. E o nosso negócio, enquanto jornalistas, é o negócio da credibilidade e da busca permanente da verdade. E não nos vamos afastar em nenhuma circunstância desse objectivo. É evidente que em muitas circunstâncias a verdade pode agradar mais a uns do que a outros o que não quer dizer que, passado algum tempo, quem esteve no poder e passou para a oposição mude de opinião relativamente ao tipo de comportamento que a TVI tem.

ARF – Mas neste momento não há duas informações na TVI?

– Eu não quero perder este raciocínio.

ARF – Diga.

– Eu não me esqueço de que nos tempos do Governo do PSD eu tive muitas críticas sobre a informação que a TVI produzia e em Governos do PS tive muitas críticas sobre a informação feita pela TVI. E também no Governo de coligação PSD/CDS.

LO – Não tenho nada a imagem de que está a fazer o jogo do PSD.

– Nós não fazemos o jogo de ninguém. Eu acho que nós temos de respeitar o espectador que prefere a informação da TVI. Quem sintoniza a TVI está à espera que nós lhe falemos verdade. Ou pelo menos que façamos um esforço para lhes falar verdade. Nós não temos compromissos com ninguém. Se olharem para a TVI, para aquilo que é a realidade da TVI, para o percurso que ela fez desde 1998, a TVI nasceu sozinha. Dependeu dela própria. Ninguém lhe deu dinheiro, ninguém lhe atribuiu recursos, foi ela que com o pêlo do cão chegou aonde está. É natural que o seu comportamento seja um pouco desalinhado e independente.

LO – A ideia que se criou com a entrada da Prisa, próxima dos socialistas espanhóis, é que a TVI ia ser mais socialista. E acabou por não se concretizar.

– A gente tem de clarificar as coisas. Eu sou jornalista, tenho do jornalismo a visão que lhe referi à pouco. Seja na TVI, seja em outro sítio qualquer. Jornalismo é verdade, é seriedade, é frontalidade. E nós temos de cultivar esses princípios. O que a TVI fez foi limitar-se a cumprir estes pressupostos e a trabalhar nestes pressupostos. Cometendo erros, naturalmente. Fazendo coisas boas, também. Fazendo coisas assim assim, óbvio. Nós temos uma redacção que é constituída por gente experiente e por gente com pouca experiência. É natural que nós não sejamos perfeitos. Agora ninguém é perfeito neste mundo, as outras estações de televisão também não o são. Neste caso concreto das mudanças de accionistas sabe que eu lidei com vários accionistas. Fui convidado para a TVI quando havia um consórcio com a Sonae e a Lusomundo, passados três meses fiquei com o engenheiro Pais do Amaral, passado algum tempo fiquei com a Prisa e os alemães, depois só com a Prisa. Sabe que quando se é jornalista, independentemente do accionista, nós fazemos o nosso trabalho. É evidente que compete ao accionista entender a seriedade do trabalho que fazemos, ou a atitude de seriedade que nós pomos no nosso trabalho e obviamente apreciar os resultados que nós proporcionamos. A verdade ao longo deste tempo todo é que a TVI é uma empresa de sucesso no meio de uma situação económica que não tem sido brilhante ao longo destes últimos anos, embora a crise tenha surgido de facto com toda a sua incidência nos últimos três ou quatro meses. No seu conjunto o trabalho da TVI não pode ser apontado como um exemplo de má conduta. Tem de se olhar para a TVI como um exemplo de sucesso e um caso para ser estudado.

ARF – A informação do TVI 24 vai ser a informação da sexta-feira ou do resto da semana?

– Está um pouco enganado em relação a isso.

ARF – Eu não estou enganado.

– Os critérios que nós aplicamos durante a semana ou à sexta-feira são os mesmos.

ARF – Mas a informação é diferente.

– Nós temos estilos diferentes. Que tem a ver muito com os apresentadores.

ARF – E o conteúdo também.

– O conteúdo não é diferente. O conteúdo é igual. A forma de tratamento é distinta e há, à sexta-feira, um espaço que é distinto dos outros. Porque é um espaço onde se aprofunda mais a informação. Isto tem a ver com a característica de semanário que se quer atribuir ao jornal de sexta-feira. As características do jornal de sexta diferenciam-se da semana precisamente por isso. Eu recordo-me que fazia um jornal na RTP ao fim-de-semana há muitos anos atrás em que nós também imprimíamos ao jornal um carácter de semanário. O que nós estamos a tentar fazer é um semanário em televisão à sexta-feira. É evidente com os condicionalismos que isso implica, com a diferença dos meios, mas é essa a preocupação. É natural que haja um tipo de informação que seja diferente daquela que se proporciona à semana.

ARF – É mais agressiva, mais incisiva.

– Isso tem a ver com o estilo das pessoas.

ARF – É isso que lhe estava a perguntar. O TVI 24 vai ter uma informação monótona, chata, como os outros têm, repetitiva ou vai ser uma informação activa?

– Eu vou-lhe dizer que tipo de informação gostaria que TVI 24 venha a ter. Quero que a TVI 24 tenha uma informação dinâmica, frontal, directa, incisiva, no fundo verdadeira e independente. No fundo tudo aquilo que caracteriza a informação da TVI hoje em dia. Eu recebo todos os dia muitos e-maisl de pessoas que adoram o nosso trabalho e muitos que odeiam o nosso trabalho.

ARF – Isso é bom.

– É fantástico. Significa que nós somos geradores de discussão na sociedade portuguesa e isso significa que as pessoas vêem o nosso trabalho. E que se dividem com o nosso trabalho. Isso é bom.

LO – Ainda fica incomodado com algumas críticas, mesmo de pessoas anónimas?

– Não.

LO – Fica magoado com isso?

– Quando há muita injustiça nas análises isso sim, quando as análises são desonestas à partida. Quando elas são baseadas em critérios que têm a ver apenas com o que as pessoas pensam, bom, isso é normal, as pessoas têm direito à sua opinião e nós devemos respeitá-la. Agora quando há maldade nas análises, quando há outras coisas por detrás das afirmações que são feitas quanto ao nosso trabalho, aí é que já posso ficar mais magoado. Muitas vezes tenho a tentação de responder, genericamente não falo, não digo nada, porque eu acho que o silêncio nestas coisas é a melhor resposta.

ARF – Daqui a uns meses o que é que vai ser para si um êxito ou um fracasso do TVI 24? Não há meias tintas. Ou ganhou ou perdeu. Não há empates em televisão.

– Peço muita desculpa mas as coisas não podem ser vistas assim.

ARF – Não?

– Não podem ser vistas dessa forma.

LO- Não se esqueça da resposta, mas recorda-se do último fracasso que teve na sua vida?

– Eu ligo pouco a isso. Acho que a gente deve olhar é sempre em frente. Devemos aprender coma s coisas que correm mal, tive alguns problemas na TVI. Mas isso faz parte da nossa vida do nosso percurso.

ARF – Se ficar atrás da SIC Notícias é um fracasso ou não? Não é uma derrota?

– Isso não me perturba nada.

ARF – Não.

– Não me perturba nada. Aliás, eu não estou a pôr a fasquia em sítio nenhum. O que estou a dizer é que a minha ambição para o TVI 24 é que, havendo três operadores no mercado, nós consigamos legitimamente aspirar a ter pelo menos um terço desse mercado. O que significaria a ter um terço desse mercado. A conta é fácil. Foi o mesmo que eu disse quando entrei na TVI. Não disse nada diferente disto. Obviamente que a nossa ambição é atingir esse objectivo. Se conseguirmos ir acima disso tanto melhor. Agora nós não existimos para aniquilar ninguém.

ARF – Não é a questão de aniquilar, é a questão de vencer.

– Vencer é fidelizar. Vencer é conseguir atrair públicos estáveis para nós. Se nós tivermos um patamar, ao fim de ano e meio, dois anos, à volta do que lhe estou a referir é muito bom. Porque isto é um processo lento, estas coisas vão ter de acontecer contra situações instaladas há muito tempo, nós somos o terceiro canal de informação a chegar ao mercado, ainda por cima chegamos ao mercado numa situação de crise económica profundíssima como aquela que nós atravessamos, que nos limita muito em termos daquelas que eram as nossas ambições iniciais.

ARF – Os meios dos outros canais concorrentes são muito diferentes dos meios da TVI?

– Não tenho dúvida que os da televisão público são muito superiores aos nossos e aos da SIC em conjunto. Vamos ser pragmáticos. Os nossos são os que consideramos minimamente adequados para nos lançarmos na luta. É evidente que nós não temos tanta gente como os outros, mas eu acho que temos uma equipa melhor, mais esforçada, mais coesa e sobretudo com mais espírito de combate que esta situação implica. E para se fazer o tal jornalismo que eu refiro, frontal, verdadeiro, irreverente, desalinhado, sem medo, é evidente que é preciso ter uma equipa que esteja muito pronta para reagir às circunstâncias e que não se deixe vergar a nada.

ARF – Esta equipa é muito nova.

– É o que eu dizia há pouco. Temos gente experiente e gente nova. Acho que é uma equipa que no seu conjunto vai dar conta do recado. Nós temos dois tipos de programas que temos de dar conta. Uns são os noticiários, os outros são os programas propriamente ditos. Eu acho que vamos ter de competir aos dois níveis. Ao nível da informação, e no fundo a matéria-prima não é muito diferente para uns e para outros, nós vamos ao mesmo sítio buscar a informação, seja cá dentro, seja no estrangeiro. A diferença vai estar na forma de a trabalhar, no estilo de a mostrar, no visual que surgirmos perante os portugueses e na nossa capacidade de os seduzir. Nos programas, obviamente, temos de ser muito criativos, temos de ter connosco as melhores pessoas, ou procurar ter as melhores pessoas, e procurar transmitir a Portugal a ideia de que eles podem ligar para TVI quando quiserem perceber o que é que está a acontecer. Se quiserem interpretar determinado acontecimento, se quiserem abastecer-se de opiniões para discutir numa roda de amigos. Eu acharei que a nossa missão está cumprida se nós conseguirmos fazer isto. Numa primeira fase vamos definir o modelo, o modelo vai sendo definido, ninguém vai surgir perfeito no primeiro dia, obviamente que passado algum tempo iremos dar os passos necessários em termos de correcção.

ARF – Vai ter algum ministro na festa de lançamento do TVI 24?

– Não sei. Nós fizemos vários convites. Eu sei que alguns secretários de Estado já aceitaram o convite.

ARF – Secretários de Estado.

– Secretários de Estado sei que já aceitaram. Ministros não sei ainda.

ARF – Isso é dado político relevante neste momento, perceber qual é a adesão.

– Eu não vou interpretar esse facto. Sabe que nós trabalhamos com a realidade e lidamos coma s pessoas todas da mesma maneira. Isto é, tendo as portas abertas ou fechadas vamos fazer o nosso trabalho. Se não fizermos de uma maneira faremos de outra. Não será isso que irá limitar a nossa capacidade de obter informação. Aquilo que eu costumo dizer, ou costumava dizer quando a TVI nasceu, quem não tem cão caça com gato. É mais fácil as pessoas relacionarem-se connosco numa base de abertura e frontalidade do que numa base de reserva e de “mistério” ou de boicote. Porque isso incentiva o espírito do jornalista à procura de ver o que é que não querem mostrar ou o que é que estão a procurar ocultar. Isso é um bocadinho pior.

ARF – A situação financeira do grupo Prisa, da sua dívida, fala-se em 5 mil milhões de euros, pode vir a afectar as actividades em Portugal?

– Eu não tenho legitimidade para estar a falar das questões relacionadas com a situação financeira da Prisa. O que posso dizer, no entanto, é que as indicações que tenho é que a situação está a ser controlada. Em relação à Media Capital e à TVI o que estamos é a prepararmo-nos para uma situação extremamente delicada de mercado, que não tem nada a ver propriamente com a situação da Prisa. Ninguém ignora que o mercado publicitário em Portugal está a sofrer muito.

ARF– Qual foi a queda de receitas da TVI em Janeiro?

– O mercado publicitário no seu conjunto está a sofrer quedas superiores a 20 por cento. Muito superiores a 20 por cento. Portanto, é natural que haja um impacto grande sobre as empresas e as suas rentabilidades. Mesmo que nós porventura possamos aumentar a nossa quota de mercado em nenhuma circunstância podemos alcançar facturações idênticas à do ano passado. Não ignoro que é uma situação que nos deixa a todos nós muito preocupados porque obviamente a prazo vai ter reflexos sobre a nossa actividade. Irá ter. Competir-nos-á a nós, enquanto responsáveis das empresas ou responsáveis sectoriais tudo fazer para minorar a situação.

ARF – Ainda por cima não recebem subsídios do Estado.

– Não aqui não temos hipótese nenhuma. Posso adiantar que nós neste momento estamos a discutir um plano de poupanças interno para conseguir enfrentar a realidade dura que aí vem. Janeiro foi um mau mês, Fevereiro é um mau mês, os prognósticos para Março não são famosos. Obviamente se nós queremos acautelar a rentabilidade da empresa e sobretudo se nós queremos acautelar a situação de todos aqueles que trabalham na TVI é evidente que temos de tomar medidas urgentes.

LO – Deseja que o Emídio Rangel ganhe o concurso para o 5 º canal de televisão? Para mostrar depois que não tem qualquer rival?

– Quer a minha resposta honesta? Eu quero que percam os dois. Por uma razão simples. Não porque esteja contra o aparecimento de um novo canal, não estou, mas porque as condições objectivas de mercado não o permitem. Em Espanha os novos canais apareceram numa situação de crescimento económico, em que os canais existentes não davam resposta à procura. Em Portugal passa-se exactamente o contrário. Os canais estão actualmente com um espaço disponível em barda para vender e não o conseguem fazer porque não há quem tenha capacidade aquisitiva.

ARF – Mas não é por causa desta crise. Antes já não havia mercado. E as vossas reservas devem-se a essa situação.

– Não são reservas filosóficas. São reservas de mercado. Se nós virmos a evolução do mercado de 2001 a 2007 os valores eram mais ou menos iguais. O crescimento foi ridículo. E já não havia para sustentar as várias televisões. Já não havia. A aparecer mais um canal toda a gente tem legitimamente de se interrogar o que é que se pretende com isto. Além de aumentar a oferta. Podemos candidamente pensar, porque somos todos gente bondosa e gente bem intencionada, que se tratava apenas de ampliar a oferta. É evidente que podemos pensar que se pode dividir para enfraquecer e reinar melhor. Com uma capacidade financeira reduzida, uma televisão passa a ter uma capacidade de resposta menor. E se olharmos para a imprensa e rádio há muitas empresas na verdadeira indigência, há empresas em situação aflitiva. E como estão numa situação aflitiva servem qualquer poder, quem quer que seja que esteja no poder. Aí quem sofre é a democracia. É isso que eu acho. E se teimosamente se insiste num caminho que se sabe que vai conduzir à convulsão no meio e que vai conduzir a perturbações sociais graves no interior das empresas, isto é, vai atingir-se o osso, isto é, as pessoas.

ARF – A RTP vai obviamente beneficiar desse reino dividido?

– A RTP beneficia aqui de uma distorção brutal de mercado. Tem financiamento do Estado, tem as taxas dos cidadãos e tem, ainda por cima, acesso à publicidade. Tem as três componentes. Os outros operadores têm uma. A publicidade. E nessas circunstâncias ou se define muito bem qual é o papel que o serviço público tem que ter e obviamente se esse papel for reformulado todos nós chegaremos a consensos que são um pouco diferentes do que a RTP é hoje. Ou, a manterem-se as coisas como estão, obviamente que o papel da RTP tem tendência a crescer.

ARF – É importante o serviço público, é importante nós termos um monstro como a RTP a funcionar no mercado?

– Eu acho que o serviço público de televisão deve existir. O ponto não é esse. O ponto é saber-se o que é o serviço público de televisão e depois saber-se quem o faz. Eu não percebo porque é que tem de ser o Estado. Não percebo porque é que os operadores privados actuais e eventualmente um novo que surja não podem fazer serviço público. Eu não sei se não sai mais barato ao Estado contratualizar com os operadores existentes esse serviço do que estar a sustentar a RTP. Há muitos modelos para fazer esse serviço público.

ARF – O poder político, este ou outro qualquer, não larga mão da RTP.

– Eu já desisti de acreditar que haja um Governo qualquer, que haja um partido qualquer que alguma vez largue a RTP.

ARF – Na RTP deve ter passado por muitos momentos difíceis.

– Houve fases diferentes. Houve fases muito duras e houve fases menos complexas.

ARF – Qual foi o momento mais difícil?

– Houve três momentos muito complexos. Uma altura em que Edmundo Pedro foi presidente da RTP; houve uma fase muito difícil na altura em que Proença de Carvalho foi presidente da RTP e houve outra fase complexa quando o doutor Mário Soares era Presidente da República. Mandou uma mensagem ao Parlamento contra a RTP, a que eu respondi.

ARF – O cavaquismo não era muito absoluto?

– Menos absoluto do que aquilo que porventura surgia na comunicação social.

LO – Menos absoluto do que o PS de Sócrates.

– Sabe que nós na TVI temos um esquema de funcionamento que não nos apercebemos muito desse absolutismo que refere. Somos muito pouco permeáveis a influências externas. Temos as rolhas certas para os sítios certos cada vez que o buraco existe. Agora, toda a gente sabe que há alguma dificuldade deste Governo em lidar com a Comunicação Social. Toda a gente sabe disto. Há muito nervosismo neste Governo, há um gosto de acompanhamento permanente daquilo que vai fazendo e de respostas imediatas. É um Governo muito reactivo. Acho que essa não é boa lógica, mas para nós é-nos completamente indiferente. Mas para os jornalistas, em todos os lados, é melhor trabalhar com Governos sem maioria absoluta. Há sempre tentações totalitárias.

ARF – Costuma votar ou abstém-se?

– Eu nunca faltei a uma eleição.

ARF – Pode é votar em branco.

– Isso não lhe vou dizer.

LO – É um homem de esquerda ou é de direita?

– Eu considero-me um homem de centro-esquerda.

PERFIL

José Eduardo Moniz nasceu no dia 6 Maio de 1952 em Ponta Delgada, onde acabou o liceu. Fez o curso de Germânicas em Lisboa e começou a profissão de jornalista no ‘Diário Popular’. Entrou na RTP, foi chefe de Redacção, passou pela ‘TV Guia’, esteve na Rádio Renascença e voltou à RTP para director, cargo que ocupou durante vários anos. Em 1998, aceitou o desafio de ir para director–geral da TVI numa altura em que a estação estava no último lugar em audiências. Está há quase 11 anos no cargo e venceu. A estação de Queluz é a líder.”

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