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A Entrevista – Sofia Escobar

David Soldado
18 min leitura

Sofia Escobar realizou um sonho antigo: integrar o elenco fixo de uma novela portuguesa. Já havia participado na série Morangos com Açúcar, em 2010, mas foi em Ouro Verde que saiu da sua zona de conforto. Tem sido uma aventura «difícil» porém a aprendizagem diária permite encará-la com um sorriso. As audiências, a polémica em bastidores, a experiência no Got Talent Portugal (que gostava de repetir) e o sucesso no estrangeiro foram outros dos assuntos abordados em entrevista ao site A Televisão

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Estar numa novela portuguesa era um objetivo já antigo da Sofia que, nos últimos anos, fez carreira no estrangeiro. Foram as saudades que disseram o “sim” ao convite de José Eduardo Moniz?

As saudades ajudaram mas, acima de tudo, já tinha uma vontade muito forte de estar em Portugal, de trabalhar em português e também de voltar às minhas raízes como atriz. Comecei com teatro, depois com a música e mais tarde juntei as duas. A minha vida tem andado sempre com as duas coisas de mãos dadas. A vontade de trabalhar em televisão já era muita apesar do processo ser muito diferente do trabalho em teatro.

Mas, estando longe da realidade portuguesa, como é que surge uma proposta? Foi a Sofia a chegar-se à frente com essa vontade que fala ou o convite surgiu de forma natural?

Essa vontade de fazer uma série ou uma telenovela já tinha sido demonstrada várias vezes. Surgiu um casting para fazer Ouro Verde, correu bem e fiquei com o papel [risos] Felizmente, tem sido uma experiência fantástica.

A Inês Santiago é uma personagem secundária que, aos poucos, envolve-se em vários enredos. É o próprio ator que dá a complexidade à personagem ou é o guião?

A complexidade já vem do guião mas o ator dá sempre um outro toque à personagem. É o chamado toque pessoal. Nós trazemos coisas nossas, damos ideias e às vezes mudamos coisinhas no texto de forma a que a representação saia mais naturalmente.

A Inês é a chamada pessoa zen. É professora de yoga, acredita nas energias e é, desde que se conhece, vegana. Existe elo de ligação entre a personagem e a própria Sofia?

Eu não sou professora de yoga mas pratico. Não sou vegana mas tenho várias coisas em comum com ela. As coisas da energia, por exemplo. A Inês é uma mulher de muita força e com uma vida de luta. Não tem sido fácil mas continua a acreditar e isso tenho em comum com ela [risos].

Esta novela aborda alguns temas sensíveis como as questões ambientais e a questão de ser vegano. Tem alguma opinião sobre estes assuntos?

Ouro Verde tem tocado em temas sensíveis e que estão na nossa sociedade atual. Esta novela foge, por exemplo, ao estereótipo do vilão e do bonzinho e essa questão não é tão simples assim e tão delineada. Tivemos o Pezão [João Craveiro] que tinha um filho. De repente, vimos o outro lado da personagem. A ficção aproxima-se cada vez mais da realidade. Eu respeito todos os estilos de vida das pessoas até porque cada uma sabe de si mas não me vejo a adotar o estilo de vida da Inês. Não me consigo imaginar sem o nosso bacalhau ou uma série de coisas das quais gosto imenso [risos].

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Tem contracenado, sobretudo, com crianças. Elas têm dado muito trabalho?

Portam-se muito bem e às vezes melhor que alguns adultos [risos]. Eles são muito profissionais. Adoro crianças e tem sido muito bom trabalhar com elas apesar do enredo ser difícil de lidar. O texto trouxe uma responsabilidade acrescida porque temos de respeitar as pessoas que estão diariamente a passar por situações idênticas [a filha de Inês sofre cancro]. e não fazer uma caricatura de algo tão séria. Tem custado muito porque tenho vivido de uma forma muito intensa e o facto de ser mãe dá uma profundidade maior às coisas.

As emoções estão sempre à flor da pele, portanto. 

Exatamente. Tem sido muito complicado gerir essas emoções mas estou a aprender. Não é difícil entrar nessa exigência de emoção mas sim sair quando despimos a personagem ao final do dia de gravações. Tenho de investir um bocadinho mais na técnica de forma a poder desligar mais facilmente. Houve um dia em que acabei as gravações, fui para casa e continuei a chorar. Levantei-me imensas vezes durante a noite para ir ver o meu filho e dar-lhe muitos beijinhos.

É mais entusiasmante estar num projeto que tem reunido, em média, a preferência  dos portugueses?

É bom para todos nós porque sentimos que estamos a fazer um bom trabalho, que as coisas estão a correr bem e que o público está a apaixonar-se pela novela da mesma forma como nós – elenco – nos apaixonámos desde o início dos trabalhos.

Mas a responsabilidade também aumenta…

Claro. As audiências aumentam a responsabilidade porque temos de corresponder às expetativas das pessoas e continuar a fazer com que o público mantenha-se connosco. Isso é muito fácil de mudar [risos].

Na sua opinião, o que é que está a fazer com que os portugueses vejam Ouro Verde de episódio em episódio?

É um conjunto de fatores. O texto está muito bem escrito e não é repetitivo. Eu leio os guiões como se fossem um romance. Depois, a novela aborda uma série de temas com os quais as pessoas se identificam.

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Vive-se, portanto, um ambiente de festa nos bastidores?

Sem dúvida…

A imprensa avançou com a vontade de Joana de Verona em sair da novela após o escândalo mediático que proporcionou-se em fevereiro passado [carregue aqui]. Isso não abalou o bom ambiente? 

Eu não sei até que ponto isso é verdade ou não. Pessoalmente, não tenho sentido nada de diferente. As pessoas continuam a fazer o seu trabalho da mesma forma possível e com todo o profissionalismo. Não tenho sentido mau-clima nos bastidores. Eu tenho uma política muito parecida à da Inês [personagem], isto é, não me meto na vida dos outros tal como não gosto que se metam na minha. A única coisa que posso dizer é que tenho sentido tudo exatamente igual. O bom ambiente e a boa energia mantêm-se iguais.

As técnicas de palco, que está mais habituada, são muito diferentes das de televisão. Como é que está a ser a adaptação a uma outra realidade?

Não teria sido tão simples se não tivesse ajuda. É importante essa ajuda para adquirir, primeiro, uma auto-confiança. Foi necessário sentir que sou capaz. No teatro, nós temos um mês e meio de ensaios, trabalha-se diariamente, a pesquisa é muito forte e recebe-se logo o feedback das pessoas. Eu sou a minha pior crítica [risos]. Gosto de ver-me para perceber os meus erros. Gosto de aprender com os outros atores que já têm uma grande experiência na representação. Eu tiro o máximo partido disso em Ouro Verde e isso é aliciante para mim.

Dizia na apresentação de Ouro Verde que estava «assustada» por fazer algo «diferente daquilo que estou habituada a fazer». O sentimento continua ou os medos já desapareceram? 

Há sempre uma percentagem desse receio mas o que tento fazer é transformá-lo em algo que seja positivo. Este medo não pode ser um obstáculo e há que fazer esse exercício.

Este regresso à TVI é o início de uma carreira em televisão? Até agora, a série Morangos com Açúcar [2010] tinha sido o único projeto televisivo.

Pode ser, quem sabe. Não fecho as portas a uma carreira em televisão. Como já tinha dito, eu gosto muito do meu país e de trabalhar em português. Vejo cada vez mais qualidade nos projetos em Portugal e isso é algo que faz também ter a vontade de dar o meu contributo.

Nota diferenças na forma de fazer ficção em Portugal? Afinal, já passaram sete anos desde o seu último projeto televisivo

Sem dúvida alguma. Aliás, sete anos é…muito tempo [risos]. Sinto uma grande diferença também no reconhecimento por parte das pessoas que valorizam agora aquilo que nós – portugueses – fazemos. Há 10 anos, valorizávamos muito a ficção brasileira e hoje estamos já a equilibrar a balança.

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Em 2015, a Sofia assumiu a função de jurada do Got Talent Portugal onde avaliava o talento português. Agora, os papéis inverteram-se. Como é que tem sido o feedback?

O feedback tem sido muito bom, felizmente. As pessoas abordam-me muito e tenho recebido imensos elogios. É bom sentir que estou a fazer um excelente trabalho e essa abordagem diária dá-me mais força para fazer ainda melhor. Mas há uma coisa: eu nunca sinto que o dever está cumprido. As pessoas consideram que estou a fazer um bom trabalho, logo tenho de provar no dia a seguir que continuo a merecer esse reconhecimento.

Guarda boas recordações do Got Talent Portugal

Tenho tantas memórias boas para recordar. Gostei imenso de fazer parte do programa da RTP 1. Foi muito giro ver a quantidade de talentos que o nosso país tem em várias áreas de espetáculo. Esta experiência permitiu, sobretudo, conhecer pessoas que começaram a acreditar nelas próprias e a aperceber que se calhar tinham um futuro nas artes.

O mais difícil foi dizer «não» aos concorrentes? 

Eu tentei sempre ter muita sensibilidade porque passei a minha vida no outro lado. Eu sei muito bem o que um «não» implica. Os medos e a quantidade de stress são grandes! Para muitos havia a sensação de que o «não» era o fim de tudo, mas não é! Nada está perdido, pelo contrário. Admiro muito aquelas pessoas que batalham ainda mais após muitos «nãos».

A participação na novela da TVI impedia o seu envolvimento nesta nova edição do Got Talent?

Provavelmente sim. Não fui convidada este ano e imagino que tenha sido por estar a gravar a novela. Para mim havia espaço de manobra para conciliar os dois projetos até porque gostava de repetir a experiência. Gostei imenso e guardo só boas recordações.

A edição 2017 terá, a partir das galas em direto, um diferente jurado todas as semanas. Diz não a um eventual convite?

Quem sabe. Pode ser que apareça lá [risos].

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Nos últimos dois anos, teve a oportunidade de integrar o entretenimento e a ficção televisiva. Pergunto-lhe, por isso, que opinião tem acerca da nossa televisão?

Vê-se cada vez mais qualidade na nossa televisão e isso é muito aliciante.

A Sofia já ganhou vários prémios como a de Melhor Atriz do Teatro Musical, em Inglaterra, e o de Revelação, entregue pela Fundação Luso-brasileira. Que importância dá a este reconhecimento?

É como um sonho [risos]. Eu olho para os prémios e pergunto-me “Sou mesmo eu?”. Este reconhecimento tem um papel importante porque ajuda-nos nos momentos mais frágeis e em que duvidamos de nós próprios. Estes prémios fazem-nos pensar “Não! Nós conseguimos tudo. Temos de lutar! O dia de hoje é menos bom mas amanhã será outro dia”. Há que tentar ter esse género de atitude sempre.

Desistir já foi uma hipótese?

Já quis desistir de ser atriz muitas vezes porque é um mundo muito difícil e instável. Hoje podemos ser o universo e amanhã já ninguém se lembra de nós. É importante ter uma auto-confiança e não deixar que os momentos de glória nos subam à cabeça. Já nos momentos em que estamos em baixo, temos de continuar a acreditar em nós. Sinto-me mais forte nesse aspeto. O facto de ser mãe ajuda também a pôr as coisas em perspectiva. Ou seja, aquilo que era um problema há anos, se calhar, já não tem o mesmo peso de hoje. Os problemas de agora são outros.

O público português passou a vê-la de outra forma depois de tantos prémios conquistados no estrangeiro? 

Os portugueses deram-me um valor diferente depois de saberem que tinha conseguido estes prémios. Foi muito bonito sentir o orgulho das pessoas e esse reconhecimento trouxe um outro papel. Mostrei às pessoas que querem seguir uma carreira no teatro que é possível concretizar os nossos sonhos. É difícil mas não é impossível. Lembro-me de pensar “Oh meu deus, eu sou só uma miúda de Guimarães. Como é que vou chegar longe?”. Não basta chegar até um certo ponto, é preciso manter-nos aí ou, de preferência, subir. O maior conselho que posso dar é que invistam, sobretudo, na formação.

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Para além da novela, que outros projetos é que está envolvida?

Neste momento, estou a tentar desenvolver o meu projeto de CD. Tenho originais, alguns covers mas ainda está tudo numa fase muito inicial. É uma coisa que tenho vontade de fazer há muito tempo porque sinto que a minha voz está no ponto certo para gravar.

Um contrato de exclusividade faz sentido na sua vida?

Não é um objetivo mas sim uma coisa que surgindo tinha de ser analisada e pensada. Para mim já é um privilégio continuar a trabalhar naquilo que gosto e da qual trabalhei a vida inteira. Tenho noção que há muita gente sem esse privilégio e, por isso, só tenho que estar muito grata por isso.

Sente-se mais realizada a representar ou a cantar? 

A representação e a música são dois bicinhos que andam sempre comigo de mãos dadas. Quando estou a trabalhar em música, sinto falta da representação. Quanto estou nos palcos, a música faz-me falta. Não consigo separar porque são duas grandes paixões da minha vida! Sinto-me mesmo privilegiada por conseguir trabalhar nas duas áreas.

Hoje em dia, e tendo já uma carreira além-fronteiras, o que é a desafia mais?

[risos]. Uma pergunta difícil. Hoje em dia, sinto que já posso escolher os projetos. Tento sempre olhar para as ofertas que me são feitas de uma forma muito objetiva, ou seja, tenho de pensar se é bom para a minha carreira e se consigo fazer um bom trabalho. Disse «sim» à novela Ouro Verde porque trata-se de uma personagem com que me identifico. Gostei que não fosse uma cantora ou nada ligado à música porque isso seria muito previsível! Eu gostava, por exemplo, de fazer uma vilã embora isso seja difícil com o meu perfil [risos]. Ao mesmo tempo, seria interessante haver uma vilã com ar de boazinha. Podia ser giro e ia dar, certamente, uma dimensão diferente do habitual à personagem.

A sua vida daria mais depressa uma novela ou um musical?

Um musical, sem duvida! [risos].

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Redactor.