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A crise televisiva

A Televisão
13 min leitura

Falar_Televisao 2012

A crise, a crise, a crise. Esta é a palavra que está, nos dias de hoje, na ponta da língua da maioria dos portugueses. O atual momento económico está a arrasar o país do Minho ao Algarve, passando pelos Açores e pela Madeira. A verdade é que ninguém consegue escapar aos efeitos da tempestade da Troika e dos seus compadres. E quem pensava que as televisões ficavam imunes à crise, bem se enganou. A queda significativa do mercado publicitário foi um dos fatores (se não o principal) que obrigou os canais generalistas a apertar o cinto e alguns até já começaram a fazer furos… de modo a que não caia nenhuma gota de desperdício.

RTP, SIC e TVI viram-se forçadas a repensar profundamente o seu modelo televisivo e chegaram à conclusão que não podiam continuar com o atual. A solução foi deixar de oferecer aos seus telespectadores «amêijoas à bulhão pato» e optar por um menu mais baratinho, como por exemplo «um prato de caracóis». O novo modelo que as estações televisivas adotaram têm como objetivo a sustentabilidade financeira e, por isso, a crise está agora bem patente na grelha dos principais canais. Muitos me deverão questionar: «o que é que posso esperar da programação das generalistas?» Se está a pensar num grande formato, é melhor esquecer, porque a base da programação está nos chamados produtos low cost, reposições de novelas/séries e programas para «encher chouriços», neste caso a grelha.

Chegou a altura de olhar individualmente para cada um dos canais. A nossa querida RTP tem sido o canal mais prejudicado com a situação económica do país. Isto de ser do estado tem os seus benefícios, mas também os seus contras… E ter um Miguel Relvas com o poder de dizer «Ai, ui, eu gosto, lindo, linda e etc.» acerca da empresa, não é de louvar aos deuses. A RTP tem sido ultimamente um barco à beira de um naufrágio, nas mãos de Miguel Relvas e da sua marioneta (António Borges). A poucas semanas da chegada de 2013 e, depois de serem discutidas variadíssimas propostas de privatização nas capas dos jornais e nas televisões privadas (diga-se SIC e TVI), o governo decidiu (por enquanto) não privatizar o canal público. Como diria o poeta «isto traz água no bico», e trouxe um plano de emagrecimento, com a intenção de se desfazer da RTP num futuro próximo. No campo, os agricultores engordam o porco para depois o matar e no governo emagrecem o «animal» (a RTP) para depois o privatizar. Alberto da Ponte teve que implementar o dito plano efetuando duros cortes na empresa, mas a área que sofreu mais foi sem dúvida a programação.

O Diretor de Programas da RTP não teve qualquer hipótese se não cumprir as ordens do seu superior hierárquico, porque se não as cumprisse com certeza que já estava noutro sítio (Centro de Emprego?!). Hugo Andrade pegou na tesoura e só não cortou aquilo que não viu… Será que ele foi possuído pela «Gasparomania»? O novo modelo televisivo do canal público passou pela dispensa de profissionais (com destaque para apresentadores e repórteres), extinção de programas, aposta na ficção portuguesa e reformulação do day time e do horário nobre. No que toca ao day time, é certo que já estava a precisar de uma mudança, mas ainda não percebi o motivo da vinda da Praça da Alegria para Lisboa. Só se for o combustível que está caríssimo! Para quem não sabe o Monte da Virgem fica situado num local isolado, dizem as más línguas que a antena só funciona com um gerador e o combustível é fundamental para a vida daquela comunidade da RTP (Porto). Não me vou alongar muito sobre este assunto, mas para fazer isto?! Ficava quieto, mantinha as más audiências de manhã e as boas audiências à tarde. Agora nem boas, nem más…. Horríveis! Sobre alguns produtos do horário nobre só tenho uma coisa a dizer. Se apostassem no Rés do Show do João Manzarra, acredito que fariam uma melhor figura e não teriam a RTP2 a fazer cócegas. Vejo com entusiasmo que a RTP com menos quer fazer mais na continuação da aposta na ficção portuguesa, e as séries de época e de humor são de excelência. Já que estamos a falar em ficção, aqui há dias o Hugo Andrade veio para a comunicação social anunciar ao mundo que a RTP vai ter uma aposta de longa duração (mais ou menos 5 anos) e só ainda não sabe se é uma série ou uma novela. O que é que isto merece? Uma boa gargalhada!

Mudando de estação, a SIC pode orgulhar-se de ter uma excelente equipa na direção de programas, mas ter muitos galos (e galinhas) no mesmo poleiro não costuma dar grande coisa. É notório que Júlia Pinheiro não tem os poderes que desejaria (como diria um grevista, «Está com os serviços (poderes) mínimos») e Luís Marques é dono e senhor da palavra que por vezes não é verdadeira. Há cerca de dois meses, em declarações a uma revista, afirmou que o day time seria alvo de uma «revolução». Após algumas semanas, optou por mudar de opinião dizendo que «não haveria mudanças». Com um líder assim… não se pode pensar numa liderança!

Vamos ao que interessa. A SIC teve que alterar algumas coisas de modo a sobreviver à crise: os cortes no orçamento, o fim dos contratos de exclusividade, a aposta no entretenimento, a parceria com a Globo e as reposições de novelas e séries são o mote anticrise do canal de Pinto Balsemão. Não vale a pena continuar a falar no day time, até porque na opinião de Luís Marques está tudo nice. Então continuem assim. que vão longe (até Sacavém). Se a SIC já tinha muitos atores exclusivos, então agora nem se fala. Mas para quê ter atores exclusivos? Só faz com que o ator quando não tenha trabalho fique em casa de braços cruzados, a ganhar o seu ao fim do mês. Eu concordo mais que uma Margarida Carpinteiro fosse exclusiva do que uma Joana Santos. E perguntam vocês: «por que motivo achas isso?». Em Portugal não se valoriza os atores mais velhos! Onde anda Lourdes Norberto que está farta de pedir trabalho? Por onde passa Carlos Santos? Onde está Anita Guerreiro? Onde anda Natalina José? Onde anda Maria do Céu Guerra? E muitos mais seriam… As televisões, desde que se habituaram a comer moranguinhos, não querem outra coisa. Com isto não estou a desprezar o talento de Joana Santos e que a SIC a encontrou no meio da estação de reciclagem de Queluz de Baixo.

A SIC decidiu este ano apostar no entretenimento para os fins de semana, mas das três apostas só uma foi acertada. Vale Tudo é sem dúvida o programa revelação do ano. Apesar da pouca rotatividade e variedade de jogos de domingo para domingo, vai subindo uns degraus da escadaria de acesso ao trono dos reis Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira. E já faltou mais para os alcançar. As apostas erradas: O Formigueiro e Sábado à Luta, que são programas que não trazem nada de novo e não têm a chama de surpreender os telespectadores. Para almejarem a liderança… primeiro precisam de a conquistar e depois é que podem dar ao luxo de ridicularizar a grelha, como a TVI o faz tão bem. A parceria com a TV Globo está a ser a perninha fundamental para o sucesso do horário nobre da SIC, novelas como Avenida Brasil, Fina Estampa, Gabriela e a co-produção de Dancin’ Days tem alcançado resultados, no mínimo, bombásticos. Mas tenho uma dúvida. Ultimamente, no Brasil, as novelas não tem tido o sucesso desejado e o que é que a SIC vai fazer na hora de apostar numa delas? Só se jogar à cabra cega, escolhendo ao acaso…

Está na hora de falar na televisão líder de audiências. Para muitos deve custar ouvir que se diga isso, mas é a mais pura das verdades. A TVI no ano passado viu o seu diretor, José Fragoso, a abandonar sorrateiramente o seu posto alegando problemas de saúde. Entretanto o homem escolhido para o lugar foi Luís Cunha Velho, que conhece a casa de olhos fechados, a dar o pino e outras habilidades artísticas. A estação de Queluz de Baixo foi a estação privada que mais apertou o cinto, os significativos cortes no orçamento, a redução de contratos de exclusividade, as reposições de novelas/séries e a aposta nos programas ridicularizados são a base para ultrapassar este momento difícil. Já que falei na SIC sobre os contatos de exclusividade seria um crime se eu não falasse da TVI. Luís Cunha Velho inteligentemente agarrou as suas principais jóias (Ruy de Carvalho, Alexandra Lencastre, Rita Pereira e etc.) e deixou fugir os outros… muitos possivelmente iremos ver no canal ao lado (SIC). As reposições de produtos de ficção em horários delicados, tem sido aposta para tapar os buracos! Doce Fugitiva regressou novamente à TVI, apesar de não liderar vem alcançando melhores resultados que o remake do Gosto Disto! (Vídeo Pop) e os diários de uma estrela dos segredos (João Mota na co-apresentação do Diário da Tarde do Secret Story 3). E já para não falar do Equador, que voltou ontem à grelha para substituir Doce Tentação. Será que vai conseguir ganhar a Páginas da Vida? Doce Tentação conseguiu perdeu umas valente semanas para uma reposição… Esta novela no início era bestial e agora terminou como besta. A TVI é considerada como uma televisão do povo, da ordinarice e numa linguagem mais sofisticada é uma televisão popular. Programas como o Somos Portugal e Não Há Bela Sem João refletem a falta de ideias e de dinheiro que as estações têm para ocupar a suas grelhas, mas apesar disto tudo vão liderando e a concorrência todas as semanas vai metendo a viola no saco.

Só para terminar, será que é este ano que a despensa de Queluz de Baixo vai começar a ficar vazia? O que é feito das séries A Casa é Minha, Giras & Falidas e O Bairro? Estão aqui algumas apostas que só estão a ganhar pó ao continuarem fechadas a sete chaves.

Prometo voltar na próxima semana com mais um Falar de Televisão de terça-feira.

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