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«Equador» revela-se uma amarga tentação

A Televisão
5 min leitura

Falar_Televisao 2012Equador: Linha que divide a terra em hemisfério norte e sul.

                    Linha simbólica de demarcação, de fronteira entre dois mundos.

                    Possível contração da palavra «é com a dor»

Foi assim que começou a reposição da intitulada de «maior produção televisiva de sempre».

As minhas noites de domingo foram iluminadas durante meses a fio pela beleza da série, pela chama do fósforo que marcava todas as semanas o início de um novo capítulo. Equador foi então uma produção de milhões de euros e um produto de uma qualidade nunca antes visto no país mais a oeste da Península Ibérica.

Equador, um livro que vendeu milhares e milhares de cópias em todo mundo e uma série que conquistou milhões de espetadores e gastou outros tantos na sua produção, tem como protagonista Luís Bernardo, um homem apaixonado por mulheres, um homem apaixonado por Ann Rhys-More. Ann, por sua vez, é mulher de David, o cônsul enviado pela coroa britânica para fiscalizar as roças portuguesas. O protagonista da trama assume então, por convite do Rei D. Carlos, o cargo de governador-geral de S. Tomé e Príncipe, com os objetivos de averiguar se efetivamente há trabalho escravo no arquipélago e de convencer David de que não existe escravatura nas colónias portuguesas.

A história está enquadrada no início do século XX, já quando Portugal vivia os seus últimos anos de monarquia e quando via o seu império colonial estremecer. Os episódios ficaram ao encargo das magníficas interpretações de Alexandra Lencastre, Filipe Duarte, Manuela Couto, Maria João Bastos, Marco de Almeida, Nicolau Breyner, entre muitos outros grandes nomes da ficção nacional.

Filmada entre Portugal, Brasil, Índia e São Tomé e Príncipe, a produção envolveu um grande leque de atores (cerca de 100) e figurantes (cerca de 200), a par de um cuidado extremo no que toca à maquilhagem e caracterização e à reconstituição do Portugal de há 100 anos.

E a minha opinião? Será que é justo uma série da qualidade de Equador ter os resultados que tem obtido na sua segunda reposição? Uma obra que denota um rigor, precisão e eficácia irrepreensíveis, típicos de Rui Vilhena, que consegue teletransportar-nos para a época relatada, permitindo-nos sentir e viver todas as emoções de cada uma das personagens e possibilitando-nos apreciar a pulcritude de um momento histórico, no mínimo partidário, racista e discriminador. Merecerá uma série com este potencial o horário em que é emitida?

Num momento em que a TVI vê a liderança do horário nobre intimidada, o canal generalista não se limita a «fabricar» novelas «de empreitada» e então prepara as suas novas produções com o máximo de cuidado e prudência. Talvez seja esse o motivo de, após o término de Doce Tentação, não ter estreado logo Mundo ao Contrário, uma novela que, mesmo antes de ver iniciadas as gravações, sofreu uma abrupta reviravolta na atmosfera central da história. O canal agora gerido por Luís Cunha Velho decidiu então apostar na reposição de uma série, de forma a, por um lado, permitir uma fidelização à novela do primeiro período do horário nobre Destinos Cruzados (ainda estou para ver qual será o horário de Mundo ao Contrário: será que vai para o primeiro horário e então iremos assistir a uma nova luta de audiências como foi a de Destinos Cruzados e Dancin Days?) e, por outro, a haver uma melhor gestão dos recursos monetários, que neste momento serão com certeza diminutos.

Assim, assistimos a um desperdício do potencial da série protagonizada pelo lisboeta, solteiro e mulherengo Luís Bernardo. Presenciamos, pois, a mais uma produção com um elenco de sonho, um argumento soberbo e a realização do outro mundo (a cargo de André Cerqueira), a ser estreada sem uma promoção digna do valor e nível do produto.

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