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‹‹Esplendores do Episcopado›› no ‹‹Perdidos e Achados››

Pedro Vendeira
3 min leitura

Perdidos E Achados

Em 1953, a oposição apresenta-se a eleições sem beliscar a hegemonia da União Nacional. Salazar comemora 25 anos de chegada ao poder. Movimentos de ação católica começam a politizar-se e desenham uma ação social, perante uma hierarquia maioritariamente agarrada à situação. Domina o conservadorismo. Não há liberdade de expressão. Os jornalistas enfrentam a censura. São tempos agitados no Alentejo, sobretudo mais a sul, com greves que mobilizam milhares de trabalhadores a pedir aumento do salário.

Reconciliada com o Estado, a Igreja começa a recuperar o património confiscado na primeira república, a economia está a crescer e o país inaugura equipamentos públicos. O ensino primário é já obrigatório. Têm influência as fortunas familiares. É uma sociedade estratificada. Vindo das missões, Agostinho de Moura é feito bispo e nomeado para Portalegre. Um filme – intitulado “Esplendores do Episcopado” – realizado por profissionais que viriam a estar associados à fundação da RTP, regista a entrada do prelado na diocese, em cortejo, a 10 de maio de 1953, desde a barragem de Castelo de Bode, inaugurada dois anos antes, ainda no distrito de Santarém, até à cidade episcopal de Portalegre.

60 anos depois, recuperam-se memórias. A SIC fez o mesmo percurso do bispo e encontrou uma diocese vítima do êxodo rural e do abandono por parte do poder central. Pelo caminho, em Martinchel, Abrantes, Tolosa, Alpalhão… muita gente reconhece-se num filme que nunca tinha visto. O envelhecimento no Alentejo há muito fez soar o alarme. Há dois idosos por cada habitante em idade ativa. Há 60 anos havia um idoso por cada três pessoas em idade ativa. Os campos ocupavam 44% do Portugal ativo, o governo imaginava uma colonização interna, lançava um plano de fomento e ninguém podia prever em Portalegre o holocausto a que seria sujeita a agricultura e a indústria.

Faltou a modernização. A Robinson, fábrica emblemática da cortiça, empregava largas centenas de pessoas. Faz hoje parte da arqueologia industrial do Alentejo, reflexo de uma terra em agonia. A diocese de Portalegre/Castelo Branco, que abrange os distritos de Portalegre, Castelo-Branco e parte de Santarém, terá perdido 1/3 da população. D. Agostinho de Moura ganhou fama de empreendedor. Sucedeu a António Ferreira Gomes, nomeado bispo do Porto, que seria exilado em choque frontal com Salazar. Uma diocese, dois homens, duas atitudes. Perdidos e Achados faz uma ponte de 60 anos em Portugal,  a partir de um filme esquecido, e agora recuperado, nos arquivos da história audiovisual…

Hoje, dia 11 de maio, no Jornal da Noite.

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Amante da tecnologia e apaixonado pela caixinha mágica desde miúdo. pedro.vendeira@atelevisao.com