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Globalização e Programação

A Televisão
4 min leitura

As crónicas são como os sonhos. Sabemos o que vamos falar, sabemos onde estamos (embora pareça uma realidade paralela), sabemos com quem estamos. Contudo, nunca sabemos como é que ali fomos parar ou até mesmo como aquele sonho começou. Basicamente, todas as crónicas que escrevo ou até mesmo histórias são me, particularmente, difíceis de começar porque dar “aquele” início que vai deixar agarrado qualquer leitor é raro e nem todos conseguem isso. Acredito que os escritores mais conceituados, por vezes, possuam dificuldade em começar um romance ou qualquer outro livro pertencente a uma outra categoria literária.

Certamente já se apercebeu que a rentrée está quase aí. Rentrée significa Setembro, significa novos programas, novas apostas na ficção, nova programação, “novas” caras.

Felicito, desde já, a TVI por trazer de volta um Big Brother diferente e inovador sem perder a sua essência principal. Contudo, e mais uma vez, a TVI mostra a sua faceta mais hipócrita. Ora, em primeiro lugar, é bom os generalistas andarem a comprar esta ou aquela série para ser mostrada cá para aquelas pessoas que não têm cabo. É boa, também, a promoção feita pelos generalistas para chamar espectadores. Mas, em todo este panorama, enterrar os produtos nos horários da madrugada que só aqueles que têm insónias podem ver, é mau. É, igualmente, mau a TVI promover as suas séries como vencedoras de prémios Emmy ou nomeadas para tal e nem sequer se dignar a mostrar 5 minutos que seja da emissão que está a ocorrer. É certo que não teria um lucro para o canal mas mostrava o facto de estarmos realmente numa sociedade em que a globalização é um factor preponderante. Se não tivesse Cabo, como veria os Emmy? Mais ainda, promovê-las como produtos vencedores e colocá-las em horários perdedores é um pouco antitético não?

Não estou a dizer que somos obrigados a ter séries no horário nobre. Claramente que produto nacional que é produto nacional deve estar compilado na grelha de determinado dia mas não se justifica que a nossa televisão rotule os canais generalistas por temática… Quer dizer, se quero ver novelas mudo para a TVI. Se quero um documentário, mudo para a RTP2. Se quero um concurso, mudo para a RTP1. Se quero uma novela da globo mudo para a SIC. Temos duas privadas, é certo, mas a televisão está a ir pelo caminho daquilo que dá mais audiências ao invés de se preocupar com aquilo que o espectador realmente quer ver.

Eu sinto que a rentrée cá em Portugal continua a dar-nos aquilo que nós já estamos habituados: produtos que, não descurando os seus meios de produção e as pessoas envolvidas, não suscitam qualquer estímulo mental e que nos envolvem num meio popular onde muitas das vidas são cópia a papel vegetal das vidas novelescas.

Há dias, no Twitter, um utilizador comentava o facto de a sua juventude ter sido passada na companhia de MacGyver enquanto que a actual é acompanhada pelos Morangos Com Açúcar. Pertenço a esta segunda geração MCA. Confesso que não me tinha importado nada de ter nascido e crescido com MacGyver ou The X-Files por ter sido uma geração mais interessante e uma geração de mudança. Não é que a minha não seja mas creio que o leitor já entendeu o que quis dizer.

Que meta atingirá esta juventude que se encontra presa a uma monocultura televisiva? Verdade seja dita, praticamente não vejo televisão portuguesa e quando vejo é a RTP porque sinto que é aquela que ainda não perdeu a sua essência.

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