Desde pequena que Inês entretinha a sua família com peças de teatro inventadas na sala de estar. Licenciou-se em Engenharia, mas decidiu construir uma carreira na área da representação. Depois de estudar em Los Angeles, onde integrou várias produções, regressou a Lisboa e estreou-se na série A Vida Também É Isto, da SIC Radical.
Inês Faria, filha de pai paulista e mãe lisboeta, acha que em Portugal deveria haver uma maior preocupação em arriscar em novos rostos. «Sei que é bom jogar pelo seguro; usar uma fórmula que se demonstra efetiva; apostar em atores que já estão no coração dos portugueses; mas penso que por vezes os espectadores precisam de uma lufada de ar fresco, de ver caras novas e novos talentos», desabafou ao A Televisão.
– Inês, com que idade percebeu realmente que queria ser atriz?
– Desde de que me lembro que sempre gostei de entreter quem me era mais chegado. Aproveitava todas as desculpas para reunir quem estivesse lá em casa e em três tempos estava uma peça inventada. Com o passar dos anos, o fascínio pelo mundo da representação manteve-se, mas a vida seguiu outro rumo e acabei por estudar Engenharia. A meio do curso, desafiei uma amiga e inscrevemo-nos num workshop de teatro. Após ele, vieram outros e a vontade de seguir carreira como engenheira foi desvanecendo. Uma vez terminada a licenciatura, decidi apostar de corpo e alma no que realmente me fazia feliz.
– Se não fosse atriz, seria o quê?
– Se não fosse atriz, teria tentado uma carreira no ramo da Engenharia, área na qual me formei.
– Como lida com o processo de encarnar uma personagem, ou seja, «transformar-se» noutra pessoa?
– Absorver o «eu» de uma personagem, as suas vivências, sentimentos e temperamento, é um processo que considero muito interessante. É curioso tornarmo-nos numa outra pessoa e, muitas vezes, termos a oportunidade de experienciar uma realidade totalmente díspar da nossa. Tento nunca julgar as personagens que encarno, elas devem sentir justificado o seu comportamento e atitude. Por exemplo, se encarnar uma assassina não posso achar que ela é uma má pessoa, como a sociedade o faria. Tenho de encontrar uma justificação para os seus atos e não os julgar para poder saber como é estar a 100% na pele dela.
– Dentro de poucos dias vai regressar a Los Angeles, no sentido de continuar os seus estudos. Como é viver nesta cidade? Adaptou-se facilmente?
– Para mim a adaptação foi muito fácil, tive a imensa sorte de conhecer pessoas incríveis durante o meu curso e nunca me senti sozinha. Mesmo as pessoas com quem me cruzei no dia a dia, no supermercado ou nos transportes foram sempre muito prestáveis e simpáticas e confesso que o clima também ajuda. A cidade vive e respira a indústria cinematográfica e televisiva, pude assistir às filmagens de variadas séries televisivas e ver como é que funciona este meio dentro dos grandes estúdios. Tive também o privilégio extraordinário de filmar algumas cenas nos Universal Studios, estar in loco nos sets onde foram filmadas cenas de grandes êxitos como Regresso ao Futuro, Bruce Almighty, Piratas das Caraíbas e a série Em Contacto.
– A todos aqueles que pretendem vingar na área da representação, aconselharia uma aposta na formação fora de Portugal?
– Apesar da formação em Portugal ser bastante boa, aconselharia, a quem tenha possibilidade, a apostar também em formação fora do país. Estar fora do que estamos habituados, da nossa zona de conforto, faz-nos crescer e leva a uma maior abertura de mente, para além das novas experiências, novas culturas, novas formas de pensar e viver que nos enriquecem como indivíduos e consequentemente como atores.
– Mas a Inês pretende construir uma carreira cá em Portugal ou ambiciona mesmo a internacionalização?
– O meu desejo é construir carreira em Portugal, mas para alcançar esse objectivo, à semelhança do que acontece infelizmente em outras áreas profissionais, com os cortes na cultura, bem como em outros setores, tenho de encarar com mais seriedade a possibilidade de melhorar a minha formação e experiência profissionais no estrangeiro.
– Happy Talk, Blood Brothers, iTrouble, Anonymous… Até agora qual foi a produção que gostou mais de integrar?
– Em todas as produções tirei algo de proveitoso, tive sorte de o ambiente ser sempre positivo e as equipas muito profissionais e simpáticas. Penso que o iTrouble, por ser uma curta-metragem cómica, foi a produção que me deu mais prazer de integrar. Passámos as filmagens a rir, num clima muito descontraído e de cumplicidade entre toda a equipa.
– Sei que foi uma das atrizes portuguesas selecionadas para fazer parte do elenco do filme internacional Streaming, de João Paulo Simões. O que nos pode revelar acerca deste desafio?
– Não posso adiantar muito mais para além de que o filme vai abordar «a construção de memórias na era digital» e fazer-nos questionar a nossa relação atual com a internet, terá um terror mais explícito e irá explorar medos primordiais. Será um desafio para o qual espero estar à altura, mas estou entusiasmada por ter a hipótese de fazer algo diferente do que fiz até agora.
– A sua estreia definitiva em Portugal aconteceu na série A Vida Também é Isto [SIC Radical], na qual dá vida a Carolina. O que me diz deste projeto?
– A série é um fake reality show e, como tal, a liberdade é muito maior. Ao contrário do que acontece normalmente, não se pretendia colocação de voz, nem dicção perfeita do guião, para que tudo fosse o mais natural possível. Algumas das cenas foram filmadas com um quase total improviso da parte dos atores, o que foi um desafio, mas também uma experiência recompensante. A Carolina é uma personagem interessante que fomos construindo ao longo das filmagens; no início demonstra-se uma rapariga moderna, independente e um pouco irreverente (foi expulsa da faculdade), mas com o avançar da trama revela o seu lado mais obscuro com uma pitada de loucura e obsessão. Foi um projeto positivo e uma muito boa experiência.
– Se esta série fosse transmitida na SIC (generalista) e, consequentemente, chegasse a mais pessoas, acha que seria um sucesso de audiências?
– É provável, na página oficial do Facebook vejo críticas positivas de espectadores que seguiram os episódios. Apesar de ser uma série jovial que se adapta bem à SIC Radical, este é um canal cabo, ao qual nem todos têm acesso, já a SIC é um canal nacional e tem um outro peso.
– Em 2010 fez uma curta participação na novela Meu Amor [TVI], no papel de uma jornalista. Foi uma boa experiência?
– Nessa altura tinha terminado um workshop de representação para televisão com a duração de alguns meses e poder ter a experiência de participar numa novela era um desejo que se concretizou. Infelizmente, foi uma participação pequena, algumas cenas e com apenas uma fala, mas deixou o gostinho, a vontade de fazer mais e de voltar um dia.
– Talvez com receio de arriscar, as estações generalistas apostam quase sempre nos mesmos rostos para os seus produtos de ficção. Haverá espaço para novos talentos na televisão portuguesa?
– Quero acreditar que sim. Sei que há muitos atores talentosos em Portugal que se encontram na mesma posição que eu, à espera de uma oportunidade, mas há sempre a esperança que um dia essa oportunidade surja e, aí, estaremos preparados para a agarrar.
– Se recebesse agora um convite para ser a protagonista da próxima trama do horário nobre (RTP1, SIC ou TVI), aceitava?
– Claro, aceitaria com grande prazer.
– Costuma acompanhar novelas como Bem-vindos a Beirais, Sol de Inverno ou Belmonte?
– A ideia que tenho é que as novelas portuguesas estão cada vez mais a ter um nível de excelência elevado e o resultado disso está evidente nas sondagens. Fico feliz por ver novelas nacionais de alta qualidade.
– E como avalia o atual panorama televisivo em Portugal? O que mudaria na televisão nacional?
– Conforme referi anteriormente, hoje em dia é notória a evolução da produção nacional, contudo, a meu ver, e não querendo puxar a brasa à minha sardinha, acho que deveria haver uma maior preocupação em arriscar em novos rostos. Sei que é bom jogar pelo seguro, usar uma fórmula que se demonstra efetiva; apostar em atores que já estão no coração dos portugueses; mas penso que por vezes os espectadores precisam de uma lufada de ar fresco, de ver caras novas e novos talentos. Nesse sentido, considero ser igualmente importante reconhecerem o nível de formação dos atores em Portugal, e não cingir o processo de seleção a outros fatores.
– Para terminar: desejos para 2014?
– Continuar a acreditar, ter sempre fé e esperança, mas não esperar que as oportunidades caiam do céu, lutar para que quando a oportunidade que tanto anseio apareça, esteja preparada para a agarrar. Como foi abordado numa das questões acima, fui aceite para ingressar num outro curso de representação em Los Angeles, vou aproveitar para aprender mais sobre a arte de representar e agarrar as oportunidades que possam surgir por lá. Regressarei depois a Portugal, sempre disponível e com vontade de lutar por uma carreira neste país que levo no coração. Se quiserem seguir o meu progresso nesta área, podem fazê-lo através do site www.inesfaria.com onde serão colocadas as novidades da minha carreira e onde podem assistir ao meu reel e a alguns dos trabalhos já realizados.
– E assim terminamos, Inês. Obrigado por ter partilhado connosco alguns momentos da sua carreira. Desejo-lhe tudo de bom para esta nova fase em Los Angeles e que 2014 seja recheado de sucessos!
«Quero agradecer pela entrevista e congratular-vos pelo vosso excelente trabalho»
https://www.youtube.com/watch?v=-rxFPIKIxP0