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As «Helenas» de Manoel Carlos reuniram-se

Diana Casanova
7 min leitura
Helenas Manoel Carlos
Imagem: Mônica Imbuzeiro / Agência O Globo

Foi no Rio de Janeiro, no Copacabana Palace que se juntaram cinco das musas de Manoel Carlos, o autor que tem feito das suas novelas obras protagonizadas por personagens femininas fortes com o nome de Helena. Várias foram as atrizes que desempenharam este papel, nomeadamente Vera Fischer, Christiane Torloni, Taís Araújo, Julia Lemmertz e Maitê Proença. Foram elas que se reuniram antes da estreia da última novela (e Helena) de autoria de Manoel Carlos, testemunhou o jornal O Globo. Outros nomes não puderam estar presentes, como é o caso de Regina Duarte – em três ocasiões e Lilian Lemmertz, a mãe da Helena de Em Família, já falecida.

Christiane Torloni foi Helena em Mulheres Apaixonadas, tendo sido uma experiência fascinante e ao mesmo tempo «muito poético»:

Você se sente a musa de alguém, isso é muito poético, né? Nos nossos dias, musa parece uma coisa tão boba, careta, banal, e ele faz com que você se sinta especial. Me senti assim por perceber que ele já estava pensando em mim há tantos anos. Isso tem uma magia. E, sim, acho romântico. É como se fosse uma noiva, que ainda não está pronta para esse compromisso e você espera crescer, entendeu? Porque é um compromisso. Ser uma Helena é um prémio! Fazer é um desafio.

Laços de Família foi a novela que marcou Vera Fischer:

Fiz a minha (Helena) com mais vida, determinação e desespero. Adorei a viagem ao Japão (para gravar as cenas iniciais da trama), a gente trabalhava da manhã até a noite. Combinei com Gianecchini de fazer umas cenas bem picantes porque eles eram muito apaixonados. E o povo comentava: “Olha a língua”. Se tem paixão, tem que ser para valer. Mas foi uma novela em que também sofri muito. Porque segurar uma filha com câncer, né? Abrir mão do seu namorado para ela, é um sofrimento. Chorava muito nas cenas do hospital. Sou reconhecida até hoje por causa da novela. Em Miami, uma pessoa gritou na rua: “Helena”.

Coube a Taís Araújo a difícil tarefa de assumir o desafio de ser a primeira protagonista negra de uma novela de horário nobre da Globo – em Viver a Vida – e para atriz foi uma experiência que a marcou, sobretudo pelas críticas que recebeu:

Fui espinafrada diariamente. Foi o meu personagem mais transformador, até pelas críticas. É impossível passar ilesa por uma Helena, seja pelas críticas ou pelos diálogos maravilhosos do Maneco. A personagem mudou o meu olhar em relação à profissão. Na época, pensei: essa minha maneira de atuar, que vinha desde a adolescência, não está mais funcionando. Vou ter que me renovar até ao escolher os personagens. Hoje quero fazer outros papéis, ser outro tipo de artista, produzir peças. Nas críticas, fui desrespeitada, minha história na TV ao longo de quase 20 anos foi ignorada.

A desaprovação nunca é uma coisa só, não tem um só culpado. O erro também foi meu, foi conjunto. Poderia ter feito uma Helena mais popular. Mas o Brasil é preconceituoso. Não aceitaram uma Helena negra e bem-sucedida logo de cara. Para justificar a ascensão social, o negro sempre tem que passar fome e outras dificuldades. Minha Helena já começou bem de vida. As pessoas não perdoaram.

Maitê Proença realça a importância da sua Helena na sua carreira – Felicidade:

Para mim foi uma honra porque era quase uma homenagem a Lilian, que já não estava mais entre nós. Talvez o Maneco não soubesse ali que a personagem iria se perpetuar. A minha Helena foi tão bem-sucedida que a partir dela se criou uma marca. Aquela mulher cheia de contradições e imperfeições… As heroínas até então eram muito bem acabadas e perfeitas, muito irreais na verdade. Quando ele fez uma mulher frágil, infeliz, mas que também ficava feliz, que amava a filha, mas esbravejava contra a criança, errava muito, mentia, o público amou. Foi ali, creio, que Maneco encontrou a chave e desenvolveu outras Helenas. Fico contente de, junto com ele, ter, de alguma forma, costurado a possibilidade de a personagem se replicar tão magnificamente por atrizes do quilate destas que estão aqui.

A última Helena de Manoel Carlos é Julia Lemmertz, fechando um ciclo que foi iniciado pela sua mãe com a sua personagem de Em Família:

Maneco e eu nos namorávamos há algum tempo, existia desejo, vontade de trabalhar juntos, mas os tempos não se encaixavam. Agora, chegou o momento que ele queria realmente encerrar um ciclo. A ideia de fazer a última Helena com uma ligação com a primeira tinha todo sentido. Minha mãe e eu de alguma forma unidas ali. É um trabalho cheio de significados tão profundos. O Maneco fala que está escrevendo um texto muito pessoal para mim, com conexão forte com a minha mãe. Foi o trabalho que ela mais gostou de fazer. É um ciclo, mas a gente nunca sabe, vai que ele resolve fazer outra última Helena.

Em Família está em exibição no Brasil e deverá chegar à SIC em breve, substituindo Amor à Vida no horário nobre da estação portuguesa.

Redatora e cronista