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A Entrevista – Isabel Medina

David Soldado
13 min leitura

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Apaixonada desde cedo pelo mundo da representação, tem desempenhado, ao longo dos últimos anos, um percurso irrepreensível como atriz e encedadora.  Em televisão, Isabel Medina integrou projetos de sucesso como A Lenda da Garça, Morangos com Açúcar, A Outra, Meu Amor ou Louco Amor. E foi numa entrevista exclusiva que falou apaixonadamente sobre o novo desafio na TVI: a sequela de Jardins Proibidos. «Acredito que seja uma novela que vá bater», rematou a atriz ao A Televisão.

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Embora não tenha integrado o elenco do original em 2000, a Isabel é uma das personagens da sequela de Jardins Proibidos. Como é que vê esta aposta da TVI de certo modo histórica?

Achei muita graça o José Eduardo Moniz pegar numa história que há 14 anos teve um impacto imenso porque acabou com aquela história que os brasileiros é que são bons e os portugueses não sabem fazer novelas; e o público começou a ver as nossas novelas a partir daí. Acho que é uma homenagem grande aos atores portugueses também, aos atores que entraram naquela novela e ao público porque foi assim que aderiu. E depois é muito engraçado porque nunca ninguém tinha feito isso que e pegar em personagens 14 anos depois, o que é que lhes aconteceu? O que é que aconteceu àquele casal que a gente vê felizes para sempre? As histórias acabam e foram felizes para sempre, aí é que começa a história, aí é que vamos ver se estão felizes e acho essa ideia muito interessante.

Portanto, as expectativas são as mais altas?

As expectativas estão muito em alta, mas é um ambiente daquele que estão todos muito felizes. Eu sinto aquela gente toda «vamos dar o máximo, mas o máximo com grande prazer».

Jardins Proibidos tem todos os ingredientes para fazer da novela o mesmo sucesso de há 14 anos atrás?

Acredito no sucesso, o mesmo sucesso não sei. Há muito mais concorrência agora que havia na altura, mas acredito que seja uma novela que vá bater [nos sentimentos dos portugueses].

Partilha da opinião daqueles que consideram as adaptações de novelas um retrocesso na ficção nacional?

Eu não acho que seja um retrocesso pegar em alguma coisa boa, ou seja, se for uma adaptação de uma novela ou série muito boa que teve êxito e que se prove também que aqui se adapte ao país e que há empatia com o país, acho bem. Se são realidades completamente diferentes da nossa, acho mal. Aí que se pegue numa coisa de raíz, de origem. Mas os dois últimos exemplos que tenho visto, são até projetos perfeitamente adaptadas cá e que portanto não me parece mal que se pegue numa boa ideia.

Perante esta estratégia da TVI, hoje em dia  assiste-se a uma falta de criatividade por parte dos «nossos» argumentistas?

Sobretudo acho que deviam variar mais os argumentistas, isto de escrever em raiz, porque o que sinto muito é que há muita gente a escrever, que há um desconhecimento às vezes de quem dirige as pessoas que escrevem porque confiam naqueles que foram um sucesso. Só que no Brasil – tive um ano na Globo há já alguns anos – uma das coisas chaves, um autor que acaba uma novela, vai ter um ano de descanso e é pago para isso, para descansar e pensar na próxima novela. E aqui não, eles saltam de novela para novela e não há cabeça, criatividade, nada que resista a isso. E o que acontece? Quando eles falham, põem um rótulo que falhou. Se fizeram uma coisa muito boa, acho que se devia pensar duas vezes: então se ele fez uma coisa muito boa e não parou, é obvio que vai errar. E dar oportunidades a outros que não as têm e que têm essa disponibilidade de terem estado a descansar para o fazer.

Estava ausente da ficção desde o término de Mundo ao Contrário. Que outros projetos é que se dedicou durante este último ano? 

Uma coisa que eu faço é escrever. Escrevo há muito tempo e agora não tenho tido muito tempo para escrever, estive a escrever, não acabei e vou esperar por um novo descanso, é uma disciplina que não dá para estar a escrever e a fazer várias coisas. Como eu estou a fazer teatro, o filme Virados do Avesso e a novela, é óbvio que o filme vai acabar em breve, é o mais rápido. A peça estreia em setembro, portanto, continuará, mas mesmo ficando apenas com a novela, não há aquela disponibilidade muito grande. Estive a escrever, estive a dar aulas porque também gosto de dar aulas na faculdade de dramaturgia é uma coisa que eu gosto de fazer e faço e tive também a encontrar-me que é o que eu faço sempre depois destes processos de novelas, deixa cá ver quem eu sou.

É difícil largar uma personagem?

A personagem do Mundo ao Contrário foi difícil porque não sei porquê, bateu-me muito aquela história de matar o filho que não era filho mesmo mas qualquer maneira emocionalmente a gente investe muito. Quando se investe na tragédia, fica um mau estar muito forte e eu senti mal depois mas foi aquele caso particular. Eu disse, tenho de estar um ano parada, agora não quero fazer nada.

A sua ausência no pequeno ecrã então partiu de si?

Foi decisão minha que transmiti ao meu agente no sentido de «olha, se for uma participação pequena tudo bem, mas se for para fazer uma coisa mais comprida, só daqui a um ano».

Foi desmotivante tomar conhecimento da estratégia da TVI em terminar Mundo ao Contrário devido às audiências alcançadas?

Mundo ao Contrário foi estranha a forma como foi tratada, não percebi, mas também não falei com ninguém da TVI para perguntar, podia ter tido oportunidade mas não tive. Foi uma novela que teve uma boa receção no episódio de estreia, passou logo para um horário impossível para as pessoas que tinham visto o primeiro episódio. Nós ficámos muito admirados porque não esperávamos que fossemos para um horário tão tarde. Depois foi-nos dito que era uma novela muito pesada.

Na sua ótica, o horário da novela teve uma justificação plausível?

Não achamos mais pesada que as outras novelas por estar mais encostada à realidade. Mas as pessoas gostam e as pessoas estavam a reagir à novela porque se reconheciam nela. As audiências de Mundo ao Contrário não reflectiram o número de pessoas que viram a novela. Eu senti isso na rua, na forma como falavam e eu perguntava «mas vocês à uma da manhã vêem?». As pessoas gravavam, era o que me respondiam. É o que eu faço. Eu gravo e depois eu vejo e isso não é contabilizado em termos de audiências. Tive muita pena porque conhecia a história e era uma história muito rica, nunca ia parar e tive muita pena que tivesse acabado assim porque as coisas resolveram-se muito apressadas e tinham, neste caso, as vezes não mas neste caso tinham um desenvolvimento muito bom e tinham outras coisas que iam virar a história, eu por exemplo não acabava assim.

Como atriz, que importância dá às audiências?

Com muita franqueza, já estive na RTP a dirigir o departamento da ficção da RTP, quando estive lá eu ligava às audiências porque era pedido que ligasse às audiências e obviamente tinha de programar de acordo com isso. Eu devo ser um bocadinho esquizofrénica, porque quando estou a representar, gosto tanto que não estou nada a pensar se as pessoas vão ou não ligar, eu estou a querer dar o meu melhor, estou a dar tudo aquela personagem portanto não estou a pensar nesses termos. Obviamente quando me dizem que está a ter boas audiências, isso é motivante e fico mais entusiasmada e fico feliz estar num projeto que está a ganhar. Mas eu considero o Mundo ao Contrário ganhador.

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Depois de muitos anos de hegemonia da ficção nacional, as novelas brasileiras voltaram a ter força, reunindo novamente a preferência dos portugueses. Como é que explica a mudança de hábitos dos portugueses?

As novelas brasileiras têm muito boas histórias. Além dos autores portugueses não descansarem, há uma espécie de fantasma na cabeça dos programadores que é o nosso público não quer nada que seja próximo dele, não quer ser agredido com a realidade. Isto não é verdade. Eu acho que eles não andam a falar com o público, eles andam a falar com aquela amostragem que eles tem que normalmente são os mesmos, variam um pouco. Eu falo com muita gente cá fora, as pessoas gostam das novelas brasileiras porquê? Porque tocam na realidade, agora esta com o tráfico de crianças [A Guerreira], não há ninguém que não fale. As pessoas querem ver as coisas discutidas.

José Eduardo Moniz fez várias alterações no guião de O Beijo do Escorpião porque quis aproximar a novela «mais à realidade portuguesa». Considera o seu regresso uma mais-valia?

Exatamente, eu considero o José Eduardo Moniz uma grande mais-valia. Eu digo uma coisa, eu sou antiga, eu sou do tempo em que o homem televisão era o Luís Andrade, e era uma pessoa excepcional que sabia de televisão como ninguém. Eu acho o José Eduardo Moniz, não é o discípulo de Luís Andrade porque começou de forma diferente como jornalista, etc, mas é o homem televisão deste momento.

Acha que o José Eduardo Moniz vai voltar a colocar a ficção portuguesa na preferência dos telespectadores?

Acho que sim, é homem para isso, tem inteligência para isso. Sabe o suficiente de televisão para isso, acho que pode ser uma alavanca forte. Assim o sigam e dêem também a oportunidade de o fazer, falo de economicamente também porque também não se pode com 10% de exteriores fazer uma novela. E o José Eduardo Moniz bate-se para que haja mais exteriores porque senão é claustrofóbico e as pessoas não gostam de ver. Portanto ele tem se batido com muita coisa e espero que ouvindo a ficção nacional dê novamente um salto. Porque realmente desde que saiu, nós sentimos todos, sentimos mesmo qualquer coisa a desagregar-se um bocadinho, embora a gente goste muito quem lá está, eu gosto pessoalmente das pessoas, são pessoas inteligentes mas o José Eduardo Moniz tem outra coisa.

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