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Uma questão de interesses

A Televisão
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Falar Televisão

A polémica surgiu na última semana, quando a SIC e a TVI anunciaram num comunicado conjunto que suspendiam as negociações dos direitos televisivos dos jogos do Campeonato do Mundo de Futebol com a RTP. As estações privadas justificaram a decisão com o facto de a RTP não ter incluído nenhum jogo da seleção nacional entre os 14 que queria negociar com a SIC e a TVI. No mesmo comunicado, as privadas acusam a RTP de despesismo, dizendo que «os montantes financeiros que poderiam ser pagos pelos operadores privados (…) terão, assim, de ser pagos por todos os contribuintes», numa altura «em que é pedida contenção nos gastos públicos». A ladainha demagógica do costume, que «esquece» que a RTP poderá rentabilizar o investimento com aumento das audiências e das receitas publicitárias.

Parece-me evidente que as preocupações de SIC e TVI vão para além dos encargos para os contribuintes: pretendiam que houvesse uma «repartição, em igualdade de circunstâncias, entre os três operadores». Presumo então que também defendam que no Mundial 2006 ou no Euro 2008 SIC e a TVI deveriam ter tentado repartir os jogos pelos três canais. A RTP é detentora dos direitos de todos os jogos da competição, que adquiriu à Eurovisão, e tem todo o direito a fazer a gestão que entender ser a melhor, desde que tenha em conta a missão de serviço público e os interesses da empresa pública (e portanto do contribuinte). Como seria impraticável exibir todos os 64 jogos (e o retorno publicitário provavelmente não o justificaria), decidiu negociar a venda de 26 jogos à Sport TV e disponibilizou 14 jogos para sublicenciamento à SIC e à TVI, reservando os jogos mais interessantes (nos quais se incluem os de Portugal) para si.

Obviamente seria preferível, inclusive para a RTP, que o negócio de sublicenciamento às privadas tivesse corrido bem. No passado, a divisão de jogos por RTP, SIC e TVI foi uma boa solução para evitar que as transmissões em sinal aberto ficassem em risco (o exemplo mais recente é o do Euro 2012). Gostaria até que essa solução tivesse sido possível para a liga portuguesa nos últimos dois anos. Mas neste caso quem tinha o exclusivo do Mundial era a RTP, não a Sport TV. A estação pública atuou na defesa dos seus interesses, não dos interesses da concorrência. Tivesse sido essa a prática em outros casos e porventura a situação da RTP seria diferente, e esta discussão não faria sentido.

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