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A Entrevista РJos̩ Carlos Malato

A Televisão
14 min leitura

Destaque Malato A Entrevista - José Carlos Malato

Agora, que abandonou o Portugal no Coração, José Carlos Malato passou a integrar a direção de Programas da RTP, trabalhando ao lado de Hugo Andrade. Um papel que lhe deixa mais tempo para criar. «Após o enfarte, o Hugo puxou-me para a direção de Programas, onde eu fiquei com ele a fazer eventos. Está a ser bom», conta, explicando como se deu esta mudança de vida: «Deixei de fumar, deixei de fazer muita coisa. É muito provável que me decida por fazer um bypass gástrico e resolver de vez esta questão do sobrepeso». Cerca de nove meses depois de ter sido operado de urgência ao coração, o apresentador poderá passar por nova cirurgia, desta vez ao estômago. Entrevista na segunda pessoa porque entre o pessoal da comunicação é assim.

Malato, o teu Verão está a ser Total?

Tem sido mais ou menos total. Gosto de calor, mas não muito. Não vou muito à praia, quer dizer, este ano já tive férias… Aproveitei o Há Volta e fui até Espanha, onde estive dez dias de férias e foi bom porque apanhei um bocadinho de praia. Mas de facto eu não gosto muito do verão, sou mais outono e primavera (e mesmo até inverno). Mas no Verão Total tem sido total, sim.

O Verão Total dura o dia inteiro. É muito cansativo fazer um direto de tantas horas?

Cansativo é, porque são seis horas de emissão. E depois eu também já tenho uma história grande de fazer este tipo de coisas, não só na rádio (eu já fazia isto na RFM, na Rádio Comercial, na Antena 3) e em televisão também já fiz muitas vezes. E, portanto, chega a uma determinada altura em que é um bocadinho desconfortável, porque é preciso ter muita energia e eu agora depois do enfarte tenho que ter aqui mais alguns cuidados. E também em termos de conteúdos não é propriamente o meu programa de eleição. Mas nós temos que trabalhar e nem sempre podemos fazer o que mais gostamos, ou só o que gostamos. Tirando isso (essas contigências), é agradável, porque estamos com as pessoas, ao ar livre… Mas de qualquer forma, seis horas é puxadinho.

Gostas de trabalhar com a Coral Europa, a produtora do programa?

Eles são espectaculares, em termos da forma como nos tratam, em tudo. São de facto extraordinários. Eu estou a gostar imenso de trabalhar com eles. Nunca tinha trabalhado com a Coral em si, mas com algumas pessoas, sim. Por exemplo, o Moura, que é o editor do programa, já tinha trabalhado com ele no Sexta à Noite, e é um tipo que eu conheço há muitos anos. É muito simpático trabalhar com eles.

Não achas que há um excesso de programas populares nas generalistas?

Por um lado, é um desafio. O Natal todos os anos é Natal, não é? E todos os anos, de alguma maneira, isso é notícia. O que tu tens que fazer é reinventar o Natal, dar-lhe uma perspetiva diferente, fazer o tratamento disso de uma outra maneira. E quer dizer, o país vai mudando – muito mais do que muda se calhar o Natal ou outras efemérides. O Carnaval a gente já sabe que vai ao Rio de Janeiro, o fim de ano já se sabe que começa o fogo de artifício (começa na Austrália, depois vamos à Madeira…). Ou seja, tudo isso se faz sempre, o que é preciso é saber pegar nisso de outra maneira, se bem que este tipo de programas é uma coisa que existe desde os anos 80. Não estamos a descobrir pólvora nem fazer nenhum programa excecional, mas hoje em dia há muitas condicionantes. E pronto, é o que há e é o que toda a gente está a fazer. Eu acho que é fácil, é barato e dá milhões.

É difícil resistir às tentações gastronómicas nacionais?

Pois, agora é difícil resistir, não é? Deixei de fumar, deixei de fazer muita coisa. Depois do enfarte, mudei muito a minha vida. Eu tinha feito uma dieta grande antes, e depois deixei a dieta, deixei de fumar e isso refletiu-se muito porque engordei bastante. Mas estou a pensar agora e tenho mesmo que fazer, por indicação médica, um tipo de intervenção e é muito provável que me decida por fazer um bypass gástrico e resolver de vez esta questão do sobrepeso, que é muito prejudicial nesta altura para mim – isso aliado ao calor e tudo… Quer dizer, é uma bomba-relógio e eu tenho que me cuidar.

Na altura do enfarte sentiste muito o carinho do público?

Senti muito e estou a sentir agora! As pessoas falam imenso e continuam a dar-me muito apoio. É ótimo, e eu tenho muito isso, porque as pessoas identificam-se muito comigo. Tenho os mesmos problemas que elas. Sou um tipo muito tangível, muito «apalpável».

Foste indicado para apresentar o Quem Quer Ser Milionário, mas a seleção recaiu sobre Manuela Moura Guedes. Gostavas de ter sido escolhido para este formato?

Fiquei com pena. Na verdade, gostava de ter sido eu a apresentar e tive muita pena de não o fazer. Mas eu também compreendo a perspetiva do diretor de programas. Se eu fosse diretor de programas, e entre o Malato (que é um bocado déjà vu, porque já estou a apresentar concursos há um série de tempo, que é uma coisa previsível) e entre a Manuela Moura Guedes, eu não pensava duas vezes. Punha a Manuela Moura Guedes.

Como avalias a performance de Manuela Moura Guedes no Quem Quer Ser Milionário?

Eu falei com ela no princípio, percebia as dificuldades. Às vezes via um ou dois programas e dizia «Ah, tenho vontade de estar lá no ouvido dela para lhe dar uma dica ou outra». Mas hoje em dia acho que ela superou-se e está ótima. Sei que o programa vai continuar até mais para a frente e, portanto, eu em setembro ainda não apresentarei concursos, nem sei muito bem o que é que vai ser o meu futuro. Eu gostava muito que passasse pela apresentação de um novo concurso, mas provavelmente só para o próximo ano, se for o caso disso.

Entretanto, no início do ano, foste afastado das tardes da RTP por motivos de saúde.

Sim, sobretudo porque estava muito cansado (cansado depois do enfarte). Três horas por dia era muito complicado fazer. Há muitas coisas com que se lida depois do enfarte que as pessoas não imaginam, ninguém imagina. Há muita coisa bastante complicada. Mexe com tudo: ter que tomar nove comprimidos por dia, mexer na alimentação… Eu assustava-me quando o coração batia muito ou quando mudava. Enfim, um direto tem sempre um momento de stress. E os médicos aconselharam-me a ter uma vida o melhor possível. O Hugo Andrade percebeu isso e puxou-me mais para a direção de Programas, onde eu fiquei com ele a fazer eventos. Apresentei o Festival da Canção, as Marchas, vários eventos. E trabalhava também quando ele precisava, com ele diretamente (nos programas ou, enfim, no que fosse preciso).

E como é que está a ser essa aventura de trabalhar na direção de Programas da RTP?

Está a ser bom. O Hugo está de férias agora e eu também entrei no Verão Total logo no início; depois tive estas férias agora durante o Há Volta. Quando ele voltar em setembro, logo verei como é que vai ser o futuro, mas para já não sei absolutamente nada.

O Festival da Canção era um sonho de infância…

Já estão todos os sonhos. Gostava de fazer o Festival da Canção (que foi o último sonho) e era o Natal dos Hospitais (que comecei logo a apresentar muito cedo). Faltava-me o Festival da Canção e este ano consegui apresentar com a Sílvia Alberto. Foi muito, muito giro e foi muito, muito emocionante. Às vezes as pessoas dizem-me «Ah, não sei quê… Festival da Canção», mas eu acho muita piada e em termos profissionais foi um desafio. Foi muito engraçado puder estar com aquelas pessoas que gostam tanto do Festival. Tive pena de não puder ir com a Sílvia [a Copenhaga], ou de não ir em vez da Sílvia, mas o médico achou melhor assim. Também era melhor não entrar por aí e eu ainda não tinha andado de avião depois disto, porque muda muita coisa de facto na nossa vida. E é preciso ter aqui algum cuidado.

Festival sem polémicas não é festival. Este ano houve ali situações difíceis de gerir.

Ah, isso já passou. É sempre assim, toda a vida assim foi. Houve ali situações difíceis de gerir, porque as pessoas ficaram um bocadinho indignadas. A história do televoto é sempre complicada, mas é assim: as pessoas votaram (ou votou-se) e o que é facto é que foi aquela canção que ganhou [«Quero Ser Tua», de Suzy]. E foi, mas não foi classificada; também não sabemos se outras seriam, mas isso nós nunca chegaremos a saber.

Hoje, se tivesses um convite para uma televisão privada, aceitarias?

Hoje, não. Daqui a um ano e meio, sim, que é quando termina o meu contrato. Eu tenho contrato com a RTP até final de 2015 e, portanto, até aí eu assumo os meus compromissos.

Sentes falta de um novo desafio, de criar uma nova imagem num canal?

O que eu gostava sobretudo era de fazer coisas que eu gosto de fazer. Se me derem essa possibilidade, melhor; senão, tenho que ir fazendo o que vai aparecendo. Mas eu gosto de muitas coisas, não preciso de estar a aparecer. Gosto da edição dos programas, gosto de escrever (que foi também o que eu fiz toda a minha vida)…

Qual é o programa à medida do Malato?

Sem dúvida, concursos. Sejam eles mais tipo Quem Quer Ser Milionário ou outro tipo qualquer. Gosto muito da interação com as pessoas e de lidar com aqueles conteúdos. Sinto-me muito mais à vontade e é o formato que eu mais gosto.

E os concursos fazem parte do serviço público da RTP.

Claro que fazem. Agora, isso não quer dizer que eu tenha de fazer no canal um. Por exemplo, a RTP Internacional podia perfeitamente fazer um tipo passa a palavra ou um concurso sobre língua portuguesa. Acho que isso é muito serviço público, dependendo do slot de perguntas que fizeres. Podes, por exemplo, fazer perguntas de cultura geral. E muitas vezes é uma forma de pôr as pessoas a pensar em determinadas coisas, que na forma de concurso dá a sensação que é diferente. Sabes quantos corações tem um polvo? Tem três. A mim dava-me jeito ser um polvo, porque assim ainda tinha mais dois de reserva.

Tens esse jeito descontraído de fazer televisão. Eras capaz de dar a cara a um reality show?

Não sei, por acaso nunca pensei nisso. Nunca me vi a fazer, mas acho que era capaz de fazer uma coisa desse tipo. Não sei, enquanto estiver na RTP, se não acontecerá. Mas eu gosto de concursos. Ok, um reality show é também um concurso… Acho que talvez me pudesse adaptar a um registo desses, não sei.

1 A Entrevista - José Carlos Malato

eduardo.lopes@atelevisao.com

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