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A Entrevista – Maria Vieira

Diana Casanova
16 min leitura
Imagem: Maria Vieira

Com uma carreira de 35 anos, Maria Vieira é uma das atrizes que mais risos provocou ao público português. Desde o cinema, ao teatro, à televisão, Maria Vieira já integrou projetos nas mais variadas áreas e não se ficou pela comédia. Nos últimos anos tem apostado no mercado da teledramaturgia brasileira, tendo participado em duas telenovelas da Rede Globo e, agora, encontra-se a gravar Brasil A Bordo, uma série da autoria de Miguel Falabella. Foi este o pretexto para esta conversa, mas esta rapidamente passou para temas mais genéricos acerca da televisão portuguesa e brasileira, assim como o futuro. 

Leia, em seguida, A Entrevista a Maria Vieira.


Desde Aquele Beijo (2011/2012), o seu último projeto no Brasil, e estando já há alguns meses de regresso ao país, o que mudou na Globo neste período?

Maria Vieira – Confesso que não notei diferenças. A TV Globo continua a apostar na qualidade dos seus produtos televisivos e na excelente ficção nacional que caracteriza a sua grelha, continua a ser simultaneamente exigente e generosa com os seus colaboradores e a premiar o mérito dos mesmos, continua a manter e a contratar os melhores profissionais do mercado, sejam eles actores, apresentadores, realizadores ou produtores e em última análise continua alcançando os seus objectivos: liderar destacadamente o mercado televisivo brasileiro. E é assim que a Rede Globo continua sendo a segunda maior estação de televisão do mundo.

A Maria está atualmente a gravar Brasil a Bordo, uma nova série da TV Globo. O que nos pode revelar sobre o projeto e a sua personagem?

Brasil A Bordo é uma série de humor com a assinatura do Miguel Falabella e a direcção de Cininha de Paula e Cris D’Amatto. Trata-se de um seriado onde se contam as aventuras e desventuras de uma companhia aérea falida – a «Piorá Linhas Aéreas» – cujo slogan é: «Prefere ir de Ônibus»? A minha personagem é uma hospedeira portuguesa, natural de Charneca do Alto, muito «brava» (como se diz aqui no Brasil) algo conservadora e sobretudo muito divertida.

Já existe previsão para a estreia no Brasil?

Ainda não existem datas definidas para a estreia da série mas será seguramente transmitida durante o primeiro semestre de 2017.

Está a contracenar com alguns dos mais consagrados nomes da teledramaturgia brasileira. Como tem sido a experiência de trabalhar com Arlete Salles, Luis Gustavo, Ney Latorraca e com o seu grande amigo, Miguel Falabella?

Curiosamente é a primeira vez que contraceno com o Miguel, exceptuando a ocasião em que nos conhecemos, em Portugal, e contracenámos juntos num pequeno apontamento do excelente e memorável “Credo” – um momento de humor inserido no «Herman SIC». Contracenar com o Miguel era um dos meus maiores desejos e finalmente concretizei esse anseio neste maravilhoso presente que ele resolveu me oferecer. Com o Ney já tinha trabalhado em 2008/2009, na primeira novela que fiz no Brasil – Negócio da China – e quanto à Arlete Salles e ao Luis Gustavo, que são duas das maiores e mais prestigiadas figuras da TV Globo, só posso dizer que tem sido uma delícia e sobretudo um enorme privilégio poder partilhar o set de gravações com dois actores absolutamente geniais que me habituei a ver e a admirar na TV ao longo dos anos e com os quais jamais imaginei vir um dia a contracenar. Mas a vida é uma caixinha de surpresas e agora, para além de estar a trabalhar com dois actores extraordinários e com dois colegas maravilhosos, ganhei também dois bons e generosos amigos.

Fale-nos um pouco dessa amizade. A Maria tem sido presença constante nos projetos da autoria de Miguel Falabella… Qual é o segredo para esta parceria tão bem sucedida?

Nós conhecemo-nos e trabalhámos juntos em dois mil e qualquer coisa, quando ele foi convidado do Herman, no Herman SIC, como já referi, e aí nasceu essa empatia e essa amizade entre nós dois, mas foi do apreço e da admiração que ele manifestou pelo meu trabalho que surgiu o primeiro convite para integrar uma novela (Negócio da China) da sua autoria e depois uma segunda novela (Aquele Beijo) e agora este seriado (Brasil a Bordo) que estou a gravar actualmente. O Miguel é muito amigo do seu amigo e gosta (como todos os autores) de trabalhar com amigos, mas naturalmente ele privilegia o mérito e o talento daqueles que reúne nos seus projectos e, felizmente, para mim, ele acha que eu possuo um pouco dessas duas qualidades e continua, para meu regozijo, apostando nas mesmas. E de resto, tenho também a enorme felicidade de ver o meu trabalho reconhecido e apreciado pela directoria da Globo pois sem essa aprovação fundamental não é possível, de todo, fazer parte desta grande e prestigiada estação de televisão.

A Maria diz que já se sente em casa no Brasil. É muito abordada na rua? Como é a reação das pessoas?

O Brasil é, definitivamente, o meu país adoptivo. Adoro viver no Rio de Janeiro e gosto muito do povo brasileiro que me acarinha desde o primeiro dia que me viu na «telinha». Já não trabalhava aqui desde 2012 mas ainda assim muita gente me continua a abordar na rua, na praia, nos restaurantes ou nos centros comerciais para me elogiar, para me incentivar e para manifestar o seu contentamento pelo meu regresso ao Brasil e à Globo. É também e sobretudo por isso que amo este país e que tenho uma enorme gratidão para com este povo alegre e generoso que sempre me tratou como se aqui eu tivesse nascido.

Disse há uns tempos que «os brasileiros não têm memória curta, aclamam muito os seus atores». Sentia-se pouco valorizada em Portugal?

Eu já levo 35 anos de carreira e durante todo esse tempo, desde o dia da minha estreia no ex-Teatro Adóque, sempre fui muito acarinhada, admirada e aplaudida pelo povo português e nesse sentido não tenho razão de queixa do meu país nem do povo que me viu nascer, mas aqui no Brasil vive-se de uma forma mais intensa, mais aberta, mais entusiasta e confesso que apesar de conhecer meio mundo, nunca vi ninguém capaz de demonstrar tanto carinho, tanta admiração e tanto respeito pelos seus actores e pelos seus artistas em geral, como os brasileiros. Terá sido seguramente por reconhecer isso mesmo e por fazer questão de dizer aquilo que penso, que terei proferido essa frase que menciona.

A que acha que se deve este «esquecimento» dos atores? São as produtoras, os canais, o público…?

Os bons e grandes actores portugueses jamais serão esquecidos e seguirão eternizados na memória do povo e na história do teatro e da televisão nacionais. O talento e o mérito resistem a todas as borrachas do esquecimento… No meu caso pessoal não tenho razão de queixa pois, felizmente, nunca me faltou trabalho no meu país, mas também acredito que é importante experimentar outros mercados, sobretudo porque o mercado português é muito limitado e pouco abrangente…

Mas não sente saudades de Portugal?

Vivemos num mundo global, servidos por uma tecnologia que nos permite encurtar distâncias e contactar os entes queridos com relativa facilidade, por isso as saudades, nos tempos que correm, são dissipadas de uma forma mais tranquila. Eu considero-me uma cidadã do mundo e vivo feliz e confortável em qualquer lugar que me seja querido e, no caso do Rio de Janeiro, confesso que me sinto como se estivesse em casa.

Com uma carreira de várias décadas, ninguém melhor do que a Maria para nos explicar quais são as principais diferenças entre a ficção brasileira e a portuguesa?

As diferenças têm sobretudo a ver com a experiência e com os meios financeiros que a Globo ou a Record têm e que as estações de televisão portuguesas têm menos… Em termos de capital humano, no que diz respeito por exemplo à qualidade e ao talento dos autores, dos actores e dos produtores, creio que actualmente evoluímos em patamares mais ou menos idênticos.

Diz-se muito que a ficção portuguesa está cada vez melhor. Concorda?

Faz-se cada vez mais ficção portuguesa e, consequentemente, estamos no bom caminho para fazer cada vez melhor.

Recentemente protagonizou a série Mulheres Assim, para a RTP. Fale-nos um pouco desse projeto.

Mulheres Assim foi um projecto que me deu um enorme prazer, onde tive oportunidade de fazer um registo completamente diferente daquilo que normalmente faço em televisão; foi um projecto que veio no seguimento de uma outra excelente série da qual fiz parte – Os Filhos do Rock – do Pedro Varela; foi um projecto onde eu tive a oportunidade de trabalhar com um grupo de actores com quem nunca tinha trabalhado e, nesta altura da minha carreira, acho que é importante diversificar e apostar neste tipo de trabalho e neste registo onde eu também me sinto muito realizada, muito confortável e muito feliz.

Acha que a aposta da RTP nas séries em detrimento das novelas é o «futuro» da televisão portuguesa?

A aposta da RTP neste género ficcional é uma aposta corajosa e inteligente e é, quanto a mim, o género para o qual a RTP, como estação de televisão pública, deve estar vocacionada. Basta olhar para a ficção que se produz e consome em países como os EUA, a Inglaterra, a Espanha ou a França para se verificar que a preferência do público assenta cada vez mais em séries de qualidade que vêm conquistando uma assistência mais jovem, mais informada e sobretudo mais exigente. Até aqui na Globo, onde se continuam a produzir as melhores novelas do mundo, há uma maior preocupação em apostar em seriados de qualidade por forma a conquistar um auditório que tende a aumentar.

A verdade é que as audiências das séries que a RTP tem exibido estão bastante abaixo da concorrência. A que acha que se deve isso?

Com o tempo, com a experiência e com o investimento em boas histórias e em bons actores far-se-á cada vez mais e melhor ficção em Portugal que, por sua vez, irá conquistar um maior número de espectadores para esse género televisivo e para as estações que nele apostarem. E de resto, acho que a RTP, no exercício da sua função de serviço público de televisão, não tem que se preocupar tanto com as audiências, mas mais com a qualidade, a diversidade e a alternativa face àquilo que as estações privadas oferecem.

A Maria utiliza muitas vezes a sua página de Facebook para expressar as suas opiniões, algumas delas relacionadas com a televisão portuguesa. Se tivesse de eleger 3 programas da tv portuguesa, como sendo de excelência, quais escolheria e porquê?

Estou ausente de Portugal desde Agosto e confesso que não estou a par do que se vai passando na televisão portuguesa, por isso não me sinto habilitada para responder a essas perguntas sobre os melhores e os piores programas que por aí se exibem. Acredito que (por nela ter participado) a série Mulheres Assim esteja, do meu ponto de vista, entre os programas mais interessantes, acredito também que as restantes séries da RTP tenham a qualidade que delas se espera, saúdo de bom grado o regresso do Herman José aos Talk-Shows e ao bom humor que neles sempre injecta e espero sinceramente que a era dos Reality-Shows seja bem mais curta do que a era dos dinossauros!

A televisão acaba por ser o reflexo da cultura do país, mas é também a base da cultura do país. Concorda?

Creio que a televisão é uma espécie de janela por onde se assiste à realidade e à identidade cultural de uma nação, sobre isso não me restam muitas dúvidas.

E para o futuro, tem novos projetos? Há a possibilidade da série continuar ou pretende regressar a Portugal?

Para já estou concentrada nas gravações de Brasil A Bordo que se irão estender até ao final deste ano. Irei por isso passar um Natal e um Réveillon tropicais aqui no Rio de Janeiro e posteriormente regressarei a Portugal para estar com a família e com os amigos. Depois irei aguardar pelo desenrolar dos acontecimentos. É óbvio que, caso haja uma segunda temporada de Brasil a Bordo terei que regressar ao Brasil, mas entretanto, e uma vez de volta ao meu país, aceitarei os convites que me endereçarem e interessarem, como sempre tenho feito ao longo destes meus gloriosos 35 anos de carreira.


Redatora e cronista